Em outros casos, a privatização é
impulsionada por necessidade fiscal. Para geração de receitas derivadas da
venda dos ativos públicos ou alívio do fluxo do Tesouro que tem que subsidiar
empresas.
Nestes casos, a questão central é a destinação dos recursos. É essencial que os frutos da privatização sejam usados para a reestruturação patrimonial dos governos, sendo utilizados para gerar soluções de longo prazo ligadas à dívida pública ou ao sistema previdenciário. É um crime vender patrimônio para financiar gastança de curto prazo. Como ensina a metáfora dos economistas, seria como “vender geladeira e fogão para comprar comida”.
Nem tudo que é público é estatal, como nos
mostram as entidades filantrópicas. E nem tudo que é estatal é público, como
nos ensinam os casos de apropriação privada do espaço público através do patrimonialismo,
da ineficiência e da corrupção. Vivi experiência pessoal na venda dos bancos
estaduais de Minas Gerais. O Credireal, nos idos de 1996, custava ao Tesouro
Estadual, à título de capitalização necessária para o banco ficar de pé, 150
milhões de reais por ano, a preços da época.
Ou seja, tirávamos quase 1,2 bilhões de reais
em valores atuais por ano da saúde e da educação para manter aberto um banco
comercial deficitário.
Quem seria contra uma privatização dessas?
Como fica claro, não alimento idiossincrasias
contra privatizações ou empresas estatais. O atual governo federal optou por recuar
no enxugamento do Estado, retirando empresas como Correios, Empresa Brasil de
Comunicação, Telebrás, Conab e Ceitec (chips) do Programa Nacional de
Desestatização (PND) e do Programa de Parcerias de Investimentos (PPI). Por
outro lado, governos estaduais avançam seus programas de desestatização. O
governo do Rio Grande do Sul privatizou as três companhias do setor elétrico
(geração, transmissão e distribuição), a Sulgás e a empresa de saneamento,
CORSAN. O governo do Paraná vendeu sua companhia elétrica, a COPEL. Já em São
Paulo, a intenção do governo é privatizar o Metrô, a CPTM (trens
metropolitanos) e a SABESP.
Em etapa bem mais embrionária, o governo de
Minas estuda a privatização da CEMIG, da COPASA e da CODEMIG. Independente de
juízo político-ideológico, a opção por privatizar deve responder a três
desafios: a modelagem, a precificação e a regulação posterior. A modelagem é
trabalhosa. Às vezes é preciso fatiar para aumentar a competição e valorizar o
ativo. A venda do controle também agrega valor. Não julgo que a simples
diluição de participação no mercado acionário seja o melhor caminho, como foi
feito com a BR Distribuidora e a Eletrobrás.
Também, não vejo sentido em vender ativos ligados
aos minérios do futuro como Lítio e Nióbio, caso de Minas. A escolha adequada
do modelo e do momento pode representar ganhos financeiros maiores para a
sociedade e maior eficiência futura.
Por último, para os serviços que continuam
públicos (saneamento, energia, transporte, telefonia, etc.) com operação
delegada à iniciativa privada é preciso fortalecer, e muito, as agências
regulatórias.
Resumindo, em tudo isso, aprendamos com Sérgio Mota e sua equipe.
*Economista e Professor. Ex-Deputado Federal
pelo PSDB-MG. Secretário de Estado de Saúde de Minas Gerais (2003-2010).
Diretor-Executivo do IFI – Instituição Fiscal Independente do Senado.
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