quinta-feira, 5 de junho de 2025

Nem sem nem com - William Waack

O Estado de S. Paulo

Lula passa por um momento crucial para as eleições de 2026

Se ainda há estrategistas no que sobrou do antigo Estado-Maior do PT, o dilema é monumental. Não dá para encarar as próximas eleições sem Lula. E se avolumam evidências de que também não dá para encarar com ele.

A questão principal não são números de economia que possam se transformar em índices de popularidade. Ou consigam compensar o efeito negativo de escândalos de corrupção acompanhados de aumento de impostos.

A figura de Lula é a desse dilema provavelmente sem solução. Ele está sendo alcançado pelo que é inexorável na condição humana, visível para eleitores que tomam decisões muito mais a partir de percepções subjetivas diretas do que por “números”.

Mesmo segmentos do eleitorado até aqui “cativos” mudaram muito, basta ver o avanço dos evangélicos. E a distância de Lula para esses setores aumentou. Quando Lula passa a falar muito em Deus, soa desconexo.

Há outro problema, objetivo e direto, pelo qual Lula é o principal responsável. Ele não conseguiu firmar um “movimento de massas” ao qual pudesse designar um sucessor. Simplesmente não há no PT, que está longe de ser movimento de massas, qualquer quadro razoavelmente pronto para assumir seu lugar.

Fato agravado pela ausência de um legado a ser defendido e ou administrado. O nacional-desenvolvimentismo que poderia ser visto como “doutrina” do lulopetismo tem várias vertentes espalhadas pelo espectro político – inclusive em forças “de direita” que se opõem ferozmente a Lula. Idem para componentes políticos iliberais.

Também o famoso “gasto é vida”, a base da política fiscal, se amplia por gordas fatias do Centrão. Parte da sobrevivência de um governo medíocre como o de Lula se explica pela sua participação num “consórcio” gastador composto por um Legislativo sempre apreciador de benesses sociais e um Judiciário cujo corporativismo está fora de controles efetivos.

Renúncias fiscais (incluindo subsídios e regimes especiais de proteção) e expansão de gastos públicos são um consenso social no Brasil, do qual Lula é apenas uma das expressões. Em outras palavras, Lula não exibe mais apelos genuinamente próprios e passou a ser uma sombra de si mesmo ao tentar convencer o eleitor de que possui as chaves para um futuro melhor.

Seu governo notoriamente desarticulado é a consequência disso. Não se pode falar de “bate-cabeças” no Planalto, pois ali só existe uma, com uma capacidade decrescente de leitura dos fatos da realidade política – especialmente a perda de poder relativo do Executivo. E uma soberba igualmente dissociada da sua verdadeira estatura, dentro e fora do País. •

 

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