Se
superarmos a barreira mental de Bolsonaro, a vacina pode representar o fim da
pandemia
Coragem,
o fim da tempestade está próximo. Tenho vontade de escrever isso, sem
hesitações. Mas temo parecer muito otimista. No passado, velhos como eu muito
otimistas me davam uma ligeira aflição.
Mas
vamos aos fatos. Historicamente, costuma haver uma espécie de renascimento
depois das grandes epidemias. A vacina está no horizonte. Podemos esperar
alguma euforia e otimismo, caso seja eficaz e distribuída adequadamente.
O
principal obstáculo é o governo negacionista, que minimiza a Covid-19 e duvida
de vacinas. Tradicionalmente, o Brasil tem capacidade de produzir vacinas e
realizar grandes campanhas de imunização.
O
governo federal falhou nos testes, deixando 6,8 milhões deles esquecidos num
galpão em São Paulo. O general Pazuello é considerado um especialista em
logística. Fez um bom trabalho em Roraima, na Operação Acolhida, que recebeu os
venezuelanos.
Ele vem sofrendo alguns desgastes. Contraiu Covid-19 e foi obrigado a se curvar diante de Bolsonaro. Não sei se o corpo mole é resultado da influência do próprio Bolsonaro, que, aliás, duvida de vacinas e acha melhor encontrar um remédio para o coronavírus.
Se
conseguirmos ultrapassar a barreira mental de Bolsonaro e de seus subordinados,
a vacina pode, sim, representar o fim da pandemia.
Com
ela, é possível também pensar numa recuperação econômica, numa retomada das
relações presenciais. Sem desprezar os ganhos da imersão no virtual, novas
energias vão aflorar.
A
política ambiental do Brasil é absurda; a política externa, um disparate
inédito em nossa história. Num dia, Bolsonaro ameaça usar pólvora contra Biden;
no outro, o filho Eduardo acusa os chineses de potencial espionagem na
tecnologia .
Além
das duas potências mundiais, restaram poucos alvos para o insulto bolsonarista.
O próprio Bolsonaro fez referências criticas à Alemanha e à Noruega,
comentários machistas sobre a primeira-dama francesa e previsões catastróficas
sobre o governo argentino.
Os
ultrarrealistas dirão: nada disso importa, se houver um pequeno crescimento
econômico. A verdade é que o Brasil precisa de um crescimento econômico
sustentado, e essa tarefa é mais complexa do que um simples voo de galinha.
Quando
passar a tempestade sanitária, as pessoas que compreendem este governo como a
grande pedra no caminho terão mais mobilidade. Talvez possam ir para as ruas,
sem a preocupação de atrair grandes massas no princípio.
A
imprensa brasileira acostumou-se a julgar manifestações de forma apenas
quantitativa. É um equívoco. Dentro dessa lógica, se recebesse a notícia de que
houve algo com os 18 do Forte, não mandaria ninguém a Copacabana. Ou mesmo com
o grupo de intelectuais que protestou contra a ditadura diante do Hotel Glória:
eram só oito resistentes diante de um poderoso governo militar.
A
multiplicidade de protestos, a fermentação, tudo isso acaba conduzindo a
movimentos mais amplos, desses que encantam os contadores de gente na rua e
impressionam os políticos míopes.
Num
texto anterior, afirmei que Bolsonaro estava derretendo. Baseava-me numa
análise que está se confirmando nas pesquisas. Não sou otimista o bastante para
supor que Bolsonaro vá se derrotar sozinho. Não basta se sentar na poltrona e
acompanhar seus movimentos autodestrutivos.
Será
preciso muito movimento, troca de ideias e, em caso de avanço, sensatez
política para evitar que, no desespero, ele envolva as Forças Armadas numa
trágica aventura.
Essa
ideia não se relaciona diretamente com eleições. É possível votar em candidatos
diferentes mas, simultaneamente, compreender o conceito de adversário
principal.
A
esta altura do processo, é possível afirmar que qualquer um representa um
perigo menor para o Brasil. Os ultrarrealistas que me perdoem: Bolsonaro nunca
mais. Nunca houve na história recente do Brasil uma sucessão de erros tão
graves, embora o processo de redemocratização tenha sido marcado por alguns
equívocos e escândalos de dimensão continental.
Uma
das características de um governo voltado para a destruição ambiental é que
pode levar alguns biomas a um ponto de não retorno.
Embora
iniba política vitais, a roubalheira desvia o trabalho morto, simbolizado no
dinheiro público desviado.
A cegueira ambiental atinge a vida diretamente: Bolsonaro extermina o futuro.
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