terça-feira, 2 de janeiro de 2024

Míriam Leitão - O ano econômico terá boas novas

O Globo

Mesmo com um bom cenário de indicadores, não será um ano fácil. O Ministério da Fazenda terá várias batalhas pela frente

Este ano vai ser diferente daquele que passou. O crescimento não será concentrado em um único setor, nem apenas em um período do ano. A agropecuária, que sustentou o PIB de 2023, deve entrar na conta do produto com o sinal negativo. O primeiro trimestre, que foi o mais forte no ano, pode ser mais fraco agora. O ano terá um crescimento mais espalhado pelos trimestres. A queda dos juros vai ocorrer ao longo de várias reuniões e isso deve ajudar a atividade. A economia também será favorecida pela melhora da renda, pelo aumento real do salário mínimo e pela própria atividade. Apesar de serem menores do que no ano passado, a safra e o saldo comercial serão importantes para manter o ritmo econômico.

Pela natureza da estatística de crescimento, o PIB é sempre a comparação de um período contra o outro. A agricultura apesar de poder registrar queda, colherá a segunda melhor safra da história. O saldo comercial que deu um pulo de US$ 62 bilhões para perto de US$ 100 bilhões no ano passado será menor este ano, mesmo assim será o segundo maior da história. É o que prevê a MB Associados que tem uma projeção de US$ 87 bilhões.

O que há dificuldade de prever é o tempo, como sempre instável e afetado pelos nossos erros. O clima continua afetado por mudança climática e pelo El Niño. É que o fenômeno, que sempre aconteceu, também mudou sua natureza. O El Niño, com suas secas e chuvas, pode provocar perdas de safra em vários pontos do país. Não se espera nada desastroso, mas algumas coisas já estão contratadas, como a perda na safra de trigo do Sul e a redução da produção de algodão. Mas a safra em geral continuará sendo grande e tendo impacto positivo na economia.

No ano passado houve uma forte desinflação de alimentos e até deflação. Não se espera esse mesmo fenômeno agora. Os preços vão aumentar e haverá inflação de alimentos. Mas não se espera uma grande pressão de preços, exceto nas hortaliças que têm mesmo sazonalidade com altas e quedas mais pronunciadas.

A inflação teve um comportamento muito melhor do que o esperando no ano passado e entra em 2024 com várias indicações positivas. Não é apenas o número em 12 meses que está baixo, em torno de 4,5%, mas o índice de difusão caiu muito, isso significa que um número menor de preços, entre os pesquisados, está subindo.Se o cenário inflacionário continuar benigno, os juros podem chegar na casa dos 9%.

O relaxamento monetário e o Desenrola devem melhorar o ambiente de negócios e o de consumo.

A dúvida sobre o déficit fiscal do ano de 2024 permanece, com o ministro Fernando Haddad perseguindo a meta de equilibrar as contas, e as projeções de que haverá déficit. Mas se houver o que o mercado projeta é que fique em torno de 0,7% a 0,8% do PIB. Não será um déficit explosivo, pelo contrário, o país estará cumprindo uma redução ano a ano.

O único momento recente em que contabilmente houve superávit nas contas públicas foi 2022, mas o número do último ano do governo Bolsonaro não é confiável. Ele reprimiu despesas incomprimíveis, ainda deu o calote nos precatórios e não contabilizou despesas. Em resumo, pedalou e não foi punido por isso.

Mesmo com um bom cenário de indicadores econômicos, não será um ano fácil. O Ministério da Fazenda terá várias batalhas pela frente e a primeira parece perdida. A MP baixada no dia 28 pode até ser devolvida. Como o ministro Fernando Haddad misturou a desoneração da folha de pagamento a proposta de programar o uso dos créditos tributários e mais a reoneração de isenções concedidas ao setor de eventos, a MP inteira pode nem chegar a tramitar.

O governo tem prazo de 90 dias para apresentar a segunda etapa da Reforma Tributária que muda a forma de taxação sobre renda das empresas, das pessoas físicas, e a cobrança de impostos sobre o trabalho. Ao mesmo tempo estará formulando as propostas de regulamentação da reforma dos tributos sobre consumo que tem que entregar em 120 dias.

Para além da economia, há desafios enormes para se perseguir o projeto racional de proteger o meio ambiente e os indígenas. O Congresso está em plena onda de aprovação de medidas ofensivas nessas duas áreas. O governo terá que melhorar a articulação política, agravada pelo fato de que será um ano eleitoral. Na área internacional o Brasil comandará o G20 e estará preparando o grande evento do ano que vem. Em 2025 a Amazônia será o centro do mundo nas negociações globais do clima.

 

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