domingo, 11 de julho de 2021

Ricardo Noblat - Quem nega uma pandemia não se deixará abater por pesquisas

Blog do Noblat / Metrópoles

Bolsonaro e os seus demônios

O que o Jair Bolsonaro de fato pensa, só ele sabe. Os filhos podem até supor, os auxiliares de maior confiança apenas imaginam a partir do que escutam dele. Dão mesmo assim o desconto de que ele troca de ideias com espantosa frequência e caga para tudo.

Pela primeira vez no histórico de pesquisas do Datafolha, formou-se maioria favorável à abertura de processo de impeachment contra Bolsonaro – 54% a 42%. Em menos de seis meses, inverteu-se a situação apurada na pesquisa da penúltima semana de janeiro.

Sobre a capacidade do presidente de liderar o país, 63% responderam que ela não existe. Não votariam de jeito nenhum nele na eleição do ano que vem, são 59% dos consultados. A rejeição a outros nomes testados não ultrapassou a casa dos 37%.

Se a eleição fosse hoje, Lula teria no primeiro turno 21 pontos percentuais de votos a mais do que Bolsonaro. E no segundo turno, 27 pontos percentuais a mais. Ele seria derrotado no segundo turno por Ciro Gomes (PDT) e até mesmo por João Doria (PSDB).

Bolsonaro perderia entre os ricos, os remediados e os pobres. Entre os que têm renda familiar mensal de até R$ 2.200 (57% do eleitorado), 60% defendem o impeachment e 63% se recusam a votar nele. Perde entre os homens e perde entre as mulheres.

Sim, mas, e daí? Para quem foi capaz de negar a maior pandemia dos últimos 100 anos que só aqui já matou quase 533 mil pessoas, e de acreditar em imunidade de rebanho e drogas milagrosas, negar resultados de pesquisas é moleza. E Bolsonaro nega.

E não nega só para consumo externo dos seus devotos. Nega porque não acredita em pesquisas que o contrariam, tanto mais se divulgadas por veículos de comunicação comunistas. Tudo não passa de uma grande conspiração para derrubá-lo antes da hora.

O presidente vive em um mundo à parte que o faz acreditar sinceramente que o seu é o governo mais honesto da história. Se lhe chega alguma denúncia de corrupção, pergunta a algum assessor se ela procede, e se a resposta é negativa fica satisfeito.

Seus delírios podem ser delírios para os outros, para ele são a realidade. Se ele diz que é preciso destruir o sistema para depois construir um melhor é porque acredita de fato nisso. Não é retórica, cálculo, esperteza. É a cabeça de um homem tresloucado.

Com ele, ao que tudo indica, o país será obrigado a conviver até o último dos seus dias como presidente da República. Tomara que com isso aprenda alguma coisa.

Nenhum comentário: