- O Estado de S.Paulo
Os 'defensores dos direitos humanos' vão defender a liberdade dos assassinos de Marielle?
A segurança em nosso país é costumeiramente tratada como questão secundária, quando, na verdade, é - ou deveria ser - o eixo de estruturação do Estado. Não é sensato considerar de menor importância a segurança física e patrimonial das pessoas, problema que aflige os cidadãos em sua vida cotidiana. Pior: enquanto o crime é avassalador nas ruas das grandes cidades, temos ainda de aguentar o politicamente correto invadindo a mente de qualquer um. A insensatez e o seu correlato, a impunidade, terminam tomando conta da cena pública.
A questão chega a ser inusitada, pois o politicamente correto termina por criar uma completa inversão de valores, respaldada numa suposta boa consciência que tem como objetivo impor-se a toda a sociedade. Na verdade, constitui uma minoria barulhenta que se recusa ao escrutínio da maioria. Teme debates públicos e consultas populares, como referendos e plebiscitos, respaldando-se numa representação de si mesma apresentada como “progressista” e inquestionável.
Bandidos e traficantes ostentam armas de grosso calibre em favelas ou fora delas, Brasil afora, e o politicamente correto conduz toda uma campanha de desarmamento do cidadão. Ou seja, o problema consistiria em armas supostamente em poder dos cidadãos de bem, que se tornariam, por curiosa inversão, os responsáveis indiretos pela criminalidade no País. O cidadão encontra-se desarmado, não tem mais nem o direito à legítima defesa, enquanto os bandidos exibem armamento de restrito uso militar, mostrando todo o seu poder de fogo. Policiais são assassinados, mas basta a morte de um criminoso para que se iniciem investigações patrocinadas por ditas comissões de direitos humanos.
O Rio de Janeiro ostenta a aterradora cifra de mais de uma centena de policiais assassinados, porém isso não se traduz em atenção dessas “comissões”, que empregam toda a sua energia no cuidado de marginais e criminosos presos. A instrumentalização do conceito de direitos humanos é visível, visto que policiais nem mereceriam a denominação de seres humanos.
No nível propriamente político não é muito diferente, quando uma comissão do Senado, representante novamente dos ditos “direitos humanos”, visita para inspeção o preso mais bem tratado do País, o ex-presidente Lula, em evidente intento de encenação política. Para além da pura exibição, nada encontraram. Tudo indica que esses parlamentares não têm nenhuma preocupação com os milhares de pessoas, de baixa extração social, que vivem sob condições penosas por crimes muitos menores. Para o politicamente correto, tem de ser uma figura visível da esquerda ou alguém que possa por esta ser instrumentalizado.
O direito do cidadão, do homem de bem, é usurpado, enquanto os criminosos encontram defensores. Um direito básico, o direito à vida, que se expressa também no direito à autodefesa, é liminarmente eliminado por uma minoria ruidosa que procura impor sua posição nos meios de comunicação e àqueles que decidem a vida política nacional. Um direito constitucional é suprimido ideologicamente, como se estivéssemos em um situação de normalidade legal. Note-se que a cobertura jornalística é frequentemente deturpada, como quando um bandido é morto em confronto. Os defensores do politicamente correto logo o caracterizam como uma pessoa comum de baixa extração social, numa ação previamente concertada, quando então é dada cobertura aos criminosos.
Numa festa de milicianos, mais de 150 suspeitos foram presos, com troca de tiros e morte de criminosos, numa ação levada a cabo graças à intervenção federal no Rio de Janeiro. Impressionante o número de notícias de repercussão na mídia em geral, protestando contra essas prisões. Dizem-se a favor da segurança, porém procuram minar qualquer medida repressiva. É como se não existissem milicianos criminosos e traficantes, sendo tudo isso fruto de algum tipo de erro. Talvez o erro maior seja a impunidade reinante, que acabou produzindo esse estado de calamidade pública.
O politicamente correto termina por postular determinada conduta penal e carcerária, que deveria ser admitida por ser dita “progressista”. Seria o progresso o “direito humano” de estupradores e criminosos continuarem a cometer os seus crimes? Tentam os seus ideólogos rotular, novamente, os adversários como retrógrados, conservadores e direitistas, como se assim a questão estivesse resolvida. Na verdade, o politicamente correto, sob essa bandeira pervertida dos “direitos humanos”, procura abolir o direito básico dos cidadão à vida e ao patrimônio.
Por exemplo, os que advogam pelo atual Estatuto do Desarmamento teimam, à revelia de qualquer evidência, em criticar os que defendem o direito à legítima defesa como se estes fossem responsáveis indiretos pela criminalidade. Ora, ora! O crime mostra sobejamente que não são quaisquer armas por esses meliantes utilizadas.
Por que, ademais, se recusam a uma consulta popular? Será por temerem decisões democráticas, majoritárias? Preferem o abrigo midiático do politicamente correto, uma zona de conforto de sua suposta “boa consciência”.
Não muito diferente é a desconfiança em relação aos militares na intervenção federal no Rio de Janeiro. Não cessam de clamar por múltiplas precauções, como se esse Estado vivesse uma condição de normalidade, quando, na verdade, está completamente desestruturado, tomado pelo crime. O Estado deveria proteger os cidadãos, e não ser o lugar de uma ocupação criminosa, que acaba por ser ideologicamente acobertada.
Provavelmente, em pouco tempo os criminosos de Marielle Franco serão identificados e presos. Os “defensores dos direitos humanos” vão defender a liberdade desses assassinos? Vão se comportar como se comportam com os policiais assassinados?
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Denis Lerrer Rosenfield é professor de Filosofia na UFRGS.
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