Folha de S. Paulo
Trio Aras-Lira-Pacheco repele a seriedade,
mas não pelo humor
A desordem vai aumentar. É uma tática
para proteger
os alvos de pedido de indiciamento na CPI da Covid e os congressistas comprados
por Bolsonaro, com verbas do Orçamento nacional, para a aprovação inicial
do projeto dos Precatórios, ou do Calote.
Assim os negócios e os negocistas da
corrupção financeira e do homicídio social, na pandemia, juntam-se à bandidagem
parlamentar para impor a primazia do banditismo oficial e oficioso.
Tal como os seus êmulos Três Irmãos
Metralha, Três Patetas e Três Irmãos Marx, o trio Augusto Aras, Arthur Lira e
Rodrigo Pacheco repele a seriedade, embora incapaz de fazê-lo pelo humor. E
transforma a Procuradoria-Geral da República e as presidências da Câmara e do
Senado no seu inverso. Querem seus gabinetes passados de postos do interesse
público a covis de tramas.
Augusto Aras não confirmou o presumido arquivamento da CPI da Covid. Retalhou o relatório. No final da semana, distribuiu os dez primeiros retalhos, em porções diferentes, entre seis ministros do Supremo. Para cada um decidir se dali se segue investigação, processo e arquivamento.
Só com esses primeiros retalhos já se pode
pressentir o tumulto que invadirá o Supremo com a simultaneidade de tantos
processos correlatos e escandalosos, a lida com as defesas, o conflito de
notícias e os vazamentos.
Augusto Aras faz uma provocação ao Supremo.
Há várias respostas possíveis, mas sequer se prevê entre uma só, pelo tribunal,
ou cada ministro com uma conduta. A persistir o partilhamento, os processos
terão andar desigual e conclusões não concomitantes. E decisões não coerentes,
dadas as diferentes concepções entre ministros. Mais problemas, recursos,
choques, debates, reexames, novas decisões.
Aras, convenhamos, caprichou no serviço a
Bolsonaro, na transferência ao Supremo do ônus de incriminar e ainda à sua
pretensão de ver-se ministro do Supremo, como pagamento dos serviços prestados.
Na obra dos outros componentes do trio,
a decisão
de não informar os nomes dos parlamentares beneficiados pelo Orçamento Secreto,
como determinado pelo Supremo, ameaça com uma crise de Poderes. Complexa. E tão
perigosa quanto promissora. Pode dar um nó, se não cego, ao menos muito míope
na paisagem democrática já turva. E pode levar o Supremo a dar nos presidentes
da Câmara e do Senado uma chanfrada que os reduza ao seu real tamanho funcional
e pessoal.
A parte liberada das verbas já produziu
indícios de alta corrupção no destino que parlamentares lhe deram. Essas verbas
somam bilhões, cerca de R$ 30 bilhões no final, acobertados
pelo sigilo e pelo eufemismo "emendas do relator" no Orçamento.
Daí o "Orçamento Secreto" que o leitor e o ouvinte tanto têm deparado
sem saber do que se trata. Em resumo, enlaçados operadores e protetores, é
quadrilhismo oficial.
Os defensores
A fartura de comentários escritos e orais
sobre uma frase
de Lula, a respeito de Daniel Ortega e sua ditadura, não teve equívocos.
Foi deliberada a omissão do início em que Lula disse, sobre as longas
permanências no poder, que esses governantes se tornam "pequenos
ditadores". Falava de Ortega, portanto, como ditador.
A comparação que se seguiu, entre as
permanências de Ortega e Angela Merkel no poder, antes de ser imprópria
equiparação temporal dos dois, foi uma crítica ao facciosismo no jornalismo. O
que não negou a tolerância de Lula e do PT com a ditadura
nicaraguense, mas foi muito diferente do que ficou dito e escrito com ares
de jornalismo e democracia.
No mais, fazer da própria mulher a sua vice
já é prova conclusiva de autoritarismo ditatorial e de degradação do
ex-revolucionário Ortega até a sarjeta ideológica.
Fanáticos
A ideia de fazer na terça (30), Dia do
Evangélico, a
sabatina senatorial de André Mendonça teve o objetivo de constranger
os prováveis votos contra a inclusão do pastor no Supremo.
O passado deixou numerosos casos de
ministros que se conduziram, no Supremo, por seu catolicismo de ultradireita
mais do que pelo rigor jurídico e ético. Nessa linha, já no pós-ditadura, houve
o caso extemporâneo do ministro Carlos Alberto Direito, "terrivelmente
católico" do direitismo então em declínio na Igreja.
Expulsos de Angola e agora sob cruas
acusações no Sul da África, os pastores
evangélicos deram provas audaciosas do quanto põem as posições de seus
cultos, e as suas pessoais, acima de todo o demais. Sobretudo das leis.
No Ministério da Justiça e na Advocacia
Geral da União, o
pastor já demonstrou o quanto é "terrivelmente
evangélico", enrolando-se
até na Lei de Segurança da ditadura. O Supremo não é o seu púlpito
legítimo, feito para eruditos do direito, corajosos e sem opressões interiores.
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