O superávit recorde de US$ 67 bilhões da balança comercial em 2017 deixou o governo entusiasmado. "Esse crescimento extraordinário mostra a retomada da economia brasileira", comemorou o presidente Michel Temer em mensagem no Twitter. O desempenho também chamou a atenção do Financial Times, que o atribuiu à expansão econômica não só do Brasil, mas da América Latina. O jornal britânico destacou especialmente o aumento das exportações de automóveis: quase um em cada três veículos produzidos no país foi para o mercado externo; e mais de 60% dos veículos Volkswagen vendidos na Colômbia foram fabricados no Brasil.
De fato, a indústria automobilística acaba de divulgar que exportou 762 mil veículos em 2017, 28% dos quase 2,7 milhões produzidos no ano, volume 25% superior ao de 2016, o que permitiu às montadoras contratarem 5,5 mil trabalhadores, depois de terem fechado 35,7 mil vagas nos três últimos anos. Os principais produtos exportados pelo país continuam sendo minério de ferro (em valor) e soja (em volume). As vendas externas de produtos básicos cresceram 28,7%; os semimanufaturados 13,3%; e os manufaturados, 9,4%. Depois de cinco anos em queda, as exportações voltaram a ganhar impulso, aumentando 18,5%, para US$ 217,7 bilhões; e as importações tiveram a primeira expansão, após três anos seguidos de retração, de 10,5%, para US$ 150,7 bilhões.
Também ajudou a ampliar o saldo comercial a recomposição dos preços das commodities exportadas, que subiram 10,1% em média, impulsionados pela pressão compradora da China. A China segue sendo o principal mercado brasileiro, com compras ao redor de US$ 50 bilhões no ano passado, ou 21,8% do total, praticamente o dobro dos US$ 26,9 bilhões dos Estados Unidos, segundo colocado, seguido por Argentina e Holanda.
Para este ano, a previsão é de um superávit menor, entre US$ 50 bilhões e US$ 55 bilhões, mas será, ainda assim, o segundo maior da história. São vários os motivos para o recuo. As exportações devem crescer, embora menos do que em 2017, mas as importações serão ainda maiores, em consequência da recuperação da economia, que vai ampliar a demanda por produtos intermediários, insumos e bens de capital. Com o volume importado maior do que o exportado, a consequência é uma menor contribuição para o Produto Interno Bruto (PIB), que deve aumentar de 2,5% a 3%.
A safra agrícola deverá ser menor, liberando menor volume para o mercado externo. Os produtos básicos continuarão dominando metade da pauta de exportações, com destaque para os minerais, o que torna a receita obtida incerta dadas as oscilações dos preços das matérias-primas no mercado internacional. A dominância da China entre mercados compradores é outra fonte de incerteza, embora o Fundo Monetário Internacional (FMI) preveja que o país asiático deve crescer 6,5%.
Os manufaturados e semimanufaturados continuarão representando a outra metade da pauta. Muitas empresas devem se voltar mais para o mercado interno, aproveitando a maré da retomada. As montadoras pretendem continuar exportando para o Mercosul, mas aumentarão as importações para se livrar de sanções.
Apesar dos saldos comerciais recordes, o Brasil mantém presença tímida no comércio internacional. Após dois anos de declínio, a corrente de comércio brasileira, representada pela soma das exportações e importações, cresceu em 2017. Mas o resultado de US$ 368,5 bilhões é inferior ao registrado de 2011 a 2014. A participação do país no comércio global era de 1,4% em 2011. Agora caiu para 1,2% e o governo espera aumentá-la, apoiado na expectativa de aumento de 3,2% do comércio mundial da Organização Mundial do Comércio (OMC) e da previsão de um câmbio estável. Uma melhora consistente depende, porém, de outros fatores como a solução das deficiências de infraestrutura, da redução do custo elevado da mão de obra e das defasagens de tecnologia, entre outros problemas, além do avanço dos acordos comerciais. Uma esperança é o acordo do Mercosul com a União Europeia, que pode ser fechado neste ano. O bloco também quer levar adiante acordos com Canadá, Índia, Coreia do Sul, Tunísia, Líbano e os quatro países do EFTA (Noruega, Suíça, Islândia e Liechtenstein).
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