Valor Econômico
Boa notícia para a oposição é que a
fragmentação, por si só, não necessariamente reduz as chances de um candidato
de direita vencer as próximas eleições à presidência
Os integrantes da oposição estão cada vez mais ansiosos em relação às eleições de 2026. Com o ex-presidente Jair Bolsonaro inelegível - e provavelmente condenado à prisão - aumenta a pressão por uma candidatura unificada para o próximo ano. O ex-presidente Michel Temer tem representado esse movimento de forma mais eloquente. Ele defende a construção de um projeto para o país, batizado de Movimento Brasil, e busca um acordo entre os cinco governadores presidenciáveis da direita: Tarcísio de Freitas, de São Paulo; Ratinho Junior, do Paraná; Ronaldo Caiado, de Goiás; Eduardo Leite, do Rio Grande do Sul; e Romeu Zema, de Minas Gerais. A maior preocupação é que uma fragmentação de candidaturas no primeiro turno aumente as chances de reeleição do presidente Luiz Inácio Lula da Silva.
Independentemente de qualquer articulação, Bolsonaro continuará sendo o grande protagonista e responsável por definir o campo da oposição - na expressão em inglês, o “kingmaker”. Só haverá uma candidatura unificada da direita se ele assim decidir, e quem quer que ele endosse terá grandes chances de chegar ao segundo turno no próximo ano. A boa notícia para a oposição é que a fragmentação, por si só, não necessariamente reduz as chances de um candidato de direita vencer as próximas eleições à Presidência.
É o capital eleitoral de Bolsonaro que dá a
ele seu papel central na oposição. Os institutos de pesquisa não mensuram
regularmente sua aprovação, mas há indícios de que ela não recuou nem um
milímetro desde a última eleição. A AtlasIntel, por exemplo, mostrou que a
aprovação do ex-presidente ficou imóvel, em 45%, entre outubro de 2022 e maio
de 2024. Das cinco pesquisas de opinião mais recentes que simulam um segundo
turno entre Bolsonaro e Lula, três colocam ex-presidente à frente, com intenção
de votos superior à de qualquer outro candidato da oposição.
Isso significa que o candidato que Bolsonaro
decidir apoiar já começa em vantagem. O governador de São Paulo, Tarcísio de
Freitas, reconhece essa realidade e, por isso, só deve lançar sua candidatura
se tiver a bênção do ex-presidente. Mas a decisão precisa ser tomada antes de 3
de abril, data-limite para que ministros e governadores se desincompatibilizem
de seus cargos e possam disputar as eleições do próximo ano. Além de muito leal
ao ex-presidente, Tarcísio reconhece que, se decidir concorrer sem a anuência
do ex-presidente e for taxado de “traidor”, suas chances eleitorais certamente
diminuirão.
Na prática, isso significa que a existência
de uma candidatura única da direita depende exclusivamente de Bolsonaro. Caso
ele mantenha sua candidatura mesmo condenado e possivelmente preso, como Lula
fez em 2018, e lance alguém de sua família para representá-lo na reta final da
campanha, Tarcísio deve disputar a reeleição em São Paulo. Interlocutores
próximos ao ex-presidente afirmam que essa é sua tendência atualmente. Nesse
cenário, outros governadores de centro-direita também lançariam suas candidaturas,
e a direita entraria fragmentada no primeiro turno. A grande dúvida é quem
chegaria ao segundo turno - se algum deles ou um membro da família Bolsonaro.
Mas, se Bolsonaro optar por apoiar Tarcísio para a Presidência até março, a
direita entrará unificada ao redor dele na disputa.
Se a economia vai mal e há um sentimento de
mudança, candidatos da oposição tendem a derrotar Lula no 2º turno
As chances de a direita sair vitoriosa em
2026, no entanto, não devem diminuir por conta de uma fragmentação no primeiro
turno. É importante lembrar que os eleitores só focam sua atenção na disputa
presidencial durante a campanha oficial e, particularmente, no período de
propaganda eleitoral na televisão. Mesmo que o voto oposicionista seja disperso
no primeiro turno, quatro semanas de campanha no segundo turno são tempo
suficiente para aglutinar o sentimento de mudança ao redor de um mesmo
candidato.
Há vários exemplos de candidatos que fizeram
uma arrancada final em uma campanha fragmentada no primeiro turno para vencer
no segundo. Na América Latina, o mais recente é Daniel Noboa, no Equador, em
2023. Pouco conhecido, teve um bom desempenho no debate em uma eleição
fragmentada, chegou ao segundo turno e derrotou Luisa González, mais conhecida
ao longo da campanha. No Brasil, Ibaneis Rocha no Distrito Federal (2018) e
Wilson Witzel no Rio de Janeiro (2018) tiveram trajetórias semelhantes.
Há também vários países nos quais a campanha
eleitoral dura menos que cinco semanas, quase o tempo entre primeiro e segundo
turnos no Brasil. No Canadá, por exemplo, são 36 dias de campanha, e no Reino
Unido e na Austrália, cinco semanas. O ponto é que o entendimento de que é
necessário apresentar um candidato meses antes da disputa para que ele ou ela
ganhe tração não se sustenta empiricamente.
Muitos eleitores só decidem seu voto na reta
final da campanha e, no fundo, há três fatores que realmente importam para o
resultado eleitoral: se há um sentimento de mudança, quais as grandes
preocupações do eleitor e se o candidato que chega ao segundo turno está
alinhado ou não a essas preocupações. Se a economia vai mal e há um sentimento
de mudança, a grande maioria dos possíveis candidatos da oposição tende a
derrotar Lula no segundo turno. A competitividade desse candidato (um
governador ou um membro da família Bolsonaro) importa - mas é um fator
secundário nessa equação.
Christopher Garman
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