sábado, 26 de outubro de 2024

Alvaro Costa e Silva - Saúde pública fatiada e arruinada

Folha de S. Paulo

Depois de receber mais de R$ 21 milhões, laboratório investigado tem aspecto de muquifo

Responsável por mais de 50 unidades de saúde —entre as quais o laboratório Saleme, investigado por erros em laudos que fizeram com que órgãos contaminados com o vírus HIV fossem transplantados em seis pacientes—, a Fundação Rio cresceu após um escândalo de corrupção. Uma corrupção sem fim que arruína a saúde pública no país, fatiada e privatizada, permitindo que grupos de criminosos metam a mão no dinheiro destinado a salvar vidas.

Criada em 2007 como alternativa para contratar profissionais e comprar insumos de forma rápida, a fundação ganhou status de supersecretaria a partir de 2020, durante a pandemia de Covid.

Denúncias de irregularidades na construção de hospitais de campanha pela OS Iabas levaram ao impeachment do governador Wilson Witzel. Foi um processo relâmpago, que encerrou a carreira política de quem havia sido eleito na onda bolsonarista e, em pouco tempo, mudou de lado, virando um perigoso desafeto do ex-presidente, com poder para influir nas investigações sobre o esquema de rachadinha do filho 01.

Após o afastamento de Witzel, uma lei obrigou o Estado a assumir as unidades de saúde administradas por OSs. A Fundação Saúde inchou. Como mostraram os repórteres Luiz Ernesto Magalhães e Rafael Soares, as contratações consideradas emergenciais, que deveriam ser exceção, tornaram-se regra. A soma dos valores de contratos assinados sem licitação neste ano é três vezes maior do que a de pregões eletrônicos.

O governo Cláudio Castro repassou ao Saleme mais de R$ 21 milhões. O laboratório, em Nova Iguaçu, tem aspecto de muquifo. Fiscais encontraram no local 39 anormalidades, desde insetos a falta de documentação. No entanto, dias antes de ser interditado pela Vigilância Sanitária, uma vistoria feita pelo Instituto Estadual de Cardiologia havia aprovado o funcionamento da unidade.

Nova Iguaçu é o reduto eleitoral do deputado Doutor Luizinho, ex-secretário estadual da Saúde que ainda manda na pasta. A irmã dele era diretora da Fundação Rio; um primo é sócio do Saleme. Tosco, o líder do Progressistas na Câmara perguntou: "Se um parente meu matar alguém, eu sou o culpado?".

Um comentário:

Anônimo disse...

A população referenda.nas urnas parasitas como este.