- Folha de S. Paulo
Combustível fóssil aquece planeta, mas enfraquece governantes quando fica caro
Enquanto Greta Thunberg mobiliza a esquerda global contra os combustíveis fósseis, a esquerda equatoriana vai às ruas para defender subsídios que barateiam a gasolina. A vida não está nada fácil.
O que no ano passado ajudou a criar o climão favorável à aventura presidencial de um político brasileiro periférico? A Lava Jato, ao arruinar os partidos tradicionais, sem dúvida. A facada de Juiz de Fora, decerto.
Mas o levante dos caminhoneiros, a revolta popular mais reacionária já ocorrida sob a Carta de 1988, também tem o seu lugar nessa história. Foi uma reação anárquica e violenta à alta nos preços do óleo diesel.
Dilma Rousseff manteve o monstro submerso ao longo do seu primeiro mandato à custa de uma repressão multibilionária de repasses de custos da Petrobras aos preços. Aleijou a estatal, mas se reelegeu. Caiu depois, quando tentou cobrar a conta.
Na Venezuela, um fio que pendura Nicolás Maduro ao cargo é a gasolina oferecida quase de graça à população. Se desse para comer petróleo...
Ver o governante em apuros quando os combustíveis fósseis sobem não é exclusividade de país emergente. Os coletes amarelos, que azucrinam Emmanuel Macron na França, nasceram da indignação com a carestia nos postos de abastecimento.
Também não é monopólio de mandatário progressista. Richard Nixon, o primeiro presidente neocon dos Estados Unidos, respondeu ao choque global do petróleo do início da década de 1970 decretando um controle de preços de causar inveja em muito economista heterodoxo brasileiro.
Com governos acossados por revoltas latentes ou declaradas, já é duro seguir domesticamente o receituário da racionalidade técnica de não mascarar o custo do combustível para o consumidor. A coisa fica mais complicada na hora de implantar políticas globais que limitem o aquecimento planetário.
É o clássico paradoxo da ação coletiva. Sou 100% a favor do ambiente mais sustentável, mas não venha bulir com a minha gasolina barata.
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