Folha de S. Paulo
Tentativa de soltar Brazão foi ensaio para
anistiar Bolsonaro
"O Congresso
Nacional é a fonte de corrupção do regime, é a massa plástica de todas
as imoralidades que deprimem e aviltam a nacionalidade (...) É assim o
Congresso Nacional, uma cidadela de negocistas repelentes, a sangrar o erário
debilitado (...) É esse reduto de desfibrados o gerador das discórdias
políticas que dividem a família brasileira (...) Para que serve esse Congresso
despudorado, traficante, desacreditado perante a opinião pública?"
Calma no Brasil. Apesar da contemporaneidade e da virulência do ataque (que, de certa maneira, lembra as mídias sociais), o texto acima data de 1927. É um trecho do editorial do periódico A Manhã, no qual se reconhece o estilo de Mario Rodrigues, o jornalista panfletário que, entre outras mil coisas, foi o pai de Nelson Rodrigues e Mario Filho.
Corte para 2024, quase 100 após a diatribe de
Mario Rodrigues. O Congresso não vai lá muito bem das pernas. Segundo recente
Datafolha, ele é avaliado como ótimo ou bom por apenas 22% dos entrevistados;
53% o veem como regular e 23% o desaprovam. Mesmo assim, parte da Câmara se
mobilizou para soltar Chiquinho Brazão, ligado a milícias e apontado como
mandante do assassinato de Marielle Franco.
O lobby reviveu uma figura transportada das
trevas: Eduardo Cunha. Quase deu certo. Além dos bolsonaristas que, seguindo as
ordens do chefe, ficaram abertamente ao lado de Brazão, integrantes do centrão
usaram a tática covarde de se ausentar do plenário. Perderam por 277 a 129.
Mais do que um desafio ao STF, o movimento foi um ensaio para a votação do
projeto que busca anistiar Bolsonaro e o entorno golpista.
Enquanto isso, Arthur Lira trabalha para
levar de volta à estaca zero o projeto de lei que regula as redes, deixando o
campo livre para as cavilações de Elon Musk em parceria com a extrema direita
transnacional. Só mesmo citando o pai do Nelson: "Massa plástica de todas
as imoralidades".
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