terça-feira, 27 de maio de 2025

Bolsonaro definirá rumos da oposição - Christopher Garman

Valor Econômico

Boa notícia para a oposição é que a fragmentação, por si só, não necessariamente reduz as chances de um candidato de direita vencer as próximas eleições à presidência

Os integrantes da oposição estão cada vez mais ansiosos em relação às eleições de 2026. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível - e provavelmente condenado à prisão - aumenta a pressão por uma candidatura unificada para o próximo ano. O ex-presidente Michel Temer tem representado esse movimento de forma mais eloquente. Ele defende a construção de um projeto para o país, batizado de Movimento Brasil, e busca um acordo entre os cinco governadores presidenciáveis da direita: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Ratinho Junior, do Paraná; Ronaldo Caiado, de Goiás; Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul; e Romeu Zema, de Minas Gerais. A maior preocupação é que uma fragmentação de candidaturas no primeiro turno aumente as chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.

Independentemente de qualquer articulação, Bolsonaro continuará sendo o grande protagonista e responsável por definir o campo da oposição - na expressão em inglês, o “kingmaker”. Só haverá uma candidatura unificada da direita se ele assim decidir, e quem quer que ele endosse terá grandes chances de chegar ao segundo turno no próximo ano. A boa notícia para a oposição é que a fragmentação, por si só, não necessariamente reduz as chances de um candidato de direita vencer as próximas eleições à Presidência.

É o capital eleitoral de Bolsonaro que dá a ele seu papel central na oposição. Os institutos de pesquisa não mensuram regularmente sua aprovação, mas há indícios de que ela não recuou nem um milímetro desde a última eleição. A AtlasIntel, por exemplo, mostrou que a aprovação do ex-presidente ficou imóvel, em 45%, entre outubro de 2022 e maio de 2024. Das cinco pesquisas de opinião mais recentes que simulam um segundo turno entre Bolsonaro e Lula, três colocam ex-presidente à frente, com intenção de votos superior à de qualquer outro candidato da oposição.

Isso significa que o candidato que Bolsonaro decidir apoiar já começa em vantagem. O governador de São Paulo, Tarcísio de Freitas, reconhece essa realidade e, por isso, só deve lançar sua candidatura se tiver a bênção do ex-presidente. Mas a decisão precisa ser tomada antes de 3 de abril, data-limite para que ministros e governadores se desincompatibilizem de seus cargos e possam disputar as eleições do próximo ano. Além de muito leal ao ex-presidente, Tarcísio reconhece que, se decidir concorrer sem a anuência do ex-presidente e for taxado de “traidor”, suas chances eleitorais certamente diminuirão.

Na prática, isso significa que a existência de uma candidatura única da direita depende exclusivamente de Bolsonaro. Caso ele mantenha sua candidatura mesmo condenado e possivelmente preso, como Lula fez em 2018, e lance alguém de sua família para representá-lo na reta final da campanha, Tarcísio deve disputar a reeleição em São Paulo. Interlocutores próximos ao ex-presidente afirmam que essa é sua tendência atualmente. Nesse cenário, outros governadores de centro-direita também lançariam suas candidaturas, e a direita entraria fragmentada no primeiro turno. A grande dúvida é quem chegaria ao segundo turno - se algum deles ou um membro da família Bolsonaro. Mas, se Bolsonaro optar por apoiar Tarcísio para a Presidência até março, a direita entrará unificada ao redor dele na disputa.

Se a economia vai mal e há um sentimento de mudança, candidatos da oposição tendem a derrotar Lula no 2º turno

As chances de a direita sair vitoriosa em 2026, no entanto, não devem diminuir por conta de uma fragmentação no primeiro turno. É importante lembrar que os eleitores só focam sua atenção na disputa presidencial durante a campanha oficial e, particularmente, no período de propaganda eleitoral na televisão. Mesmo que o voto oposicionista seja disperso no primeiro turno, quatro semanas de campanha no segundo turno são tempo suficiente para aglutinar o sentimento de mudança ao redor de um mesmo candidato.

Há vários exemplos de candidatos que fizeram uma arrancada final em uma campanha fragmentada no primeiro turno para vencer no segundo. Na América Latina, o mais recente é Daniel Noboa, no Equador, em 2023. Pouco conhecido, teve um bom desempenho no debate em uma eleição fragmentada, chegou ao segundo turno e derrotou Luisa González, mais conhecida ao longo da campanha. No Brasil, Ibaneis Rocha no Distrito Federal (2018) e Wilson Witzel no Rio de Janeiro (2018) tiveram trajetórias semelhantes.

Há também vários países nos quais a campanha eleitoral dura menos que cinco semanas, quase o tempo entre primeiro e segundo turnos no Brasil. No Canadá, por exemplo, são 36 dias de campanha, e no Reino Unido e na Austrália, cinco semanas. O ponto é que o entendimento de que é necessário apresentar um candidato meses antes da disputa para que ele ou ela ganhe tração não se sustenta empiricamente.

Muitos eleitores só decidem seu voto na reta final da campanha e, no fundo, há três fatores que realmente importam para o resultado eleitoral: se há um sentimento de mudança, quais as grandes preocupações do eleitor e se o candidato que chega ao segundo turno está alinhado ou não a essas preocupações. Se a economia vai mal e há um sentimento de mudança, a grande maioria dos possíveis candidatos da oposição tende a derrotar Lula no segundo turno. A competitividade desse candidato (um governador ou um membro da família Bolsonaro) importa - mas é um fator secundário nessa equação.

Christopher Garman 

 

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