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É temporária, não se enganem
A indicação de Augusto Aras para o cargo de Procurador-Geral da República rachou a base de apoio ao presidente Jair Bolsonaro nas redes sociais, onde ele costuma nadar de braçada, e repercutiu mal dentro do seu partido, o PSL.
Nada, de alguns meses para cá, deixou Bolsonaro mais assustado. A ponto de ele ter suplicado por compreensão e paciência no seu programa semanal ao vivo no Facebook da última quinta-feira, e de ter repetido a súplica ontem.
Pela primeira vez, na nova versão de “presidente humilde e frágil”, Bolsonaro pareceu emocionado e declamou sem elevar o tom da voz, quase chorando: “Reconheço as minhas limitações, a minha incompetência em alguns momentos”.
Esqueceu a advertência que fizera na véspera de que não deve “lealdade cega” nem mesmo aos que o elegeram, e de que o eventual insucesso do seu governo poderá resultar na volta do PT ao poder com todos os males que isso significaria.
Amigo do senador Jaques Wagner (PT-BA), com bom trânsito entre petistas cinco estrelas, Aras foi alvo de um dossiê entregue por deputados do PSL a Bolsonaro que eram contra sua a indicação para a Procuradoria Geral da República.
Notícias sobre o dossiê ganharam as redes sociais impulsionadas por bolsonaristas sinceros, porém radicais. Junto com o alerta de que se ele fosse escolhido, o combate à corrupção perderia força e o PSL poderia cindir-se de vez e para sempre.
A suspeita foi reforçada com manifestações de procuradores ligados à Lava Jato que recomendaram a Bolsonaro a escolha de outro nome – de preferência, um dos três sugeridos pela massa de procuradores em votação direta. Foram ignorados.
O Procurador-Geral da República pode muito, mas não pode tudo. Em matéria de importância, o cargo só perde para os de presidentes da República, da Câmara dos Deputados, do Senado e do Supremo Tribunal Federal. É mais importante que o cargo de vice-presidente.
Difícil que Aras vá se empenhar em enfraquecer o combate à corrupção. Não combina com o seu perfil e lhe faltaria apoio entre os colegas. Desconfia-se é que Bolsonaro pessoalmente já não esteja mais tanto assim comprometido com o combate à corrupção.
O ministro Sérgio Moro caiu em desgraça junto a Bolsonaro por tentar reverter a decisão do ministro Dias Toffoli, presidente do Supremo, que, atendendo a um pedido do senador Flávio Bolsonaro, brecou investigações sobre a corrupção com base em dados fiscais.
Foi deslealdade de Moro na opinião de Bolsonaro, afinal a decisão solitária de Toffoli, que em breve será referendada ou não pelos seus pares, beneficiou não só Flávio como por tabela toda a sua família que corria o risco de ser também investigada.
A vida de Aras na Procuradoria Geral da República não será fácil. Como, de resto, não foi a dos seus antecessores.
Foi a facada que elegeu o capitão?
A pergunta que ainda se faz
A essa hora, há exato um ano, Jair Bolsonaro, o candidato azarão à presidência da República, estava entubado em estado grave na UTI da Santa Casa de Misericórdia de Juiz de Fora, Minas Gerais, depois de ter sido esfaqueado na véspera pelo pedreiro Adélio Bispo. Perguntava-se: se sobrevivesse, continuaria candidato?
Uma vez eleito, a pergunta que se fez e que muitos hoje ainda se fazem é: Bolsonaro teria vencido aquela eleição se Adélio não tivesse cruzado o seu caminho? Ou: a facada foi decisiva para que ele se elegesse? A pergunta jamais terá uma resposta satisfatória porque o momento ainda está impregnado de paixões.
Na noite do dia 6 de setembro do ano passado, a menos de 12 horas de ser esfaqueado, Bolsonaro tinha 21% das intenções de voto na pesquisa feita por telefone pelo Instituto Ideia BigData. No dia 10 saltou para 24%. No dia 18 para 27%. No dia 25 para 31%. E no dia 5 de outubro para 33%. Seu crescimento foi constante.
Recuemos pouco mais de um ano. Entre abril de 2017 e novembro daquele ano, o voto espontâneo em Bolsonaro quase dobrou de tamanho. Foi de 6% para 11%. O que se passou no período? Aécio Neves (PSDB) foi flagrado pedindo dinheiro ao empresário Joesley Batista, e Joesley gravou o presidente Temer no Palácio do Jaburu.
Políticos e empresários foram presos. Um ex-deputado, assessor de Temer, foi filmado carregando uma mala estufada de dinheiro no centro de São Paulo. A Lava Jato estava a pleno vapor. A imprensa só falava disso. E a indignação dos brasileiros com a corrupção só fazia aumentar. O desemprego também aumentava.
Sim, a facada deu a Bolsonaro uma cobertura midiática que ele jamais teria. Seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão era insignificante. Fora o minúsculo PSL, nenhum outro partido quis juntar-se a ele. A facada liberou Bolsonaro para que faltasse aos debates com os demais candidatos. Sim, mas…
Mas o candidato que até agosto liderava todas as pesquisas de intenção de voto, o ex-presidente Lula, estava preso e condenado por corrupção. Em junho de 2018, a uma pergunta feita pelo BigData, 57% dos eleitores entrevistados haviam respondido que “não votariam em um candidato do PT de jeito nenhum”.
O PT fizera pelo menos três apostas erradas. A primeira: Lula poderia ser solto a tempo de disputar a eleição. A segunda: se não fosse, transferiria seus votos para Fernando Haddad. A terceira: Bolsonaro seria o candidato mais fácil para derrotar. Haddad não herdou todos os votos de Lula, mas herdou toda a rejeição ao PT.
O voto útil manifesta-se no segundo turno de uma eleição quando o eleitor vota em um candidato para impedir que o outro ganhe. No primeiro turno da eleição de 2018, diante da fraqueza dos demais candidatos, o voto útil por pouco não elegeu Bolsonaro. Ele obteve 46,3% do total dos votos válidos, e Haddad, 29,8%.
O eleitorado cavalgou Bolsonaro para votar contra tudo o que rejeitava. Nisso, a eleição de 2018 foi parecida com a de 1989, a primeira depois do fim da ditadura militar. Em 1989, foram para o segundo turno os dois candidatos que se apresentavam como contrários a tudo – Fernando Collor e Lula.
O pragmatismo do eleitor é conhecido. Ele não tem compromisso com o erro. Collor governou por menos de três anos dos quatro a que tinha direito. Começou a cair quando pediu às pessoas que fossem às ruas vestidas de verde e amarelo para apoiá-lo.
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