- Valor Econômico
Brasil é o 2º país mais complexo, mostra índice da TMF Group
A crise política no Brasil ganhou tamanha dimensão que já tem direito a uma vida paralela. Talvez por essa razão o mercado financeiro mantenha a calma na maior parte do tempo. A inconveniente verdade é que só promove breves interrupções quando os preços dos ativos tornam-se oportunos para trocar de mãos e engordar os caixas, sem levantar suspeita. Simples assim.
Quem supõe que o mercado demonstra indiferença, descaso ou apatia ao não reagir à possibilidade de Michel Temer permanecer na Presidência da República até dezembro de 2018 comete um equívoco. O resultado da soma de três variáveis autoriza o bom tempo. São elas: inflação em queda, juro em queda e estoque de contratos de swap cambial inferior a US$ 28 bilhões, algo não visto na passagem do primeiro para o segundo semestre do ano passado, quando o Senado estava em contagem regressiva para votar o processo de impeachment da então presidente Dilma Rousseff por crime de responsabilidade.
Naquele momento, a inflação estava em alta, o juro também. E o estoque de swap ultrapassava US$ 100 bilhões, o que em muito limitava o poder de intervenção do Banco Central em defesa da taxa de câmbio. Hoje, os participantes do mercado financeiro reconhecem que o BC tem amplo espaço de intervenção, se necessário. Essa constatação já é suficiente para conter, ao menos em parte, a sanha especulativa.
O mercado mira 2019. Confia que terá um presidente com legitimidade para fazer as reformas. "Essa ideia está comprada. E, por essa razão, o mercado não está nem aí se, até outubro de 2018, a Presidência estiver ocupada por Michel Temer ou Rodrigo Maia", comenta à coluna um executivo do sistema bancário na condição de anonimato. Ele sugere que o inquilino do Planalto, neste momento, é uma espécie de pedágio que o mercado tem a pagar pelo conforto de dispor de uma equipe econômica 5 estrelas.
Esse mesmo executivo, que chegou aos 50 anos, viveu no exterior e transita por círculos nacionais e estrangeiros do mercado financeiro, conta que compartilha a convicção de seus pares que o "próximo presidente do Brasil será de centro-direita e não outra coisa. Será da atual coligação que apoia o governo. Tem que ser da turma. Se for do PSDB terá o DEM e só. O PMDB fica com um talvez. A esquerda não terá candidato competitivo. E Temer fica. E porque fica? Ele fica até 2018 porque ninguém sai de uma situação de poder sem saber quem é o candidato possível [a ser eleito para o cargo]".
O entrevistado da coluna nesta semana tem uma visão pragmática da reforma da Previdência. "Veja, essa reforma produz resultados em dez anos ou mais. Nada foi feito sobre isso no Brasil até hoje. As contas estão no osso, como quase sempre estiveram, mas só nos últimos três anos soubemos que havia roubo. Até quanto e por quanto tempo e em quantas áreas o Brasil foi uma fraude? Nesse sentido, atrasar uma reforma tão relevante um ano ou dois vai quebrar o país? Quem serão os prejudicados? Não será essa a nossa oportunidade histórica de evitar o arremedo?"
A prisão do ex-deputado e ex-assessor do presidente Michel Temer, Rodrigo Rocha Loures, por determinação do relator da Operação Lava-Jato no Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Edson Fachin, que deve ser transferido hoje para a Papuda; o início do julgamento da chapa Dilma-Temer, vitoriosa na eleição de 2014, pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), amanhã, por suposto crime eleitoral, e a expectativa de negociação da delação do ex-ministro Antonio Palocci com o Ministério Público Federal (MPF), que já movimentou o after market da B3, na sexta-feira, são, por ora, os principais eventos da agenda paralela da semana - aquela gestada pela prolongada crise política. Na agenda oficial, os destaques são a ata do Copom, o resultado da inflação medida pelo IPCA e IGP-DI de maio, a reunião de política monetária do Banco Central Europeu (BCE) e uma bateria de indicadores econômicos da China.
Nesta segunda-feira, a TMF Group - um dos maiores fornecedores mundiais de serviços empresariais de alto valor para clientes que operam e investem internacionalmente - divulga o Índice de Complexidade Financeira 2017.
Esta edição - a que a coluna teve acesso - analisou as normas de conformidade, declarações, contabilidade e impostos de 94 países na Europa, Oriente Médio, África, Ásia-Pacífico e Américas. E concluiu que o Brasil é o segundo país mais complexo do mundo e o primeiro das Américas em termos de conformidade fiscal e contábil. No relatório de 2016 o Brasil ocupava a 10ª posição.
Pior que o Brasil em 2017, só a Turquia. O Brasil também integra o grupo de cinco países do continente americano que são destaque entre os 15 mais complexos do mundo na região. Na América Central e América do Sul: Brasil (2º), Colômbia (6ª), Argentina (9ª), Bolívia (12ª) e México (15º).
Marco Sottovia, diretor da regional do Brasil da TMF Group, explica que além do atual cenário político e econômico, as complexas regulamentações fiscais e tributárias brasileiras dificultam cada vez mais a expansão das empresas no país. "Os requisitos das declarações de impostos do Brasil são tão complexos que afetam diretamente a nossa competitividade, tornando menos vantajoso para empresas estabelecerem negócios localmente, fazendo com que o capital se instale em outros países. O Estado também possui critérios rígidos de fiscalização, o que exige cautela das empresas para o cumprimento de todos os regulamentos de modo a mitigar riscos".
A TMF Group informará no relatório, a ser divulgado nesta segunda-feira, que mais de 90 impostos, taxas e contribuições são cobrados no Brasil e variam de acordo com as jurisdições federais, estaduais e municipais. O Índice de Complexidade Financeira 2017 observa que o governo brasileiro lançou o eSocial - projeto conjunto de várias agências federais de envio de dados de empregadores e empregados - e promete criar um sistema único que atenderá às diferentes instituições.
"No Brasil, a conformidade pode tornar-se mais complexa no curto prazo, devido à necessidade de investimentos em pessoas e hardware", diz Sottovia.
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