O Estado de S. Paulo
Lula sai das cordas, Bolsonaro se enrola nelas e o Centrão está de olho no ringue dessa briga
O Centrão, ou boa parte dele, vinha impondo
derrotas para o governo e articulando a entrega de ministérios até setembro,
para cerrar fileiras com o bolsonarismo a um ano da eleição presidencial, mas
estancou o movimento diante do sucesso da campanha “pobres contra ricos” e
agora, com os ataques de Donald Trump, em vez de marchar contra o governo,
recolhe as armas, faz meia-volta volver e entra na onda de defesa da soberania
nacional.
Depois de momentos graves e humilhações no Congresso, Lula tem expectativa de resgatar pontos nas pesquisas e começa a recuperar condições de governabilidade – ou seja, o diálogo e as negociações com Câmara e Senado. Como se sabe, o Centrão ora vai para um lado, ora para outro, e acaba de ser empurrado por Trump para Lula, querendo distância prudente de Jair Bolsonaro.
Lula estava acuado, mas ganhou a bandeira da
soberania, recuperou as rédeas e abriu caminhos para quem, de fato, interessa
no Congresso, ao confirmar que a eminência parda por trás do deputado Hugo
Motta é o senador Ciro Nogueira, expoente do Centrão e ex-chefe da Casa Civil
no governo Bolsonaro, e não seu antecessor Arthur Lira – de quem Lula se
reaproxima, inclusive com tratativas sobre o jogo eleitoral em Alagoas.
É nesse clima, ainda tenso, mas menos
beligerante, que o Supremo sedia hoje a audiência pública entre Executivo e
Legislativo sobre o IOF e o equilíbrio fiscal. Vai ser a portas fechadas e o
resultado é incerto, mas as condições parecem bem melhores do que há 15 dias,
quando a guerra estava no auge.
Enquanto isso, o STF reage à proposta
indecente de Trump e Jair, Flávio e Eduardo Bolsonaro, de trocar o fim dos
processos do golpe pelo fim de tarifas de 50%. Seu presidente, Luís Roberto
Barroso, lançou carta com defesa do Judiciário e “fatos concretos” sobre a
tentativa de golpe, o julgamento avança, a PGR tem pronto seu parecer sobre o
“núcleo crucial”, o núcleo 2 entra no foco e novos depoimentos continuam
chocando o País.
Do outro lado, Geraldo Alckmin assume o
comitê interministerial para ouvir os setores-alvo do tarifaço e aprofundar a
união nacional contra a chantagem e a invasão de Trump em assuntos internos do
Brasil. Alckmin conhece bem o setor privado. É o homem certo, na hora certa, e
faz contraponto a Tarcísio de Freitas, que conseguiu desagradar a todos ao
mesmo tempo.
Com soberania e amor próprio nacional não se
brinca e o ambiente político sofreu uma reviravolta. Lula está saindo das
cordas, o bolsonarismo se enrolando nelas e o Centrão, que não é bobo nem nada,
está de olho nesse ringue.
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