sábado, 24 de maio de 2025

Máquina de corrupção autônoma - Alvaro Costa e Silva

Folha de S. Paulo

Suspeito de abuso político e econômico, grupo do governador manobra para continuar mandando

Não há nada mais previsível que a política do Rio de Janeiro, baseada no populismo, no clientelismo e na máquina de corrupção que parece funcionar de modo autônomo. A prisão e o afastamento de seis governadores não pararam a engrenagem.

Cláudio Castro conseguiu a aprovação de Thiago Pamplona, o vice-governador, para um cargo técnico, o de conselheiro do Tribunal de Contas. A manobra vai permitir que o presidente da Assembleia Legislativa, Rodrigo Bacellar, assuma o Palácio Guanabara no ano que vem. Bacellar será candidato ao governo estadual e Castro, ao Senado.

Selada a paz com Pamplona, que desiste de concorrer e era uma pedra no sapato de Castro atuando contra ele dentro do palácio, o desafio é encaixar outra peça problemática. Cupincha de Bolsonaro, Washington Reis, secretário de Transportes e "dono" de Duque de Caxias, segundo maior colégio eleitoral do estado, insiste na candidatura ao governo. Como o ex-presidente, a quem ajudou na fraude do cartão de vacina, Reis está inelegível, condenado por crime ambiental, e aguarda decisão de recurso ao STF.

Castro e Bacellar também enfrentam pendências na Justiça —ou não seriam caciques fluminenses. São acusados de abuso de poder político e econômico no processo em que o Ministério Público aponta desvios com finalidade eleitoral em projetos e programas da Fundação Ceperj e da Uerj. São desvios que somam R$ 1 bilhão, com saques de funcionários-fantasmas na boca do caixa, uma roubalheira às claras.

O adversário do grupo de Castro é um velho conhecido, Eduardo Paes, quatro vezes prefeito e que amargou derrota para Wilson Witzel em 2018. Na véspera do pleito, Paes, que liderava as pesquisas, levou um caldo da onda bolsonarista. Vai tentar de novo, apelando ao discurso que o abateu: linha-dura na segurança pública. No atual governo, o combate à criminalidade virou só garganta, sem resultados práticos.

Não há sinal de outsiders na disputa, mas pode pintar um combo de coach, influencer e evangélico. Com potencial de muitos votos.

 

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