O Globo
Governador de SP toma a frente de Bolsonaro e
Lula na percepção do risco que ex-coach representará para 2026 caso seja eleito
Enquanto à direita e à esquerda sobrava
perplexidade e faltava coragem para enfrentar o incêndio Pablo Marçal quando
ele começou a se alastrar na política paulistana, o governador Tarcísio de
Freitas fez uma jogada de risco: tomar a frente da resistência e apostar num
candidato de carisma duvidoso no momento em que ele ardia nas chamas da queda
nas pesquisas e da debandada de aliados.
A aposta, de altíssimo risco no momento em
que foi feita, será bem-sucedida? O resultado da eleição mostrará, mas, para
além das urnas, a decisão do governador de São Paulo de se afastar da
orientação de Jair Bolsonaro e assumir a liderança da condução da coalizão de
direita na capital do estado pode ter consequências importantes para o
rearranjo político posterior ao pleito municipal.
Até esse episódio, Tarcísio vinha evitando
divergir da orientação do ex-presidente e padrinho político. Por lealdade ou
cautela, não hesitou sequer em comparecer a atos de confronto com o Judiciário
como no último 7 de Setembro, algo que não condiz com o estilo negociador que
ele vem procurando cultivar, mesmo com o governo federal.
Mas, quando Bolsonaro tremeu na base diante da febre Marçal e se recolheu àquela covardia característica, orientando seu ex-ministro a também tirar o time de campo, Tarcísio ignorou a orientação e colocou um então abatido Ricardo Nunes debaixo do braço para convencer o eleitorado de que o prefeito era a melhor opção.
O efeito captado por duas rodadas de
pesquisas feitas desde que ficou mais evidente a preeminência do governador na
propaganda de Nunes é de estagnação da onda do ex-coach e reação do emedebista.
Nos 20 dias que restam a uma campanha marcada por ausência de racionalidade e
violência inaudita, é cedo para qualquer prognóstico definitivo sobre quem vai
ao segundo turno, mas, se confirmado o favoritismo mostrado pelo Quaest e pelo
Datafolha para Nunes em caso de segunda fase da disputa, Tarcísio arrastará as
fichas sozinho, sem chance para Bolsonaro tentar fazer arminha e surfar na
onda.
O que isso representa em relação a outra
campanha que se avizinha, a presidencial de 2026, ainda é cedo para dizer. Mas
não é prematuro cravar que Tarcísio resolveu apagar o fogo ainda no início, ao
perceber, com clareza maior que o predecessor e o próprio Lula, que, se Marçal
for eleito prefeito da maior cidade do país, com a chave do cofre do terceiro
maior orçamento, será presidenciável no dia seguinte.
Dada a disputa pelo espólio bolsonarista na
direita, isso poderia significar “pular” a geração de Tarcísio e dos demais
governadores, que seriam engolfados pelo influenciador. E o que significa o
silêncio do restante do establishment político diante do grau de depredação do
debate público que Marçal promove? Que pouco ou nada aprenderam com Bolsonaro.
Em 2018, era fácil culpar a imprensa e a
Lava-Jato pela “criminalização” da política que levara à vitória de Bolsonaro.
Pois o que explica o silêncio da esquerda diante do avanço de um coach de
passado coalhado de investigações, que aposta no caos? Por que a aposta velada
de parte da campanha de Guilherme Boulos de que seria “melhor” enfrentar
Marçal, num cálculo míope e imediatista de chances eleitorais que não leva em
conta o risco da transposição de um fenômeno que corrói a própria política para
além das fronteiras da cidade de São Paulo?
É muito fácil arrumar culpados para anomalias
como a que tomou conta da disputa paulistana enquanto o tal “sistema” se omite
de enfrentá-las. A campanha de Kamala Harris mostra quanto a coragem de
enfrentar extremistas pode fazer a diferença. No caso de Marçal, Tarcísio
parece ter sido dos poucos a entender a própria responsabilidade e o risco que
ele mesmo corre.
7 comentários:
Quanta narrativa, estão pintando Marçal como um bicho papão , que na verdade se buscar as rejeições o Candidato das extrema esquerda do PSOL Guilherme Boules está disparado na frente pelo Datafolha com 56% de rejeição , a maior rejeição de todos os candidatos e ninguém fala nisso, esse é o maior risco que o eleitor já percebeu mas como é o queridinho do Lula os Jornalistas passam pano
O Boules será o grande derrotado nessas eleições e o Marçal será o vencedor desse pleito por mais que vocês queiram Denegri lo
Anônimo, saidessa!
Perfeita e esclarecedora análise de Vera Magalhães.
Anônimo acertou na mosca: vai dar Marçal; e saída dessa :-)
Nunes acaba sendo reeleito.
A covardia característica de Bolsonaro... Parabéns! A colunista captou a essência do GENOCIDA!
"pouco ou nada aprenderam com Bolsonaro." Ainda bem! O que Bolsonaro tem ou teria pra ensinar? Mentiras, covardia, como fazer arminha...
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