Não haverá saída fora da Constituição para Bolsonaro se livrar de inquéritos
Houve justificada estranheza quando a Procuradoria-Geral da República pediu apuração dos atos antidemocráticos que emergiram do esgoto do bolsonarismo radical. O procurador Augusto Aras, visto como filobolsonarista, deixou o presidente, frequentador de tais manifestações, fora do caso.
Por sua vez, o mandatário divulga que há um cerco comandado pelo Supremo Tribunal Federal contra si —quando o que existe, na realidade, é a necessária averiguação sobre eventual ilegalidade nos métodos do grupo que ascendeu ao poder pelas urnas de 2018.
No STF corre outra investigação espinhosa para o presidente, a das fake news, que nesta quarta-feira (17) obteve o respaldo da maioria dos ministros. A votação em plenário contribui para sanar problemas de origem do inquérito, instaurado por iniciativa do presidente da corte, ministro Dias Toffoli.
É uma grata surpresa o avanço da investigação comandada por Aras. Na segunda (15), foram detidos ativistas de uma falange direitista desvairada que ocupavam a Esplanada dos Ministérios com ameaças de uso de violência. No dia seguinte, 11 parlamentares tiveram o sigilo bancário quebrado.
A exposição do mecanismo de financiamento desses grupos se mostra um imperativo, ressalvado o cuidado de não criminalizar a liberdade de expressão no processo.
Como seria previsível, o presidente reagiu ao escrutínio da sua rede de apoiadores. De forma dúbia, seja por confusão própria ou para enganar terceiros, defendeu a Constituição e disse não poder “assistir calado enquanto direitos são violados e ideias são perseguidas”.
Nesta quarta, acrescentou que estaria próxima “a hora de colocar tudo em seu devido lugar”.O que de fato apavora Bolsonaro é a convergência de personagens nas duas investigações principais em curso. Uma apuração rigorosa tende a estabelecer sobreposições incômodas para o Planalto.
A delineação de um esquema orgânico de disseminação de mentiras e de pregação golpista pode apontar para financiamento ilegal de campanha, algo já objeto de análise no processo de cassação da chapa presidencial ora no Tribunal Superior Eleitoral.
Bolsonaro pode espernear o quanto quiser —é do jogo democrático. Mas ele e seus asseclas sabem que não há saída fora da Constituição. Não há golpe, não há artigo 142, não há bravatas da minoria não democrática dos militares.
O Legislativo, o Judiciário, os Executivos estaduais e municipais, o jornalismo profissional independente, a comunidade internacional e, principalmente, a sociedade civil brasileira, os tais 70% que não apoiam esse presidente impopular, não permitirão aventuras.
Nenhum comentário:
Postar um comentário