- Folha de S. Paulo
Fragilidade de alianças no Congresso e
instabilidade política mudou cálculo de presidenciáveis
O fantasma do impeachment se instalou nas
negociações para 2022. Há poucas semanas, Jair Bolsonaro disse que vai escolher
um candidato a vice "que não tenha ambição pela cadeira" de
presidente. Já Lula afirmou que seu companheiro na eleição será alguém que
"não pense em dar golpe". "É difícil. Mas vou escolher com
carinho", completou.
A escolha de candidatos a vice já ajudou presidenciáveis do passado a abrir espaço em suas alianças para outros partidos e foi vista como uma maneira de complementar o perfil do cabeça de chapa. A fragilidade de coalizões no Congresso e a instabilidade política do país acrescentaram o risco de impeachment como mais um elemento nessa conta.
Lula disse que a vaga pode ser usada para
abrigar partidos aliados. Escaldados
pela escolha de Michel Temer em 2010, no entanto, dirigentes petistas
afirmam que a confiança no nome será um critério indispensável. Essa visão deve
aumentar as chances de um vice de esquerda.
Já Bolsonaro terá que buscar um nome para
substituir Hamilton Mourão no posto. A troca vai abrir uma negociação pela vaga
de vice com os partidos do centrão que formam o núcleo de apoio político do
governo. O PP, que tende a abrigar o presidente, deve correr na dianteira pela
indicação de um nome.
A configuração pode se tornar um problema
para Bolsonaro, que já disse ter preocupação com um vice que tenha maioria no
Congresso. Até aqui, Mourão serviu aqui como um fator
dissuasório para o impeachment, uma vez que o centrão teme perder
influência caso o general assuma o cargo. Se esses partidos tiverem o posto, o
receio desaparece.
Uma lição recente partiu de um dos líderes desse bloco. O deputado cassado Eduardo Cunha conta num livro que, meses antes da abertura do impeachment de Dilma Rousseff, jantou em Nova York com dirigentes do centrão. Ciro Nogueira, chefe do PP e hoje ministro da Casa Civil, deu o que foi considerada a senha para levar Temer ao poder: "Não se tira presidente, se coloca presidente".
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