Valor Econômico
Assessor de segurança nacional reiteira
preocupação americana com ameaças as eleições
Na véspera da votação da proposta de emenda
constitucional do voto
impresso e do desfile de blindados pela
Esplanada dos Ministérios, o diretor sênior para o Hemisfério Ocidental do
Conselho de Segurança Nacional do governo americano, Juan González, fez questão
de expressar sua preocupação com o tema: "Fomos muito diretos em expressar
nossa confiança na capacidade de as instituições brasileiras conduzirem uma
eleição livre e limpa e enfatizamos a importância de não ser minada a confiança
no processo, especialmente uma vez que não há indício de fraude nas eleições
passadas".
Ele foi além: "Podemos nos engajar na
cooperação para a segurança, na cooperação econômica e ainda assim sermos muito
claros em relação ao apoio a que os brasileiros sejam aqueles que determinam o
resultado de suas próprias eleições".
González falou durante entrevista, em Washington, sobre a visita feita a América Latina na semana passada pelo Conselheiro de Segurança Nacional da Casa Branca, Jake Sullivan, que também teve sua participação. No Brasil, Sullivan encontrou o presidente Jair Bolsonaro. Foi a maior autoridade a visitar o país desde a posse do presidente americano Joe Biden.
A declaração de González tem dois efeitos.
O primeiro é o de revelar o tamanho do estrago provocado pelo governo Bolsonaro
nas relações internacionais: o país volta a ser tratado como uma república das
bananas que precisa ser alertada pela maior democracia do mundo para não sair
dos trilhos.
É bem verdade que González reconheceu que o
bananal tupiniquim tinha inspiração americana: "Fomos sinceros sobre nossa
posição, especialmente em visa dos paralelos em relação a tentativa de
invalidar as eleição antes do tempo, algo que, é óbvio, tem um paralelo com o
que aconteceu nos Estados Unidos”.
Tal reconhecimento, porém, não o impediu de
assumir as gestões contra a Huawei e o apoio a entrada do Brasil na Organização
do Tratado do Atlantico Norte (Otan). González, porém, repetiu reiteradas vezes
que o governo americano não condiciona uma coisa a outra.
Se a declaração do burocrata americano
mostrou o dano provocado por Bolsonaro sobre as relações externas do país, por
outro, mostrou, indiretamente, o quão reduzidos são hoje os riscos de uma
intervenção das Forças Armadas brasileiras na institucionalidade democrática,
temor que ontem invadiu Brasilia com a iminencia do desfile de blindados. Este
é o segundo efeito da declaração de Gonzalez, colocar água na fervura das
inquietações sobre uma intervenção militar no Brasil.
González não poderia ter sido mais claro em relação a posição a ser tomada pelo governo Biden numa quebra de institucionalidade no Brasil. Daí porque nunca uma eleição nos Estados Unidos importou tanto para os brasileiros. O fato de Bolsonaro ter perdido o apoio do ex-presidente Donald Trump, visitado na tarde de ontem pelo deputado Eduardo Bolsonaro e sua família no escritório do ex-presidente americano em Nova York, foi condição necessária mas não suficiente para garantir a democracia no Brasil. O resto é com as instituições civis brasileiras.
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