- O Globo
Ninguém deveria usar politicamente os dados do mercado de trabalho, porque o desastre, que começou no governo Dilma, continua no atual. Há nuances que mostram que o negativo está ficando menor na ponta, mas o exército de desempregados permanece enorme. O governo Temer achava que conseguiria criação líquida de emprego formal em 2017, mas o país ainda está perdendo postos de trabalho.
Mesmo em anos bons, como 2010, houve queda de 408 mil empregos formais em dezembro. O mês é assim. Não foi diferente no dado de ontem. Entre contratados com carteira assinada e demitidos, o saldo foi de -328 mil. O ano terminou com 20 mil empregos perdidos. Mas 2016 havia encerrado com 1,3 milhão de vagas a menos no mercado formal, e em 2015 a queda foi de 1,5 milhão de postos.
O gráfico do Caged tem altos e baixos. O dado acumulado em doze meses mostra que o melhor momento, com 2,2 milhões de empregos criados, foi em outubro de 2010, no governo Lula. O pior momento, com destruição líquida de 1,8 milhão de empregos, foi em fevereiro de 2016, no governo Dilma. No palanque de 2018, o PT mostrará o bom número e esconderá o dado ruim. Lula, se lá estiver, vai se vangloriar, enquanto Dilma, ao seu lado, vai exibir o rosto do esquecimento.
Quem for defender o legado Temer — se alguém se atrever a isso em algum palanque — vai falar que a administração conseguiu deixar o pior para trás e que a reforma trabalhista vai criar emprego. A verdade é que o Brasil ainda tem 12 milhões de desempregados, e há sinais estranhos que podem ser atribuídos à reforma trabalhista: o segmento de educação, dentro do setor de serviços, demitiu em dezembro 60 mil pessoas. Não foi só a Estácio, como se vê. Haverá certamente um jogo de empurra no palanque, cada lado culpando o outro e prometendo alguma maravilha curativa. Ela não existe, o Brasil tem problemas antigos e novos no mercado de trabalho que precisam ser entendidos com uma visão atualizada de como funciona a economia em tempos digitais.
O futuro próximo pode trazer algumas boas novas, mas o Brasil precisa de muito mais no mercado de trabalho. Na semana que vem sairá o dado da PNAD, estatística mais completa do desemprego, com estimativa de pequena queda em dezembro para 11,8%. Para este ano, a projeção é melhor. O economista Thiago Xavier, da Tendências, acredita em forte criação de emprego em 2018.
— Caso nossa projeção de alta do PIB se confirme, de 2,8%, a estimativa é criação de 1 milhão de empregos formais, e ao todo, na PNAD (que conta também empregos informais), a taxa deve cair para 11% com criação de dois milhões de empregos — diz o economista.
Mesmo assim, o Brasil estará distante do que esteve recentemente. Ao fim do primeiro mandato de Dilma, o desemprego estava em 6,4%. A máquina de destruição de vagas funcionou incessantemente nos meses seguintes produzindo a crise da qual não saímos.
Haverá agora a repetição de um fenômeno sempre curioso. Quando o pessimismo em relação ao emprego diminui, mais pessoas procuram trabalho. E isso faz com que o número de empregados aumente, mas a taxa de desemprego não caia. De qualquer maneira, o que o país precisa é ter de volta o dinamismo perdido e um olhar para o futuro. A reforma trabalhista veio com o discurso de superar dificuldades estruturais do mercado de trabalho, mas apenas encaminhou algumas soluções para o temor de passivo trabalhista dos empregadores. É preciso muito mais para atualizar o mundo do trabalho no Brasil.
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