segunda-feira, 20 de julho de 2009

Solução adiada

DEU EM O GLOBO

Zelaya e governo golpista entram em novo impasse e Arias pede prazo de 72 horas

Terminou ontem sem acordo a segunda rodada de negociações sobre a crise política de Honduras, com o presidente do governo golpista, Roberto Micheletti, considerando inaceitáveis os sete pontos da proposta apresentada pelo mediador do conflito, o presidente da Costa Rica, Oscar Arias. Já o presidente exilado José Manuel Zelaya, deposto num golpe de Estado em 28 de junho, anunciou que sua volta ao país é inegociável e disse, por meio de sua equipe de negociadores, que o diálogo com os atuais representantes do governo golpista estava encerrado.

- Ninguém pode me impedir de voltar a Honduras. Sou hondurenho e este é um direito meu - disse Zelaya, exilado em Manágua, na Nicarágua, afirmando que não atenderia nem mesmo ao prazo até sexta-feira para seu retorno pedido por Arias, numa tentativa do mediador, respaldada pelos Estados Unidos, de tentar evitar conflitos no país.

Do outro lado, a posição não foi mais animadora.

- Sinto muito, mas as propostas apresentadas são inaceitáveis para o governo constitucional de Honduras. Em particular sua proposta número um - disse Carlos Lopez, à frente do grupo de negociadores do governo interino de Roberto Micheletti, referindo-se ao ponto que prevê a volta de Zelaya ao governo para cumprir o restante de seu mandato, até janeiro de 2010.

Arias fala em risco de derramamento de sangue

Com o impasse, as negociações entraram em ponto morto e Arias - vencedor do Nobel da Paz de 1987 por sua colaboração para o fim de guerras na América Central - pediu um prazo de 72 horas para mais negociações, nas quais continuaria trabalhando para evitar o que classificou como um risco de "derramamento de sangue" no país.

- Não foi possível chegar a um acordo satisfatório. A delegação do presidente Zelaya aceitou integralmente minha proposta, mas não a de Roberto Micheletti - disse Arias. - Qual é a alternativa ao diálogo? Minha consciência me diz que não posso desistir e que devo continuar trabalhando por pelo menos mais três dias e é isso que proponho.

Apesar de ter rechaçado a proposta de Arias, a comissão de Micheletti, que assim como Zelaya não compareceu pessoalmente às negociações realizadas na Costa Rica, afirmou que não dará por terminadas as conversações e que não descarta retomá-las na quarta-feira. Lopez disse que sua delegação voltaria à Costa Rica em 72 horas "para continuar o diálogo", mas não ficou claro se a outra delegação participaria do encontro.

- Temos um amplo respeito pela institucionalidade e não vão nos tomar como intransigentes. Eles (representantes de Zelaya) são os que disseram que não voltarão ao diálogo - disse Vilma Morales, ex-presidente da Corte Suprema de Justiça e membro da comissão de Micheletti. - O diálogo não foi rompido.

Vilma se referia a um comentário de Rixi Moncada, do time de negociadores de Zelaya, de que "o diálogo com a atual comissão de fato está encerrada", mas que a disposição para voltar a sentar-se à mesa com novos representantes ainda estava aberta. A equipe de Micheletti não mencionou uma possível troca na delegação, mas o próprio presidente deposto declarou ontem que "não se pode fechar as portas nunca".

Micheletti justificara o golpe como uma forma de interromper um projeto de poder que julgou ser uma versão hondurenha do governo de Hugo Chávez. A crise começou depois de uma tentativa de Zelaya de consultar a população para alterar a Constituição e viabilizar uma reeleição presidencial. As Nações Unidas, os Estados Unidos e a Organização de Estados Americanos (OEA) defendem a volta do presidente eleito ao poder.

Além da restituição de Zelaya como presidente, a proposta do costa-riquenho recusada por Micheletti no sábado também previa a formação de um governo de unidade nacional composto por representantes dos principais partidos políticos do país, a declaração de uma anistia geral para todos os delitos políticos ocorridos antes e depois do golpe de Estado e a renúncia de Zelaya às suas intenções de reformar a Constituição para viabilizar sua reeleição.

Outros pontos incluíam a antecipação das eleições de 29 de novembro para 25 de outubro, a transferência do comando das Forças Armadas do Poder Executivo ao Supremo Tribunal Eleitoral um mês antes das eleições e a formação de uma comissão de verificação composta por hondurenhos e membros de organismos internacionais, especialmente da OEA, para supervisionar o cumprimento dos acordos e a volta à ordem constitucional.

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