sábado, 8 de fevereiro de 2020

Alvaro Costa e Silva - Água de beber, camará

- Folha de S. Paulo

O amigo do amigo do governador na crise hídrica do Rio

Acredite: ainda há botequins pés-sujos na zona sul. Com televisão pregada no alto, para o futebol. Às vezes para as notícias, que na cidade hoje se resumem a um único assunto: água. Ou a das chuvas, cujas forças de destruição já espantavam o padre Anchieta em 1570, ou aquela outra, "água de beber, camará", de que fala a canção de Tom e Vinicius.

Nunca antes uma reportagem sobre uma agência reguladora —a Agenersa, que tem como uma de suas atribuições fiscalizar a Cedae— despertara tanto a atenção dos bebuns. Nela escancarava-se a total incapacidade de um engenheiro indicado pelo governador Wilson Witzel para ser conselheiro da agência.

Ao participar de audiência na Alerj, Bernardo Sarreta deixou claro que não tem ideia alguma de como funciona a regulação do setor. Jamais havia visitado a estação de tratamento do rio Guandu, que desde o início de janeiro distribui água com cheiro forte, gosto de terra e aspecto barrento (a venda da mineral já aumentou 150%). Em mais um desdobramento da crise hídrica que atinge nove milhões de pessoas, o fornecimento foi cortado durante 15 horas pela presença de detergente na área de captação.

Na sabatina, Sarreta citou o último livro que havia lido: "A Arte da Guerra", de Sun Tzu. Na certa, pensava estar agradando Witzel. Os deputados rejeitaram sua indicação e articulam a abertura da CPI da Cedae, cuja privatização, ainda não realizada, foi uma das condições para que o Rio ingressasse no regime de recuperação fiscal em 2017.

Em seu blog, o jornalista Ruben Berta tinha cantado a pedra: Bernardo Sarreta é uma jogada de Lucas Tristão, ex-sócio e amigo do governador. No aparelhamento do estado, Tristão —atual secretário de Desenvolvimento Econômico— luta pela divisão de cargos com o pastor Everaldo, o dono do PSC, partido de Witzel. O atual presidente da Cedae é cria do pastor.

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