O Estado de S. Paulo
Generais são contra anistia a militares punidos em caso de vitória, em 2026, do bolsonarismo
Quem questionar o comandante do Exército,
general Tomás Paiva, sobre o destino dos réus militares que – ao que tudo
indica – serão condenados pelo STF pela tentativa de golpe em 2022 vai ouvir
apenas como resposta que a Força vai cumprir a lei.
Assim, quem for condenado a mais de dois anos
de prisão será submetido ao Conselho de Justificação. Mas quem pegar menos de
dois, não estará isento do tribunal de honra – caso do coronel Cid. Há um
consenso na caserna de que ninguém deve escapar da vala. Todos que mancharam o
Exército vão pagar pelo “show de horrores” (palavras de um general) que
proporcionaram.
Bolsonaro chamou os seguidores que não desmobilizou de malucos; Braga Netto jogava vôlei em Copacabana enquanto a turba depredava Brasília. Esqueceram que um comandante jamais se exime de suas responsabilidades, nem transfere a culpa do fracasso a subordinados?
O sentimento dos generais é de vergonha e
repulsa. Quem até então estava alheio aos planos bolsonaristas percebeu do que
se tratava: a submissão da instituição a interesses de uns poucos, que
insuflaram coronéis para que bypassassem generais, quebrando a hierarquia.
Nenhum réu que confessou conhecer as minutas
do golpe deu voz de prisão a desordeiros. Em vez disso, comunicações deles,
flagradas pela PF, mostram que fizeram operação psicológica contra o
Alto-Comando, conforme o Manual de Campanha C45-4, do Exército. Não é por outra
razão que o comandante do 1.º Batalhão de Ações Psicológicas foi preso. O
tanque bolsonarista não precisou sair do quartel, pois agia na internet.
Para generais, o que os réus fizeram foi
pedagógico para a tropa. E a conclusão é que merecem a punição. Será inédito:
general submetido a Conselho de Justificação. Pior do que a condenação civil,
será a militar, ao declarar o réu indigno do oficialato. Isso fará Bolsonaro e
Braga Netto serem expulsos do Exército. E, desta vez, não há como se safar no
STM, pois a perda do posto e patente será automática em razão do tamanho da
pena.
Por fim, as Forças Armadas estão se vacinando
para o caso de, em 2026, algum aliado de Bolsonaro ganhar a eleição. Já
deixaram claro a interlocutores de candidatos da direita que prometeram
anistiar Bolsonaro que vão se opor a medidas que signifiquem reintroduzir a
baderna na caserna ou vingança por terem se oposto ao golpe.
Ao voltar ao poder, Trump se vingou e demitiu
o chefe do Estado-Maior Conjunto, nomeando um general de 3 estrelas para o
lugar. Há, no entanto, uma diferença entre os militares brasileiros e os
americanos: os brasileiros sabem como expor seus argumentos a quem procura
levar indisciplina aos quartéis.
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