- O Globo
Em depoimento, ontem, de mais de quatro horas à Justiça Eleitoral, o herdeiro e ex-presidente do Grupo Odebrecht, Marcelo Odebrecht, deixou mal a ex-presidente Dilma Rousseff e seu ministro da Fazenda Guido Mantega, e relativamente bem o presidente Michel Temer.
Sobre Dilma, disse que ela sabia da origem ilícita do dinheiro doado para sua campanha pela Odebrecht. Sobre Temer, informou que não houve um pedido direto pelo então vice-presidente da República para a doação de R$ 10 milhões ao PMDB. É o que Temer tem repetido.
Segundo Odebrecht, 4/5 dos recursos destinados pela empresa para a campanha da chapa Dilma-Temer em 2014 tiveram como origem o caixa 2. Dilma sabia, sim, dos pagamentos feitos ao marqueteiro do PT, João Santana, a maior parte deles em dinheiro vivo.
O valor acertado para a campanha presidencial da chapa reeleita foi de R$ 150 milhões. Do total, de acordo com Odebrecht, R$ 50 milhões eram uma contrapartida à votação da Medida Provisória do Refis, encaminhada ao Congresso em 2009, e que beneficiou a Braskem, um braço da empresa.
Odebrecht admitiu que tinha contato frequente com o alto escalão do governo. Citou Mantega, com quem negociava repasses de dinheiro para o PT. Afirmou a certa altura: “Eu não era o dono do governo, eu era o otário do governo. Eu era o bobo da corte do governo”.
Quanto à ajuda dada ao PMDB a pedido de Temer: as tratativas para a doação foram feitas entre o ministro da Casa Civil, Eliseu Padilha, e o executivo da Odebrecht em Brasília Cláudio Melo Filho. Odebrecht reconheceu que parte dela foi via caixa 2.
O depoimento de Odebrecht agrava a situação de Padilha, que se licenciou do cargo para ser operado da próstata em Porto Alegre. Padilha foi o principal alvo da delação de José Yunes, amigo de Temer há mais de 40 anos, que disse ter servido de “mula” para ele.
Yunes revelou que, a pedido de Padilha, recebeu um pacote lacrado que lhe foi entregue em 2014 pelo doleiro Lúcio Funaro, hoje preso na Penitenciária da Papuda, em Brasília. E que Padilha, depois, mandou buscar o pacote. Havia dinheiro dentro, segundo Cláudio Melo Filho.
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