Cúpula tucana quer se reunir com o ex-governador com o objetivo de demovê-lo do projeto presidencial
Eduardo Gonçalves, Bianca Gomes e Gustavo
Schmitt / O Globo
SÃO PAULO - Em reunião realizada na noite
desta terça-feira em Brasília, a maioria da Executiva Nacional do PSDB decidiu
fazer uma investida para tentar convencer o ex-governador de São Paulo João
Doria a abrir mão de sua pré-candidatura à Presidência da República pelo
partido. A cúpula da sigla vai chamar o correligionário para um encontro ainda
nesta quarta-feira com o objetivo de demovê-lo do projeto de disputar o Palácio
do Planalto.
O plano uniu o presidente da legenda, Bruno
Araújo, e o deputado mineiro Aécio Neves. Embora sejam contrários à candidatura
de Doria, ambos vinham trocando farpas públicas recentemente.
O nó que amarra Doria e grande parte do
PSDB passa pelo caminho a ser trilhado pelos partidos da chamada terceira via —
PSDB, MDB e Cidadania. As três siglas marcaram para hoje o anúncio do nome que
encabeçaria a chapa presidencial apoiada pelo grupo. Doria, porém, dá sinais de
que não está disposto a deixar o páreo para apoiar quem quer que seja, mesmo
que essa fosse a decisão da maioria do bloco. O ex-governador se fia no fato de
o PSDB ter aprovado em prévias o nome dele para representar o partido na
corrida pela Presidência.
Diante do impasse, então, a Executiva do partido resolveu agir. Para Bruno Araújo, não é possível “dar nenhum passo” em relação ao candidato único da terceira via sem um “diálogo interno” com Doria.
— Isso passa por um processo de diálogo e
construção em que ele (Doria) tenha também a percepção das dificuldade
políticas, mas também o poder político que ele tem como pré-candidato — disse
Araújo.
Em contraste ao tom cauteloso adotado pelo
presidente do partido, Aécio foi mais incisivo nas reais intenções da
“convocação” de amanhã. O deputado mineiro é inimigo político declarado de
Doria, que já trabalhou, sem sucesso, para expulsá-lo do PSDB.
— (Será) Uma convocação, mais do que um convite,
para ouvirmos o governador João Doria. E darmos a oportunidade a ele de ouvir a
realidade, que a sua candidatura traz prejuízos aos estados. Dar a ele a
oportunidade de sair desse processo. Eu tenho a expectativa ainda de um gesto
de desprendimento e grandeza do próprio governador — disse Aécio.
Anúncio adiado
Em outra frente de ação, os tucanos vão
trabalhar junto aos caciques de MDB e Cidadania para adiar o anúncio do
candidato único da terceira via.
— Não estamos na fase de avaliar qual
candidatura deve seguir. A percepção nossa é primeiro ter um diálogo com Doria.
E, com a participação dele, chegarmos a um entendimento definitivo que possa
unir parceiros como o MDB — justificou Bruno Araújo.
O GLOBO apurou que, ao saber do resultado
da reunião ocorrida em Brasília, Doria indicou a aliados que aceitaria se
sentar a portas fechadas com um quórum reduzido a dez correligionários: cinco
indicados por ele e outros cinco escalados por Araújo.
Antes de deliberar sobre o chamado ao
ex-governador para uma reunião, tanto o grupo de Araújo quanto o de Aécio
repudiaram a carta, divulgada nesta semana, em que Doria ameaça recorrer à
Justiça se não for lançado como candidato do PSDB após ganhar as primárias no
ano passado.
Mesmo apoiadores de Doria concordaram que a
referida carta, na qual ele se colocava como vítima de um “golpe” foi um
“equívoco”.
— Não se discute eleições juridicamente, mas
no diálogo, na política — disse o líder do PSDB no Senado, Izalci Lucas (DF).
Na reunião, o deputado Carlos Sampaio (PSDB-SP), que chefia o jurídico da sigla, também se posicionou contrário ao teor da carta. Tanto Sampaio como Izalci apoiaram a candidatura de Doria nas prévias do PSDB.
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