Empresário contou à Procuradoria-Geral da República que conheceu Lula durante uma greve e sempre colaborou com suas campanhas
Fabio Serapião Beatriz Bulla André Borges | O Estado de S. Paulo
BRASÍLIA - Durante a negociação do acordo de colaboração, o empreiteiro Emílio Odebrecht entregou à Procuradoria-Geral da República um relato no qual detalha sua relação com o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, as doações para todas as suas campanhas eleitorais, o lobby praticado junto ao petista e até a ajuda para formulação da notória “Carta ao Brasileiros” – texto divulgado na campanha de 2002 para tentar acalmar o mercado financeiro diante da provável eleição do petista.
Segundo o patriarca da empreiteira baiana, sua relação com o ex-presidente começou no início da década de 80 pelas mãos do ex-governador de São Paulo, o tucano Mário Covas. “Como a greve não contava com o apoio do sindicato e tínhamos dificuldade de dialogar com os empregados que comandavam a greve, pedi apoio a Mário Covas, que por sua vez me sugeriu que eu conhecesse Luiz Inácio Lula da Silva, dada a sua reconhecida liderança no ambiente sindical e sua capacidade de mediar diálogos entre líderes grevistas e empresários”, explicou Emílio ao contar que Lula teve papel importante no fim da paralisação.
Após a eleição de 2002, quando Lula tornou-se presidente, Emílio conta que passou a reunir-se periodicamente para discutir temas empresariais de interesse da Odebrecht. “Essas conversas permitiam-me ter uma melhor compreensão das políticas de governo e, por consequência, melhor direcionar as empresas da organização, bem como tentar influenciar que o ex-presidente adotasse políticas de governo que fossem coincidentes com os nossos interesses empresariais, sendo que muitas vezes eu obtive êxito”, afirmou Emílio.
Por conta dessa estreita relação, contou Odebrecht, a empreiteira sempre apoiou as campanhas eleitorais de Lula. “Aliás, o nosso apoio financeiro se iniciou ainda quando ninguém o apoiava e não posso negar que fazíamos pagamentos em volumes consideráveis”, afirmou. Entretanto, segundo Emílio, a relação não se baseava apenas em apoio financeiro. Segundo o delator, um dos casos que exemplificam essa relação além dos pagamentos é o caso da “Carta aos Brasileiros”.
Datada de 22 de junho de 2002, a carta tinha como objetivo acalmar o mercado financeiro em relação a uma possível vitória de Lula das eleições presidenciais naquele ano. “Essa carta tem muita contribuição nossa. Nesse mesmo sentido, recordo-me, particularmente, que, em 2001 e 2002, organizei uma série de encontros com empresários de diversos setores para apresentar o ex-presidente e as suas ideias”, explicou.
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