sexta-feira, 8 de abril de 2022

Bernardo Mello Franco: Não basta cassar o vereador Gabriel Monteiro

O Globo

Depois do vereador acusado de matar o enteado, o Rio tem um vereador suspeito de promover orgias com menores. No ano passado, a Câmara Municipal cassou Dr. Jairinho, preso pelo assassinato do menino Henry Borel. Agora deve julgar Gabriel Monteiro, dublê de youtuber e parlamentar.

O ex-PM ganhou fama quando ainda vestia farda. Usava a imagem e as armas da corporação para posar de justiceiro na internet. Aos 26 anos, resolveu testar a popularidade nas urnas. Foi o terceiro vereador mais votado da cidade, à frente de veteranos como o ex-prefeito Cesar Maia.

Filiado ao PL de Jair Bolsonaro, Monteiro seguiu o exemplo de indisciplina do capitão. Considerado um mau militar, chegou a ser expulso da polícia por excesso de faltas. Na Câmara, ele encontrou uma nova forma de caçar likes. Passou a levar equipes de filmagem para gravar incursões em escolas, abrigos e hospitais.

A pretexto de fiscalizar os serviços públicos, o vereador se tornou conhecido por forjar flagrantes e intimidar servidores. Numa performance que viralizou nas redes, invadiu uma UPA e acordou um médico em horário de descanso. Em outro episódio, insinuou que dois profissionais de saúde faziam sexo no trabalho. Foi condenado a pagar indenização de R$ 20 mil por danos morais.

A quantia representa um trocado diante do que ele fatura com seu teatro miliciano. Em depoimento à polícia, um ex-assessor contou que o bolsonarista recebe até R$ 300 mil por mês das plataformas digitais.

O sensacionalismo eletrônico sempre rendeu votos. No passado, o programa “O Povo na TV” produziu fenômenos eleitorais como Wagner Montes e Roberto Jefferson. A diferença é que esses personagens se integravam à política institucional. Figuras como Monteiro e Arthur do Val, o Mamãe Falei, não esboçam nenhum interesse pela atividade parlamentar. Só usam os mandatos para gerar audiência e ganhar dinheiro.

Ontem o ex-PM viveu uma inversão de papéis. Foi acordado com uma operação policial para apreender seus vídeos com adolescentes. Sua provável cassação não resolverá o problema dos vereadores e deputados youtubers. É preciso convencer as plataformas a cortar a remuneração de quem rebaixa a política para faturar nas redes.

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