- Folha de S. Paulo
Performances muito acima ou abaixo da média são por definição incomuns. Assim, quando alguém começa a agir surpreendentemente bem ou assustadoramente mal, o mais provável é que logo volte a seu desempenho típico. O nome do fenômeno é regressão à média.
Na vida prática ele nos leva a inferências incorretas, como supervalorizar o poder da punição e subestimar o do reforço positivo. O aluno mediano vai mal na prova e toma uma reprimenda do professor. Como, no teste seguinte, o normal é o estudante voltar à nota mediana, o mestre achará que a bronca funcionou. Já o discípulo que se sai muito bem na avaliação será elogiado. Como dificilmente repetirá o desempenho, o professor concluirá que o incentivo de nada serviu. Nossas mentes ávidas por causalidade não processam bem a distribuição aleatória da sorte e do azar.
A administração Temer vive seus dias de regressão à média. Como se sabe, o governo é bom para angariar apoios no Congresso, não se destaca em pensamento estratégico e é um desastre quando precisa lidar com a opinião pública.
Por um instante, Temer pareceu ter quebrado os grilhões da mediocridade. Após a morte do ministro Teori Zavascki, ele jogou surpreendentemente bem. Era uma situação em que o presidente, que tem como principais assessores gente muito citada na Lava Jato, tinha tudo para enforcar-se. Mas, ao anunciar que esperaria o STF designar um novo relator para a matéria antes de nomear um substituto para Teori, fez uma jogada de mestre e evitou cair numa emboscada do destino.
A boa fase não durou. Temer voltou a ser ele mesmo e decidiu dar um cargo de ministro ao enroladíssimo Moreira Franco, blindando-o contra Moro na Lava Jato, e indicar Alexandre de Moraes para o STF, transferindo diretamente para a corte que poderá julgar atos de seu governo alguém que até ontem estava no governo.
É difícil transcender à própria natureza.
Nenhum comentário:
Postar um comentário