sexta-feira, 18 de outubro de 2024

Bruno Boghossian - Apagão produz abalo leve demais na reta final

Folha de S. Paulo

Eleitor recém-convertido pelo prefeito hesita, mas movimento não se traduz em ganho para candidato do PSOL

A crise provocada pelo longo apagão em São Paulo produziu um abalo que parece leve demais para mudar o jogo a dez dias do segundo turno. Uma fatia de eleitores recém-convertidos passou a exibir sinais de hesitação em relação a Ricardo Nunes, mas ainda manteve distância da campanha de Guilherme Boulos.

Os novos números do Datafolha indicam que a queda de Nunes se deu num eleitorado que flerta com um voto por exclusão. O prefeito caiu cinco pontos (83% para 78%) entre os paulistanos que rejeitam Boulos e sete pontos (84% para 77%) entre aqueles que votaram em Pablo Marçal.

A variação sugere que parte do apoio a Nunes neste segundo turno tem uma característica volátil, mas a movimentação desse grupo não se traduz num ganho imediato para o candidato do PSOL.

O apagão levou para o centro da campanha um questionamento agudo à gestão de Nunes. Para um pedaço ainda restrito do eleitorado, a rejeição a Boulos deixou de ser um incentivo suficiente para sair de casa daqui a dois domingos com o objetivo de manter o prefeito no cargo. Por isso, a intenção de votos nulos ou em branco subiu na mesma proporção da queda de Nunes.

A mudança registrada até aqui não teve volume para dar a Boulos muitas esperanças. Apesar do bombardeio sobre o prefeito, não houve uma alta no índice de rejeição a Nunes, o que poderia direcionar alguns votos para o candidato do PSOL. A precariedade da rede elétrica da capital, é claro, ainda pode mudar a intensidade do julgamento feito pelo eleitor.

Até aqui, o prefeito está longe de enfrentar uma sangria capaz de arruinar sua campanha em pouco tempo. Ele recebeu um lembrete, no entanto, de que é preciso controlar a apatia de um grupo específico de eleitores. A maior parte dos apoiadores de Marçal continua com Nunes, mas eles compõem o segmento menos disposto a aparecer no dia da votação (42% dizem ter pouca ou nenhuma vontade de votar neste segundo turno).

Mesmo que o desgaste do prefeito se torne uma variável mais relevante, Boulos poderá ganhar uma adesão maior de eleitores de Tabata Amaral, mas dificilmente conseguirá uma conversão em massa dos apoiadores de Marçal. Restaria a difícil tarefa de apelar para a indiferença completa deste grupo e trabalhar para que ela seja maior do que a vontade de mantê-lo fora da prefeitura.

 

Um comentário:

ADEMAR AMANCIO disse...

Se Boulos fosse menos agressivo talvez ganhasse a eleição.