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Nordeste está fora do radar do governo
Sabem quantas vezes o presidente Jair Bolsonaro sobrevoou a Amazônia em chamas desde que a destruição da floresta virou um escândalo internacional e foi parar no plenário da ONU, em Nova Iorque, e nos salões pontifícios no Vaticano?
Nenhuma. Com toda a frota de aviões da Força Aérea Brasileira à sua disposição, e mais de um Boeing presidencial, Bolsonaro não se deu ao trabalho, nem tão pesado assim, de sobrevoar a Amazônia, quando nada para tirar umas fotos ou fazer uma live.
A pergunta seguinte é mais fácil de responder. Sabem quantas vezes Bolsonaro molhou os pés para ver de perto a tragédia da derrama de petróleo nas praias nordestinas que não tem data para acabar – como, de resto, a da Amazônia tampouco?
Nenhuma até agora. Bolsonaro embarcou ontem à noite para uma visita à China e a outros países asiáticos sem deixar sequer uma mensagem de solidariedade aos que por sua conta e risco recolhem com as mãos as poças de petróleo nas praias.
Às primeiras denúncias sobre incêndios na Amazônia, Bolsonaro respondeu culpando ONGs internacionais interessadas em conspurcar a imagem do governo e contribuir para a ocupação daquela área por países que cobiçam suas riquezas.
Quando o petróleo começou a chegar às praias, matando parte da fauna marinha, ameaçando a pesca, a vida dos pescadores e a indústria do turismo, Bolsonaro correu a assegurar que a origem dele estava na Venezuela. Insinuou poder tratar-se de um crime.
Milhares de navios de todas as bandeiras cruzam o Atlântico abarrotados de petróleo venezuelano – e nem por isso, sem amparo em provas ou em evidências confiáveis, pode-se sugerir que a Venezuela seria a responsável pela tragédia.
Em menos de 10 meses, o governo provou duas vezes que pouco se lixa para a preservação do meio ambiente. Por extração de minérios via garimpo e empresas transnacionais, lixa-se sim, talvez porque como capitão Bolsonaro tentou ser garimpeiro.
O Nordeste está fora do radar. Ali, ele perdeu a eleição para o PT (70% x 30%). Foi a única região que lhe recusou a maioria dos votos. O primeiro governador da safra de 2018 alvo de ataques de Bolsonaro foi o da Bahia. O de Pernambuco, o mais recente.
Nos anos 70 do século passado, o governo federal aliava-se aos estaduais e socorriam os flagelados pela seca no Nordeste pagando-lhes um salário temporário para que limpassem estradas ou construíssem algumas mesmo que precárias.
O que impede que a fórmula seja resgatada para socorrer comunidades de pescadores flageladas pelo derrame de petróleo? O impedimento está em que nos planos do capitão o ser humano mais desprovido de recursos não é prioridade, e jamais será.
Este é um governo de ricos e para os ricos. As migalhas que escapem à mesa poderão ser aproveitadas pelos pobres. A economia dá sinais de recuperação – mas quem preferencialmente se beneficiará disso? Não serão os que mais precisam.
Se fossem eles, o Brasil não seria um dos países socialmente mais desiguais do mundo.
Palavra é prata. Silêncio é ouro
Segredos em segredo ficarão
Fora Roberto Jeffeson (PDT-RJ), que ao denunciar o mensalão do PT quase liquidou o governo Lula, mas em compensação liquidou-se, o político que muito sabe sobre o lixo do poder pode até ameaçar contar, mas acaba não contando.
Se o costume se mantiver de pé, não se deve acreditar na promessa de abertura da caixa de ferramentas por parte dos deputados do ora conflagrado PSL, o partido do presidente Jair Bolsonaro. O país só teria a ganhar se eles falassem o que manterão em segredo.
A deputada federal Carla Zambelli (PSL-SP) disse que um dia detalhará o que fez sua colega Joice Hasselmann (PSL-SP) na campanha eleitoral do ano passado. Por sua vez, Hasselmann disse que conhece os podres do deputado Eduardo Bolsonaro (PSL-SP).
Depois de escapar da degola por Bolsonaro, o pai, o líder do PSL na Câmara, Delegado Waldir (GO), ofereceu-se para ser ouvido na CPI das Fakenews. “Tenho muita coisa interessante para revelar”, garantiu com os olhos brilhando, mas com a língua travada.
Sabem por que preferirão o silêncio? Porque não existe político que seja inteiramente ficha limpa. Nenhum deles tem a ganhar chutando o outro abaixo da linha de cintura. Mais vale quem sabe e não conta do que o que conta o que sabe.
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