domingo, 20 de outubro de 2024

Celso Ming - São terras raras, mas falta empenho

O Estado de S. Paulo

Se quer liderar o processo de transição energética, como vêm anunciando autoridades do governo, o Brasil precisa criar condições para desenvolver a cadeia produtiva de terras raras.

Terras raras é o nome dado ao conjunto de 17 elementos químicos – como o neodímio, túlio, cério, lantânio e ítrio – imprescindíveis para componentes de turbinas eólicas, carros elétricos, painéis solares, catalisadores automotivos, baterias e circuitos eletrônicos.

Dada a necessidade de descarbonização do planeta e migração para a economia verde, esses materiais são estratégicos e altamente suscetíveis a disputas geopolíticas e comerciais.

A China, que responde por quase 90% da produção global refinada de terras raras, há meses vem se movimentando para manter seu domínio sobre o setor. Já impôs restrições sobre a exportação de boa parte desses materiais e proibiu a venda de tecnologias destinadas à produção de ímãs de terras raras.

Como apontam levantamentos do Serviço Geológico dos Estados Unidos, o Brasil possui a terceira maior ocorrência de terras raras do mundo. Daí por que se apresenta como opção destinada a reduzir a dependência de fornecimentos da China. Mais do que isso, esta seria uma janela de oportunidades para começar a desenvolver uma cadeia produtiva desses elementos.

No entanto, falta ação e falta sentido de urgência. O Projeto de Lei 2.210/2021, que cria a política nacional das terras raras, não consegue avançar nem nas comissões especiais do Senado. Uma ação articulada, com regras claras para mineração, processamento e fortalecimento de pesquisa e inovação, seria apenas o começo, como observa a pesquisadora Elaine Santos, do Instituto de Estudos Avançados da USP.

Ela avisa, ainda, que é preciso desenvolver estratégias que garantam o sucesso desses investimentos. Entre elas estão a de não focar apenas a extração e o mapeamento da cadeia local, mas, também, o entendimento de quais processos o Brasil já domina e, a partir daí, direcionar recursos para a cadeia produtiva.

Já há iniciativas em curso, como o Laboratório de Produção de Ímãs de Terras Raras, em Minas Gerais. Com o apoio do BNDES, as Federações das Indústrias de Santa Catarina e de Minas Gerais criaram o projeto MagBras, que tem por objetivo alçar o Brasil como um player importante na cadeia global de ímãs de terras raras.

Colocar a indústria brasileira, que há décadas vem perdendo força e competitividade, no centro do desenvolvimento e financiamento desse novo ciclo econômico em que o mundo se enveredará, pode ser a chave do sucesso. Mas é preciso acordar para essa necessidade.

 

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