Países latino-americanos, em especial as maiores economias, como a brasileira, foram atingidos duplamente pela redução drástica da velocidade do comércio global (3% nos últimos três anos, perto de 6% antes da crise de 2008). Enquanto viram desabar suas receitas com vendas de commodities, após o fim de um boom de quase uma década, perderam a capacidade de competir em bens industriais. Uma bateria de 12 estudos compilados por técnicos do Fundo Monetário Internacional mostrou, além disso, que os países da região comerciam pouco entre si e que este fluxo também declinou recentemente.
Uma série de conhecidas deficiências foi deixando estes países para trás em relação aos países emergentes da Ásia e, agora, aos emergentes europeus. Compilando 50 anos de estatísticas (1962-2013), os técnicos do Fundo constataram que, no ponto de partida, as economias latino-americanas superaram os asiáticos, diversificando suas exportações, aumentando sua complexidade e intensidade tecnológica, mas esse aumento de competitividade em relação a seus concorrentes, regrediu aos poucos e estancou com o boom das commodities. "Esse desenvolvimento contrasta agudamente com o da Ásia emergente, cujo progresso continuou sem maior interrupção", apontam os estudos.
Não só isso. Embora o Brasil seja diferente em vários aspectos de seus vizinhos, partilha com eles o mesmo rumo: a região deixou de ter vantagens comparativas em manufaturas, seja qual for o grau de intensidade tecnológica e só as manteve em commodities primárias (não petróleo). O Brasil, por exemplo, tornou-se mais dependente de importadores desses bens, como a China, para a qual destina exportações equivalentes a 2,5% do PIB.
Para a derrocada competitiva contribuiu muito o fato de o Brasil manter-se até hoje como a economia mais fechada do continente depois da Argentina. Enquanto a tarifa média ponderada dos emergentes caiu 12% para 5%, a do Brasil permanece em 8% por uma década. É também o país que tem o maior número de barreiras não-tarifárias (1.800). Essa proteção impede ganhos de produtividade em geral e em especial os que poderiam advir de uma maior integração nas cadeias globais de produção, nas quais sua participação é fraca (dos bens que exporta, a parcela externa incorporada é de 10%). Entre as demais carências vitais, a da infraestrutura é a mais aberrante, o que diminui por seu lado atratividade para integração produtiva. No índice de eficiência logística, o Brasil tira algumas das piores notas, em especial na eficiência alfandegária.
O Brasil seguiu o trajeto de vários países da região na perda de vantagens comparativas. Nos bens intensivos em recursos e de baixa intensidade de tecnologia, os países da América Central se sobressaíram na região, depois que a primazia dos asiáticos já os havia ultrapassado. Os asiáticos tomaram a frente também nos bens de média e alta tecnologia, enquanto, nesse último setor, avançam agora os países emergentes europeus.
A perda geral de vantagens comparativas, mesmo em alguns bens de alta intensidade tecnológica, decorre do fato de o país ter batido em sérias limitações estruturais - qualificação da mão de obra, péssima infraestrutura física. O estudo recomenda o óbvio: melhorar a educação, elevar o desempenho dos alunos para além das metas quantitativas de matrículas do passado, reforçar o currículo do secundário com aprendizados e habilidades técnicas e aprimorar o estudo universitário.
Não há como fugir a essas questões, pelo que se depreende dos estudos. Em um índice de complexidade econômica, que exprime entre outras coisas o grau de competitividade de um país, uma melhor estrutura, melhor educação e melhor distribuição de renda explicam 75% das boas performances. A sofisticação das exportações, com vantagens comparativas em bens de alta intensidade tecnológica, segundo o estudo, está diretamente relacionada a uma educação de alto nível e menor desigualdade, além de boa infraestrutura. Elevar em alguns degraus a qualidade da infraestrutura de transportes, por exemplo, beneficiaria principalmente as vendas de produtos de alta intensidade tecnológica, como químicos, maquinaria pesada e eletrônicos.
O diagnóstico é familiar. Mover-se na direção das soluções, porém, tem sido muito difícil. O país está com a mesma baixa fatia do comércio global há 30 anos, enquanto seus concorrentes avançam.
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