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Guerra de desgaste
Bons tempos aqueles em que um grupo de deputados podia sair impunemente de um partido e carregar para outro seu tempo de propaganda eleitoral no rádio e na televisão e sua parte em dinheiro nos fundos eleitoral e partidário. Não pode mais.
É justamente por isso que o presidente Jair Bolsonaro dá tratos à bola para imaginar um modo de não abandonar sozinho o PSL. Seria mais um tiro no pé, entre tantos que ele tem disparado desde que se escalou para exercer uma tarefa sem preparo.
Enquanto não descobre um modo, trava uma guerra de desgaste com o deputado Luciano Bivar (PE), presidente do PSL. Quer fazer uma devassa na contabilidade do partido nos últimos cinco anos na tentativa de descobrir grossas irregularidades. Não seria difícil.
Em janeiro do ano passado, ao filiar-se ao PSL, Bolsonaro não teve tal cuidado. Limitou-se a celebrar a “comunhão de ideias” que o levava ao partido. Exigiu apenas que Bivar se afastasse da presidência para que ele pudesse usar o PSL ao seu gosto.
E assim foi. Bolsonaro pôs no lugar de Bivar o advogado Gustavo Bebbiano, um amigo recente dele. Eleito, nomeou Bebbiano ministro da Secretaria do governo. Demitiu-o depois que Carlos Bolsonaro, o Zero Dois, desentendeu-se com Bebbiano.
Ao sugerir que o PSL estava podre antes mesmo de sua entrada, arrisca-se Bolsonaro a que se prove que a podridão aumentou ou ficou do mesmo tamanho sob seu comando indireto, e logo no ano em que ele foi eleito presidente da República. Vai pagar para ver?
Em vários lugares, o Ministério Público investiga casos de desvio de recursos e de caixa 2 do PSL durante a campanha em que elegeu 52 deputados federais e quatro senadores. O laranjal do PSL em Minas Gerais é apenas o mais frondoso deles.
Se de repente Bolsonaro quer se reconciliar com o combate à corrupção sem ligar para o que possa acontecer com alguns dos seus filhos, por que não afasta logo do cargo o ministro do Turismo, soterrado por tantos indícios de roubalheira?
Mas, não. Em defesa do ministro – sabe-se lá por que – ele arranja encrenca com a Polícia Federal e diz que foi mal feito o inquérito que apurou investigou seu auxiliar querido, e pelo visto irremovível. Contraditório, é ou não é?
Do que Bolsonaro na verdade tem medo?
Uma alma atormentada!
Menor do que a cadeira que ocupa por acidente
Sente-se cercado de inimigos. Diz que tem inimigos no exterior e aqui, e que os locais são os piores. É por isso que desconfia de todo mundo – da ex-mulher a parentes complicados da mulher atual.
Suporta um emprego que jamais acreditou que poderia ser seu, que jamais quis e que só disputou para ajudar os filhos a se elegerem. Seu sonho era aposentar-se e ir curtir o resto da vida.
É obrigado todos os dias, inclusive nos fins de semana, a decidir sobre assuntos que pouco entende ou que ignora por completo. Que martírio! E ainda zombam da sua falta de conhecimentos.
Nunca gostou de ler. Gostava de palavras cruzadas. Orgulha-se de ter criado algumas e de tê-las visto publicadas. Foi treinado para obedecer, não para dar ordens. E ordens sempre gritadas.
Apesar de viver protegido por dezenas de agentes de seguranças, e de morar num palácio blindado contra qualquer ameaça, guarda um revólver na mesinha de cabeceira da cama ao alcance da mão.
Não tentaram matá-lo uma vez? Por que não tentarão novamente? Seu ofício é contrariar interesses – menos os da sua família. Daí o inseparável colete a prova de balas. Daí o paranoico que se tornou.
Sofre de insônia crônica. Atravessa madrugadas no apertado closet do quarto. Enquanto a mulher dorme e ronca baixinho, ele vasculha as redes sociais para saber o que falam a seu respeito.
Que vida! Que alma atormentada! Por que simplesmente não pede as contas e vai pescar? Desde que não seja em área proibida. Por sinal, onde está Queiroz, melhor pescador do que ele?
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