• Número 2 de ministro coordenou com Petrobras e PT estratégia no Senado
• PT compartilhou com o governo mais de cem perguntas preparadas para comissão que investiga a estatal
Andréia Sadi e Natuza Nery – Folha de Paulo
BRASÍLIA - Assessores do Palácio do Planalto coordenaram a atuação da Petrobras e da liderança do PT no Senado durante as investigações da CPI (Comissão Parlamentar de Inquérito) criada para examinar os negócios da estatal.
O encarregado do trabalho foi o número 2 do ministro Ricardo Berzoini, chefe da Secretaria de Relações Institucionais do Planalto, responsável pela articulação política do governo com o Congresso.
Segundo a Folha apurou, o secretário-executivo do ministério, Luiz Azevedo, ajudou a elaborar o plano de trabalho apresentado pela comissão em maio, que incluía um roteiro para a investigação e sugestões de perguntas.
Azevedo foi o estrategista escalado pelo governo para blindar a presidente Dilma Rousseff e evitar que o trabalho da CPI atingisse a atual diretoria da Petrobras. Seu papel era fazer a interlocução com a empresa estatal e afinar a tática governista na CPI.
Além de Azevedo, o Planalto destacou ainda Paulo Argenta, outro assessor de Berzoini, para evitar que a CPI saísse do controle ou causasse sobressaltos ao governo.
Para a oposição, que não participa da CPI, o roteiro de uma investigação parlamentar deveria ser definido por seus próprios integrantes, sem interferência do governo.
Reportagem publicada pela revista "Veja" nesta semana diz que a presidente da Petrobras, Graça Foster, e ex-diretores da estatal receberam antecipadamente as perguntas que responderiam na CPI.
A empresa afirma que só teve acesso antecipadamente às perguntas apresentadas pela comissão com a divulgação de seu plano de trabalho.
A Folha apurou que o governo também discutiu com assessores do PT no Senado e o chefe do escritório da Petrobras em Brasília, José Eduardo Barrocas, a conveniência da aprovação de requerimentos específicos da comissão.
Os assessores do Planalto pediram que a CPI não votasse vários requerimentos que poderiam criar embaraço para a Petrobras e o governo.
Azevedo e Argenta tiveram acesso antecipado às perguntas que o relator da comissão, José Pimentel (PT-CE), faria aos executivos sobre contratos suspeitos aprovados pelo conselho da companhia.
A Folha apurou que mais de cem perguntas preparadas para a CPI foram compartilhadas pelo PT com o governo. Os participantes da operação ouvidos pela Folha negam ter repassado as perguntas a dirigentes da Petrobras.
Os lotes com as perguntas foram entregues ao Planalto por Marcos Rogério de Souza, assessor da liderança do PT no Senado.
O governo argumenta que qualquer parlamentar tem direito de inquirir depoentes e que a bancada oposicionista boicotou os trabalhos da CPI.
A Secretaria de Relações Institucionais informou que faz parte de suas atribuições, "portanto dos servidores mencionados, acompanhar as atividades legislativas, inclusive as Comissões Parlamentares de Inquérito".
Nova CPI
Numa tentativa de abafar o barulho que a oposição tem feito com suas críticas à CPI da Petrobras, o PT articulou a instalação nesta quarta-feira (6) de uma nova CPI para investigar o cartel de empresas acusado de fraudar licitações do Metrô de São Paulo.
Composta por deputados federais e senadores, a comissão tem potencial para criar desgaste para o PSDB, que governa São Paulo há quase duas décadas e é o partido do principal rival de Dilma Rousseff na corrida presidencial, o senador Aécio Neves (MG).
Colaborou Gabriela Guerreiro, de Brasília
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