O Estado de S. Paulo
Lula passa por um momento crucial para as
eleições de 2026
Se ainda há estrategistas no que sobrou do
antigo Estado-Maior do PT, o dilema é monumental. Não dá para encarar as
próximas eleições sem Lula. E se avolumam evidências de que também não dá para
encarar com ele.
A questão principal não são números de
economia que possam se transformar em índices de popularidade. Ou consigam
compensar o efeito negativo de escândalos de corrupção acompanhados de aumento
de impostos.
A figura de Lula é a desse dilema provavelmente sem solução. Ele está sendo alcançado pelo que é inexorável na condição humana, visível para eleitores que tomam decisões muito mais a partir de percepções subjetivas diretas do que por “números”.
Mesmo segmentos do eleitorado até aqui
“cativos” mudaram muito, basta ver o avanço dos evangélicos. E a distância de
Lula para esses setores aumentou. Quando Lula passa a falar muito em Deus, soa
desconexo.
Há outro problema, objetivo e direto, pelo
qual Lula é o principal responsável. Ele não conseguiu firmar um “movimento de
massas” ao qual pudesse designar um sucessor. Simplesmente não há no PT, que
está longe de ser movimento de massas, qualquer quadro razoavelmente pronto
para assumir seu lugar.
Fato agravado pela ausência de um legado a
ser defendido e ou administrado. O nacional-desenvolvimentismo que poderia ser
visto como “doutrina” do lulopetismo tem várias vertentes espalhadas pelo
espectro político – inclusive em forças “de direita” que se opõem ferozmente a
Lula. Idem para componentes políticos iliberais.
Também o famoso “gasto é vida”, a base da
política fiscal, se amplia por gordas fatias do Centrão. Parte da sobrevivência
de um governo medíocre como o de Lula se explica pela sua participação num
“consórcio” gastador composto por um Legislativo sempre apreciador de benesses
sociais e um Judiciário cujo corporativismo está fora de controles efetivos.
Renúncias fiscais (incluindo subsídios e
regimes especiais de proteção) e expansão de gastos públicos são um consenso
social no Brasil, do qual Lula é apenas uma das expressões. Em outras palavras,
Lula não exibe mais apelos genuinamente próprios e passou a ser uma sombra de
si mesmo ao tentar convencer o eleitor de que possui as chaves para um futuro
melhor.
Seu governo notoriamente desarticulado é a
consequência disso. Não se pode falar de “bate-cabeças” no Planalto, pois ali
só existe uma, com uma capacidade decrescente de leitura dos fatos da realidade
política – especialmente a perda de poder relativo do Executivo. E uma soberba
igualmente dissociada da sua verdadeira estatura, dentro e fora do País. •
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