Folha de S. Paulo
Na disputa entre Trump e Harvard, surpreende
o pequeno número de atores que se dispõem a enfrentar autoritarismo
Na disputa entre Donald Trump e
a Universidade Harvard,
o que surpreende é o pequeno número de atores que se dispuseram a enfrentar os
ímpetos autoritários do Agente Laranja. Os EUA sempre se autocongratularam por
ser o país que irradiava democracia para o mundo. Onde foram parar seus
defensores?
Entre as grandes universidades, Harvard, após alguma hesitação inicial, foi a única que explicitou o objetivo de resistir às tentativas de Trump de interferir em seus currículos, contratações e até em questões disciplinares.
Empresários que haviam sido vozes críticas ao
republicano em seu primeiro mandato agora se calam. Se há quem ainda o
enfrente, não é desprezível o número dos que passaram a apoiá-lo.
Escritórios de advocacia, dos quais se
esperaria uma defesa mais principiológica das instituições liberais, também
foram rápidos em ceder a Trump, com honrosas exceções, é bom salientar.
As tentativas do governo de influir sobre
universidades e empresas recorrendo a memorandos, ordens executivas e outros
instrumentos infralegais são inconstitucionais. E, enquanto houver juízes na
América, é pouco provável que os tribunais cheguem a outra conclusão. O
problema é que litigar nos EUA, mesmo quando você tem razão, é estupidamente
caro. Dependendo da atividade, você ainda amarga prejuízos enquanto a pendenga
judicial não se resolve. Quem vai contratar um advogado que não pode nem entrar
em prédios federais?
Harvard, escorada num fundo patrimonial de
US$ 53 bilhões e no prestígio de 161 prêmios Nobel, pode dar-se a esse luxo.
Para outros agentes é mais difícil.
O fenômeno é conhecido da psicologia social.
É o "bystander effect". O pior lugar para estar se você precisa
desesperadamente de ajuda é em meio a uma multidão. Cada um dos passantes se
isenta da responsabilidade de socorrer imaginando que outro o fará, e o
resultado líquido pode ser a morte da vítima.
Se os americanos não tomarem a defesa das
instituições liberais como tarefa coletiva, o resultado líquido poderá ser
muito ruim.
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