Corte em emendas é fundamental nas medidas fiscais
O Globo
Além de caras, são injustas — 15 dos 20
municípios com pior IDH não receberam um centavo desde 2024
Em democracias, o gasto público é disciplinado por um mecanismo sensato: o Legislativo elabora o Orçamento, e o Executivo controla sua execução. Tal arranjo incentiva a eficiência do gasto. Por tal parâmetro, o Brasil se tornou uma aberração. Aqui, deputados e senadores decidem o destino de 21% — ou R$ 50,4 bilhões — das despesas livres do governo. Como a lógica das emendas parlamentares é paroquial e de curto prazo, as cidades onde se concentram as bases de eleitores recebem mais. Outras ficam sem nada. No momento em que Congresso e governo discutem medidas para equilibrar as contas públicas, as hipertrofiadas emendas parlamentares precisam estar no topo da pauta.
Reportagem do GLOBO revelou a faceta perversa
delas. Quinze dos 20 municípios brasileiros classificados nas piores posições
do ranking do Índice de Desenvolvimento Humano (IDH), da ONU, não recebem
emendas há pelo menos um ano. Nas mãos de adversários políticos ou com colégios
eleitorais diminutos, eles estão simplesmente fora do radar do Congresso.
Motivos para receber ajuda não faltam. Quem
vive em Melgaço (PA) está em situação idêntica aos habitantes de Mali, país
africano entre os seis piores IDHs do mundo. Situadas na Região Norte, as
cidades de Atalaia do Norte (AM), Chaves (PA) e Uiramutã (RR) têm IDH
equivalente ao de Burkina Faso, um dos oito lugares mais pobres da África.
Nenhuma recebeu um centavo de emendas desde junho de 2024.
Há disparidades dentro de um mesmo estado. Em
Inhapi (AL), apenas 40% dos 15 mil habitantes têm acesso à água encanada, e não
mais de 2% à rede de esgoto. Com IDH igual ao de Madagascar, o município é
classificado na categoria de desenvolvimento humano muito baixo. Ainda assim, a
última verba de emenda parlamentar chegou lá em maio de 2024, na proporção de
R$ 60 mil por habitante. A 40 quilômetros de distância, o município de Delmiro
Gouveia (IDH médio) recebeu R$ 171 mil per capita. Entre os critérios adotados
pelos parlamentares para definir o destino das verbas está o interesse dos
governadores. A prefeita de Delmiro Gouveia, Ziane Costa (MDB), é filha do
ex-prefeito Luiz Carlos Costa, aliado do grupo político do governador Paulo
Dantas (MDB).
Embora necessário, um corte significativo nas
emendas, com retorno das verbas ao Executivo, não significará a solução
imediata dos problemas. Em toda democracia, o paroquialismo parlamentar exerce
alguma influência na destinação de recursos. Mas é inegável que a concentração
de decisões no Executivo aumenta a chance de haver políticas públicas de
alcance mais amplo, baseadas em critérios técnicos. As emendas parlamentares
ainda apresentam outros problemas, como a falta de transparência e o longo
histórico de corrupção e irregularidades.
O impasse provocado pelo aumento do Imposto sobre Operações Financeiras (IOF) é uma oportunidade para o governo promover um ajuste estrutural nas contas públicas. Os recursos são limitados, a opção pelo endividamento é insustentável, e a experiência com as emendas no Brasil demonstra por que nada de parecido existe em nenhum outro país. O dinheiro do contribuinte deve ser alocado com base em critérios justos, atendendo sobretudo à necessidade dos moradores das cidades brasileiras com desenvolvimento humano comparável ao dos lugares mais pobres do planeta.
Condenação de comediante à prisão atenta contra liberdade de expressão
O Globo
Por mais que as piadas de Léo Lins sejam
deploráveis e ofensivas, elas não põem ninguém em risco
É absurda a condenação do comediante Léo Lins
a oito anos e três meses de prisão por piadas num show de humor. A sentença, da
3ª Vara Criminal Federal de São Paulo, determina multa de R$ 1,8 milhão e
indenização de R$ 303,6 mil por danos morais coletivos. Afirma que a
apresentação de Lins estimula a violência verbal e fomenta a intolerância. Não
se trata disso. É absolutamente justificável repudiar as piadas dele, de
péssimo gosto. Mas elas não põem ninguém em risco. São piadas — não crimes.
No vídeo “Perturbador”, Lins tenta fazer
humor mirando em negros, obesos, idosos, soropositivos, homossexuais,
indígenas, nordestinos, evangélicos, judeus e deficientes. Não há dúvida de que
seu humor fere as regras de civilidade, é anacrônico, descolado da sociedade.
Mas condenar Lins por uma forma de humor canhestra — e repugnante — equivale a
censura. É incompatível com a liberdade de expressão garantida pela
Constituição.
Não é a primeira vez que o trabalho de
humoristas é cerceado pela Justiça. Em
2021, o apresentador Danilo Gentili foi condenado a pagar indenização de R$
41,8 mil ao Sindicato dos Enfermeiros, além de pedir desculpas, depois de fazer
piada sobre a categoria. O youtuber Julio Cocielo foi investigado por postagens
consideradas racistas entre 2010 e 2018, mas acabou absolvido. Em 2021,
tentou-se censurar a 48ª edição do Salão Internacional de Humor de Piracicaba
porque charges criticavam a política de saúde do governo Jair Bolsonaro durante
a pandemia.
Amordaçar o humor é prática de regimes
autoritários. Não combina com a democracia. Durante a ditadura militar, parte
da equipe do jornal O Pasquim, que driblava a censura com irreverência,
criatividade e talento, foi presa pelos órgãos de repressão. Felizmente, os
tempos são outros. Há quatro décadas o Brasil vive o mais longevo período
democrático de sua História.
Apesar disso, nos últimos tempos têm se
tornado comuns episódios de censura e cancelamentos. Livros de histórias
infantis lidos por gerações passaram a ser demonizados, sob alegação de conter
trechos racistas. Obras consagradas da literatura nacional foram recolhidas de
escolas sob pretexto de ser inadequadas a menores. O ministro Flávio Dino, do
Supremo Tribunal Federal, chegou a mandar destruir um livro de Direito com
trechos considerados por ele homofóbicos e discriminatórios.
A condenação de Lins é grave por criminalizar a piada. É verdade que suas anedotas são preconceituosas e abjetas. Mas a liberdade de expressão só está plenamente protegida quando se garante o direito ao discurso mais abjeto, desde que não ofereça risco. Sentenças como a proferida contra Lins incentivam artistas à autocensura, por receio de acabar na prisão ou pagar multas. Nada pode ser pior para a criatividade. Por fim, ninguém é obrigado a consumir o humor de mau gosto produzido por Lins. Vê e ouve quem quer. As instâncias superiores da Justiça têm o dever de reformar a sentença para preservar um regime em que os brasileiros possam se expressar livremente.
Tarifas atingem siderúrgicas do Brasil em
momento delicado
Valor Econômico
As tarifas de 50% paralisarão os principais
fornecedores, como o Brasil, e só não inviabilizarão completamente as vendas
porque todos os exportadores que disputam o mercado americano estarão sob o
peso da mesma taxação
O presidente Donald Trump cismou que as
tarifas de 25% sobre as importações de aço e alumínio não eram suficientes para
defender a indústria americana e resolveu de repente dobrá-las para 50%. Os EUA
compraram de seus três maiores fornecedores, Canadá, Brasil e México, pela
ordem, pelo menos 15,5 milhões de toneladas, de um total de 26,2 milhões de
toneladas importadas, o equivalente a quase um terço de sua produção doméstica.
Com o aço como insumo básico na produção industrial, é provável que as usinas
siderúrgicas americanas não tenham capacidade para aumentar sua oferta neste
volume em um par de meses, e talvez nem em período bem mais longo. Sem ser
autossuficiente, os EUA verão os preços subirem com a formação de um oligopólio
protegido na marra da concorrência externa.
Há anos a indústria americana é pouco
competitiva, e só por intervenção do presidente Joe Biden uma de suas mais
tradicionais empresas, a US Steel, não foi comprada pela Nippon Steel. Outra
intervenção, dessa vez de Trump, em maio, permitiu uma parceria que manteve sob
controle nacional a siderúrgica, com grande dose de injeção de capital dos
japoneses. Foi diante dos trabalhadores da US Steel que o presidente americano
anunciou, em 30 de maio, que aumentaria para 50% as tarifas de aço e alumínio.
Em seu primeiro governo, como agora, Trump se baseou em legislação que lhe deu
poderes para isso - garantir o fornecimento de aço em mãos americanas era uma
questão de “segurança nacional”.
Em 50%, as tarifas paralisarão os principais
fornecedores, como o Brasil, e só não inviabilizarão completamente as vendas
porque todos os exportadores que disputam o mercado americano estarão sob o
peso da mesma taxação. A exceção é o Reino Unido, que pagará “apenas” 25%
porque fez um acordo com os EUA, o único feito até agora, apesar do suposto
frenesi de negociações do governo Trump.
A barreira protecionista é um golpe muito
profundo em especial no Canadá. Além de maior fornecedor, ele vende 90% de sua
produção de 6,55 milhões de toneladas para empresas americanas. Também tem um
tratado de livre comércio com os EUA que completaria 30 anos em 2024 (Nafta), e
que foi renegociado, por exigência dos EUA, no primeiro mandato de Trump. O
acordo permitiu ao Canadá expandir sua produção muito acima de seu consumo para
atender ao maior mercado do mundo em condições muito competitivas. De uma hora
para outra, esse mercado sumiu.
O Brasil já tinha sido alvejado por Trump em
seu mandato anterior, mas as tarifas não eram tão altas, e depois se
estabeleceu um sistema de cotas de exportação para o aço e o alumínio
brasileiros. O governo Lula negociou a mesma solução agora, mas não teve
sucesso, mesmo sendo um dos poucos países com os quais os EUA têm superávit
comercial.
Mesmo com 25% de taxação, em abril, um mês
após o início de sua vigência, as exportações de produtos semiacabados de ferro
e aço brasileiros caíram 30,7% em relação ao mesmo mês do ano passado.
Estatísticas da AçoBrasil, entidade que representa a indústria do aço, mostram
que no primeiro quadrimestre em relação ao primeiro de 2024 as exportações de
semiacabados caíram 14,2%, as de aços longos, 10,4% e as de aços especiais,
19,1%. A queda é basicamente obra da barreira dos EUA, para onde foram
destinadas 73,7% das vendas externas de aço. Os países da América Latina, com
19,3% do total, são o segundo maior destino, e nela o Mercosul tem fatia de
7,9%.
O Brasil é muito competitivo em aço no
mercado americano, embora perca na disputa global para as vendas a baixo custo
do maior produtor mundial, a China. Mas o fechamento das fronteiras americanas
põe as usinas brasileiras em delicada posição. Geograficamente, há enorme
concentração de suas vendas nos EUA, e não é rápida nem simples a
diversificação de mercados, em especial com as usinas chinesas despejando seu
crescente excesso de produção nos mercados mundiais e derrubando preços.
O acesso ao cliente principal está se
fechando em um momento em que as importações estão aumentando: subiram 21% em
volume e 7,1% em valor no primeiro quadrimestre. Mais da metade das compras
externas de aço são provenientes da China, em um movimento que, com o cerco
comercial americano a Pequim, tende a acelerar as vendas chinesas não só para o
Brasil, mas para todos os países. Além disso, a utilização da capacidade de
produção interna das empresas brasileiras em abril era de 61,9%, abaixo da
média de 66% dos últimos 5 anos e muito abaixo dos 83% da média de 2011-2009.
As perspectivas para a produção local são de um enfraquecimento do mercado
doméstico, com a desaceleração da economia.
A barreira ao aço poderá ser atenuada, dependendo de qual fator prevalecer: a pressão dos preços internos nos EUA e das empresas consumidoras, que deverá ser intensa, ou eventuais condições especiais a serem oferecidas por um dos maiores fornecedores, não muito provável, mas possível. No início, Trump dá a impressão de que poderá ditar quem terá acesso privilegiado ao mercado americano e a que preço. Esse poder se revelará passageiro e ilusório.
Trump reaviva o receio de que o pior não
tenha passado
Folha de S. Paulo
Após suspensão de tarifas recíprocas e trégua
com a China, republicano dobra impostos sobre o aço, o que afeta o Brasil
A guerra
comercial de Donald Trump passa
por um momento de batalhas de menor intensidade. O presidente americano,
entretanto, aos poucos reaviva o receio de que o pior não tenha passado.
Os principais sinais de recuo do republicano
começaram já em abril, quando a Casa Branca suspendeu, por 90 dias, as chamadas
tarifas recíprocas —aumentos de impostos de importação que prejudicavam ou
impediam o comércio dos Estados
Unidos com seus maiores parceiros. Em
maio, foi negociada em Genebra uma trégua com a China.
Pressões de executivos de empresas e bancos,
além de perdas nos mercados financeiros e surtos de descrédito da dívida
americana, contribuíram para o abrandamento das hostilidades.
Isso pode ter amainado os temores de
investidores e suscitado a esperança de que o dano que Trump deve causar ao
comércio, à inflação,
à eficiência e ao crédito dos EUA seria limitado ou, ao menos, incapaz de gerar
recessão. Os fatos mostram que é cedo para otimismo, porém.
Na investida mais recente, o mandatário dobrou
na terça-feira (3) as tarifas de importação sobre o aço, de 25% para 50%. A
alta ainda maior do tributo vai elevar custos para empresas americanas, além,
claro, de prejudicar exportadores como o Brasil.
Faz pouco, Trump ameaçou impor tarifa geral
de 50% sobre produtos da União
Europeia e empresas que comprem chips da chinesa Huawei, o que não
chegou a se concretizar.
Acusou os chineses de descumprirem o acordo
de Genebra —Pequim também
estaria limitando a venda de minerais críticos, necessários para a manufatura
de sistemas eletrônicos de veículos e aviões, por exemplo. Já o gigante
asiático nega, reclama de proibições à compra de chips avançados e denuncia
perseguição a estudantes nos EUA.
Ainda pouco se sabe dos efeitos da guerra
sobre a atividade econômica. Também na terça, a OCDE estimou
que a economia global
crescerá apenas 2,9% neste ano, ante 3,3% em 2024; nos EUA, a queda calculada é
bem mais aguda, de 2,8% para 1,6%.
Lá, houve grande recuo da confiança dos
consumidores, piora de expectativas inflacionárias e incerteza por parte de
empresas, mas o impacto em preços, emprego e investimento levará tempo para
aparecer.
Em 8 de julho, termina o prazo de suspensão
das tarifas recíprocas, agora também sujeitas a cancelamento judicial. Fora
diretrizes de um acordo com o Reino Unido,
Trump não tem vitórias a proclamar —em três meses, afinal, não é possível
negociar acordos comerciais de fato.
Resta saber se o presidente americano vai se
contentar com a propaganda de concessões menores ou se acirrará o conflito. Com
a China,
ao menos, esse caminho parece quase inevitável. De mais certo, haverá no mundo
maior risco, menor crescimento e muito menos cooperação nas relações
internacionais.
Populismo avilta o Judiciário no México
Folha de S. Paulo
Eleições para juízes foram instituídas por
governo de esquerda para superar resistências; medida enfraquece o Poder
No presente momento, vêm principalmente de
governos de direita ofensivas contra as instituições democráticas. Isso não
significa, porém, que a esquerda não possa recorrer à mesma estratégia se tiver
a oportunidade. No México, teve —e
recorreu.
No domingo (1º), mexicanos foram as urnas
para uma eleição inédita. Escolheram
juízes para mais de 2.600 cargos, desde cortes distritais aos nove membros
da Suprema Corte. Os resultados totais só serão conhecidos no próximo dia 15,
mas já é certo que o saldo será ruinoso.
A troca de um sistema de nomeações para um de
eleição direta é
obra de Andrés Manuel López Obrador, conhecido como AMLO, que até o
ano passado ocupava a Presidência. Ele não pode ser qualificado como um
extremista, mas é um populista de esquerda com tendências autoritárias.
Em 2018, durante seu mandato, acumulou
conflitos com o Judiciário, que invalidou inúmeras medidas de sua gestão. A
saída que encontrou foi livrar-se de magistrados no atacado. Os votos para a
malfadada reforma foram conseguidos em 2024, quando AMLO, gozando de grande
popularidade, também
elegeu uma sucessora, Claudia Sheinbaum.
Não que o Judiciário mexicano merecesse ficar
intocado. Ali sobram casos de corrupção,
nepotismo e supersalários. Entretanto as mudanças a título de submeter juízes
ao veredito popular criam outros problemas ainda maiores.
De pior, esvazia-se o Poder que deveria impor
limites à ação de governantes e legisladores. No México, os filtros para ter o
nome na urna são mais políticos do que técnicos, o que faz temer que a Justiça
se torne uma extensão do governismo, em vez de um freio a eventuais abusos.
Os magistrados passam a ser escolhidos num
processo sujeito aos mesmos vieses e distorções que acometem a eleição de
políticos. Pesquisas feitas nos Estados
Unidos, onde há tanto profissionais eleitos como nomeados, mostram que os
primeiros tendem a ser menos técnicos e mais punitivistas —e essa tendência se
intensifica às vésperas de eleições.
Como os candidatos mexicanos não tiveram
acesso a financiamento público nem privado, em teoria bancando as campanhas com
dinheiro do próprio bolso, pode-se imaginar que proliferaram patrocínios
clandestinos —o famigerado caixa dois. Especialistas apontam o risco de o
narcotráfico emplacar alguns nomes de sua preferência.
O país tinha motivos para querer reformar seu Judiciário, mas escolheu o insalubre caminho do casuísmo populista para fazê-lo.
A mártir de quermesse
O Estado de S. Paulo
Condenada pela Justiça por violar a lei, a
sra. Zambelli honra a tradição bolsonarista ao fugir do País, atacar os
tribunais e posar de vítima de um regime de exceção que não existe
A deputada federal Carla Zambelli (PL-SP)
sempre foi uma indigente política. Nunca propôs nem tampouco relatou projeto de
lei relevante à luz do melhor interesse público. Jamais exerceu liderança de
fato sobre seus correligionários, muito ao contrário: por vezes foi alvo de
chacota até de supostos aliados. Sua atuação pública limitou-se à geração de
ruído nas redes sociais, não raro disseminando teorias conspiratórias e ataques
infundados contra as instituições republicanas – além, é claro, de vocalizar um
culto quase místico à personalidade do ex-presidente Jair Bolsonaro.
Mas, por incrível que pareça, justamente ao
sair da política pela porta dos fundos a sra. Zambelli prestou para alguma
coisa. Sua patética fuga do País, a fim de evitar o cumprimento de uma pena de
dez anos de prisão a que foi condenada pelo Supremo Tribunal Federal (STF),
confirmou que o ex-presidente Jair Bolsonaro e os sabujos que delinquiram em
nome de seu projeto político liberticida estão ficando sem muitas alternativas
além da vitimização.
Segundo consta, Zambelli está homiziada nos
Estados Unidos, onde também está seu ex-colega de Câmara e ainda
correligionário Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Embora não tenha sido condenado por
crime algum, o filho “zero três” do ex-presidente Jair Bolsonaro licenciou-se
do mandato e partiu para um confortável autoexílio naquele país para desde lá
continuar lançando seus impropérios contra as instituições republicanas,
notadamente contra o STF e o ministro Alexandre de Moraes.
Em que pesem as diferenças de status jurídico
que há entre ambos, tanto Eduardo Bolsonaro como Carla Zambelli – curiosamente
dois dos mais votados deputados federais por São Paulo, o que diz muito sobre
os interesses e a cultura política de boa parte da sociedade paulista – vestem
o figurino de mártires de coisa nenhuma, que dirá da liberdade de expressão. No
caso de Zambelli, o papel lhe cai ainda mais amarfanhado porque a deputada foi
condenada após um julgamento no qual lhe foi assegurado amplo direito de
defesa.
Convém lembrar a gravidade do crime que a
indigitada cometeu: mancomunada com um hacker, Zambelli invadiu o sistema
do Conselho Nacional de Justiça (CNJ) com o objetivo de forjar um mandado de
prisão contra Moraes. Não há uma linha na Constituição que autorize um
comportamento delinquente como esse, sob quaisquer pretextos.
Ao fugir com o claro propósito de impedir a
aplicação da lei penal – razão pela qual sua prisão preventiva em boa hora foi
decretada pelo ministro Alexandre de Moraes –, a deputada pode até se
apresentar como paladina do Estado Democrático de Direito e “vítima” de
“perseguição”, mas, na verdade, Zambelli se valeu de uma garantia desse mesmo
Estado Democrático de Direito – a liberdade até o trânsito em julgado da
sentença penal condenatória – para fazer troça da Justiça brasileira.
A vitimização política tornou-se um
instrumento central da retórica populista que grassa mundo afora e, em
particular, também aqui, entre os adeptos do bolsonarismo. É imperioso
ressaltar que esse tipo de ardil não se presta a uma reação legítima contra abusos
reais cometidos por agentes do Estado – e estes ocorrem –, mas, antes, a uma
estratégia deliberada para escapar da responsabilização judicial por atos
manifestamente ilícitos.
Logo, ao se apresentarem como “perseguidos”
por um sistema supostamente aparelhado por “inimigos políticos”, figuras como a
sra. Carla Zambelli buscam deslegitimar as decisões das instituições que não se
submetem à lógica autoritária do movimento que cultuam. Condenações
fundamentadas em provas são apresentadas aos incautos como atos de censura ou
perseguição política. É muito conveniente para os encalacrados com a Justiça.
Na realidade adulterada por essa gente,
criminosos viram heróis da liberdade de expressão. Esse discurso não apenas
mina a confiança nas instituições republicanas, como infecciona parte
considerável do eleitorado, que, seduzido por essas histórias de conspiração,
passa a aceitar o inadmissível: que mandatários cometam crimes e se protejam
sob o manto do voto popular. Trata-se de um perigoso jogo de manipulação que
ameaça os fundamentos da democracia representativa.
O passadismo decrépito do PT
O Estado de S. Paulo
Candidatos à presidência do partido de Lula
da Silva debatem o socialismo, defendem as ditaduras de Cuba e Venezuela contra
o imperialismo e pedem que o governo dobre ainda mais à esquerda
É mesmo singular o mundo em que vivem os
capas-pretas do petismo. Enquanto o governo do presidente Lula da Silva
enfrenta sucessivas, permanentes e gravíssimas crises de natureza política,
econômica e existencial, os candidatos à presidência do PT se reuniram na
segunda-feira passada e produziram um festival de despautérios no primeiro
debate público entre eles, surpreendente até para quem já espera o pior de
qualquer convescote do partido.
Entre muitos delírios, três dos quatro
postulantes – Rui Falcão, Valter Pomar e Romênio Pereira – defenderam
estultices como a radicalização do governo lulopetista “à esquerda”, pregaram a
necessidade de o partido sair em defesa de ditaduras companheiras como Cuba,
Venezuela e “todos os povos que lutam contra a opressão e a exploração” para
enfrentar o “imperialismo” e o “capitalismo”, esbravejaram contra a política
econômica conduzida pelo ministro da Fazenda, Fernando Haddad, e,
previsivelmente, atacaram os juros altos e o Banco Central, hoje presidido por
um indicado de Lula.
A Edinho Silva, o quarto candidato e tido
como favorito da disputa, restou o papel de alvo dos demais, defensor do
indefensável (Lula 3) e anteparo contra os jargões esquerdistas dos
adversários. Mas, provocado por um deles, precisou dedicar parte considerável
do tempo disponível a, ora vejam, debater os rumos do socialismo. “Sem
socialismo a gente não derrota o imperialismo. Sem socialismo a gente não
derrota a ditadura do capital financeiro”, resumiu o historiador Valter Pomar,
um autodeclarado “revolucionário”, recorrendo ao passadismo decrépito do
esquerdismo tradicional para cobrar do ex-prefeito de Araraquara o tratamento
devido ao tema. Historicamente o PT nunca se resolveu bem nem com o capitalismo
nem com o socialismo. Crítico do primeiro, pregou para o segundo o que definiu
como um mal explicado “socialismo democrático”.
O atual governo de Lula, a bem da verdade, já
tem os piores cacoetes da esquerda, a saber: o discurso estatizante, o culto à
personalidade (o PT sempre foi e continuará a ser infinitas vezes menor do que
o ego de Lula), o populismo, a aversão ao mercado e ao setor privado, o
afrouxamento fiscal e a incapacidade de superar seus limites ideológicos para
se apresentar como governante de todos os brasileiros, e não apenas da patota.
Mesmo assim, isso não basta para os candidatos à presidência petista.
O PT também nutre simpatia especial pelo que
há de mais hostil à democracia e aos direitos humanos: Cuba, Venezuela, China,
Rússia, os terroristas do Hamas e os aiatolás misóginos e homofóbicos do Irã.
Também faz bravatas contra qualquer preocupação mínima com a austeridade fiscal
e ignora que juros altos são o preço a pagar pelo populismo lulopetista,
consubstanciado na ideia segundo a qual “gasto é vida”, frase símbolo da
ex-presidente Dilma Rousseff que quase conduziu os brasileiros à ruína e segue
inspirando a tibieza fiscal deste quinto mandato presidencial do PT.
Num dos raros momentos de consenso – e de
lucidez –, os quatro candidatos petistas reconheceram que o PT e a esquerda
perderam o pulso das ruas, distanciaram-se da juventude e se mostram hoje
incapazes de interpretar o pensamento e os anseios da classe trabalhadora. Só
não conseguiram reconhecer duas obviedades: sua dificuldade de escapar da
obtusa simplificação do conflito brasileiro em uma anacrônica “luta de
classes”; e a visão, igualmente simplificadora, da “classe trabalhadora” – como
se sabe, o PT ainda enxerga trabalhadores com as lentes de um trabalho e uma
base sindical que não existem mais.
Este jornal já sublinhou que não está em jogo
apenas a escolha de um nome para presidir o partido – se fosse só isso, a
eleição petista não teria a menor importância. Mas a definição do futuro
presidente do PT dirá muito sobre a bússola que orientará o futuro imediato do
partido do presidente Lula. O fato é que os rumos do partido decerto afetarão
os rumos do governo. A julgar pelo debate sem bússola, contudo, esses rumos
poderão ser ainda mais gravosos do que já são.
Promessa descumprida
O Estado de S. Paulo
Renúncia fiscal com benefícios do ICMS em SP,
que Tarcísio prometera rever, deve subir 19%
Há pouco mais de um ano, este jornal elogiou
o plano apresentado pelo governador Tarcísio de Freitas com vista à
modernização da administração pública, expansão dos investimentos, melhoria do
gasto público e redução das despesas correntes. Batizado de “São Paulo na
Direção Certa”, o programa tinha a óbvia intenção de contrapor a administração
do Estado à do governo Lula da Silva, que, menos de um ano após a aprovação de
um novo arcabouço fiscal, já havia modificado as metas fiscais de 2025 e 2026
para gastar mais. Subentende-se que o País, segundo Tarcísio, estava no caminho
errado, e que São Paulo, em contrapartida, poderia servir de “exemplo para o
Brasil”. Palavras do governador.
A principal e mais audaciosa meta do plano
dizia respeito à revisão dos benefícios fiscais. Ao final de 2024, o governo
estadual anunciou que um terço dos subsídios que haviam vencido naquele ano não
seria renovado. Segundo a Secretaria da Fazenda e Planejamento do Estado de São
Paulo, muitos deles existiam havia décadas, resultado de “sobreposições e
anacronismos”. Entre os subsídios que foram cortados estavam os que conferiam
tratamento diferenciado para cavalos puro-sangue, mudas de seringueira, ostras
e vieiras, entre outros. Foram mantidos, no entanto, os concedidos a alimentos,
bares e restaurantes.
Parecia promissor, mas falar é sempre mais
fácil do que fazer. Ao contrário do que o governador prometeu, os incentivos
fiscais concedidos pelo Estado vão aumentar 19% em 2026 na comparação com este
ano. Em pleno ano eleitoral, o Estado deixará de arrecadar nada menos do que R$
78,7 bilhões em desonerações do Imposto sobre Circulação de Mercadorias e
Serviços (ICMS), segundo a Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO). Poderia ser
pior, destacou a Secretaria da Fazenda. Se todos os benefícios tivessem sido prorrogados,
a renúncia fiscal projetada para o ano que vem seria de R$ 88,26 bilhões.
Cada real que o governo estadual abre mão de
receber resulta em menos dinheiro para os cofres paulistas. Segundo a LDO, as
receitas totais previstas para o ano que vem devem cair 0,5%, ou R$ 1,6 bilhão,
enquanto as receitas primárias, que englobam impostos e taxas, devem aumentar
0,7%, ou R$ 2,3 bilhões. São números relevantes, mas muito inferiores à
projeção de renúncia fiscal do ano que vem.
Para o governador, paradoxalmente, a culpa
pelo fato de seu plano não ter saído como o planejado é, ora vejam, de Lula da
Silva. Segundo informou o Estadão, ele responsabiliza a política fiscal do
governo, que obriga o Banco Central a manter a taxa básica de juros em patamar
elevado, desestimula a atividade econômica paulista e freia o crescimento das
receitas.
Bem se sabe que não é trivial rever
benefícios fiscais, haja vista os vaivéns do ministro da Fazenda, Fernando
Haddad, nessa seara e a baixíssima receptividade que essas propostas têm no
Congresso. Mas Tarcísio, diferentemente de Lula, conta com amplo apoio na
Assembleia Legislativa. São situações politicamente incomparáveis. Se os
benefícios fiscais em São Paulo continuaram a subir a despeito disso, a
responsabilidade é, em última instância, do governador do Estado.
Vigilância permanente contra a gripe aviária
Correio Braziliense
O momento não é de pânico em relação aos
casos de gripe aviária no Brasil, reforçam especialistas. Mas o monitoramento
interno não pode esmorecer
Praga aviária e peste aviária eram
denominações usadas para se referir à gripe que dizimava aves na Itália em
1878. À época, já se sentia o efeito destruidor de um vírus que seria isolado
por cientistas mais de 100 anos depois, bem longe do país europeu. Gansos em
Guangdong, no sul da China, morriam com H5N1, micro-organismo decifrado por
cientistas em 1996. No ano seguinte, descobriu-se uma pessoa infectada em Hong
Kong. Desde então, a possibilidade de disseminação desse tipo de influenza
entre humanos esteve sob o radar de especialistas. Recentemente, a preocupação
extrapolou os laboratórios.
O novo patamar se deve, sobretudo, à recorrência
de epidemias de gripe aviária, à detecção do vírus em diferentes países e ao
potencial letal em humanos, ainda que a quantidade de infectados seja pequena.
Só nos Estados Unidos, cerca de 170 milhões de aves morreram devido à gripe
aviária nos últimos três anos. No mesmo período, a Organização das Nações
Unidas para a Alimentação e a Agricultura (FAO) recebeu a notificação de mais
de 4.700 surtos da doença na América Latina e no Caribe. O primeiro caso no
Brasil foi registrado em maio de 2023, em aves silvestres no Espírito Santo.
Neste ano, há 169 casos do tipo confirmados, além de infecções em granjas
comerciais. Brasília acaba de entrar na rota de alerta, com a detecção da
presença do vírus em uma espécie de pato no Zoológico.
O momento não é de pânico, reforçam
especialistas. O governo federal avalia que a gripe aviária está controlada,
tendo como principal referência o fato de não haver mortes de animais de
granjas comerciais há 15 dias, e começa a trabalhar para suspender as
restrições às exportações. Mas o monitoramento interno não pode
esmorecer. "A principal abordagem preventiva é a vigilância. Sem
vigilância não dá para saber se há a circulação do vírus", afirmou ao
Correio Bergmann Ribeiro, virologista e professor da Universidade de Brasília
(UnB).
O alerta permanente justifica-se porque é
cada vez mais real a possibilidade de o H5N1 passar a ser patogênico em seres
humanos — a infecção pelo vírus já é comum em mais de 500 espécies de aves e 50
de mamíferos. E os desdobramentos dessa nova seara de infecção tendem a ser
perigosos. Para se ter uma ideia, a Organização Mundial da Saúde (OMS) calcula
o registro de 950 casos de gripe aviária em humanos nos últimos 20 anos. Dos
infectados, 460 morreram. Trata-se de uma taxa de letalidade de quase 50% — muito
maior do que a do vírus da covid-19 nos momentos mais críticos da
pandemia.
Há de se reconhecer que os governos, federal
e locais, têm reagido bem ao atual cenário de gripe aviária no país. Uma
possível dispersão do surto, porém, demandaria maiores estratégias. A
agricultura, que tem uma estrutura concentrada nas secretarias estaduais,
precisaria ampliar os planos de contingência, por exemplo. A criação de centros
de coordenação para compartilhamento de informação e organização de ações
prioritárias teria que ser imediata.
Há uma estrutura de recursos humanos,
formada principalmente durante a pandemia, com capacidade técnica para
responder rapidamente a uma nova ameaça sanitária, segundo Bergmann. É pouco.
"Precisa investir dinheiro. Se investir, tem gente capaz de fazer vacina,
fazer diagnóstico, de trabalhar com vírus da gripe". Não partir do zero
diante de uma ameaça invisível é, sem dúvidas, primordial para salvar vidas e
conter outros prejuízos. Mas a covid mostrou que a agilidade com que os vírus
se multiplicam pode rapidamente comprometer toda uma estrutura de suporte
pensada por humanos. Melhor não esperar a virulência mais uma vez nos
surpreender.
Desafio à Justiça
O Povo (CE)
Todos os esforços têm de ser feitos para que
a deputada Carla Zambelli responda, nos termos da lei, pelos crimes cometidos
Depois que a deputada federal Carla Zambelli
(PL-SP) anunciou ter deixado o país, a Procuradoria-Geral da Justiça (PGR)
pediu a prisão preventiva dela. A parlamentar foi condenada pelo Supremo
Tribunal Federal (STF) a 10 anos de prisão e à perda do mandato. Zambelli
responde por crimes de falsidade ideológica e por um ataque hacker aos
computadores do Conselho Nacional de Justiça (CNJ), para inserir documentos
falsos no sistema.
Atendendo ao pedido da PGR, o ministro do
STF, Alexandre de Moraes, determinou ontem a prisão preventiva da deputada,
mandou bloquear os seus bens e incluí-la na lista de difusão vermelha da
Organização Internacional de Polícia (Interpol). Agora ela é oficialmente
fugitiva da Justiça brasileira, podendo ser presa pela polícia de qualquer país
integrante da instituição.
O sistema de Justiça brasileiro e as
autoridades policiais, têm de lançar mão de todos os instrumentos disponíveis
nas legislações nacional e internacional para trazer a deputada de volta ao
País, de modo que ela responda por seus crimes.
Zambelli, assim como o deputado Eduardo
Bolsonaro (PL-SP), também se tornou um desafio para a Justiça e para o
Congresso. Ambos dizem claramente que a função deles no exterior é trabalhar
pela desmoralização das instituições brasileiras, defendendo a intervenção
estrangeira em assuntos internos. No caso de Zambelli, para escapar da
condenação; quanto ao deputado, o objetivo é interferir indevidamente no
processo que o pai, Jair Bolsonaro, responde no STF por tentativa de golpe de
Estado.
As práticas de Eduardo Bolsonaro nos Estados
Unidos afrontam o decoro parlamentar e a soberania nacional. Para piorar, a
manifestação mais visível no parlamento, parte do deputado bolsonarista Evair
de Melo (PP-ES), que requereu à Presidência da Câmara dos Deputados autorização
para que o deputado Eduardo Bolsonaro exerça o seu mandato dos Estados Unidos,
sem a obrigação de frequentar o plenário no Brasil.
O pedido tem pouca chance de prosperar, no
entanto, é um exemplo da regressão qualitativa a que chegou o Congresso
Nacional.
Por fim, a deputada Carla Zambelli, em um
desafio à Justiça brasileira, classificou-se como "intocável" na
Itália, onde tem cidadania. De fato, boa parte dos analistas jurídicos veem
como dificultador para um possível pedido de extradição. Porém, em sua coluna
no Uol, o jurista Wálter Maierovitch avalia que, segundo as leis italianas, a
dupla cidadania não será impeditivo para a extradição.
O fato é que todos os esforços têm de ser
feitos para que a deputada responda, nos termos da lei, pelos crimes que ela
cometeu — e pelos quais foi condenada.
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