domingo, 3 de setembro de 2023

Celso Ming - PIB surpreende

O Estado de S. Paulo

O surpreendente avanço do PIB no segundo trimestre do ano, de 0,9% sobre o trimestre anterior, não dispensa festejos, como os proporcionados pelo governo, pela Bolsa e pelos analistas de mercado. No entanto, o mais importante agora é olhar estrada à frente.

As primeiras estimativas para o desempenho do setor produtivo no segundo semestre são de relativa estagnação. Fortes indicações dessa condição são a retração real da arrecadação do governo federal em julho, de 4,20% na comparação anual, e o grande endividamento das famílias, atenuado, mas não superado pelo Programa Desenrola.

Mas, se o comportamento da economia surpreendeu positivamente no segundo trimestre, pode também surpreender nos seguintes. Com base nos novos dados do IBGE, os técnicos do Ministério da Fazenda revisaram para cima as estimativas do PIB de 2023, de 2,0% para 2,5%, projeção que parece apressada.

O mais importante destaque é o desempenho do consumo, especialmente o das famílias, que aumentou 0,9%; o do governo, 0,7%; e as importações, outro indicador do consumo, saltaram 4,5%. São dados consistentes com a redução do desemprego, que vem se acentuando.

A contrapartida negativa do maior consumo é o comportamento insatisfatório do investimento, cujo nome técnico é Formação Bruta de Capital Fixo (0,1%). Como participação no PIB, a poupança caiu de 18,4% para 16,9%; e o investimento, de 18,3% para 17,2%, níveis mais baixos desde 2020. Esses números comprometem o futuro. Para que o País cresça cerca de 3,5% ao ano, é necessário que separe 22% do PIB para o investimento. Isso é como acontece em qualquer horta doméstica: quem semeia menos colhe menos.

Na ótica da produção, destaca-se o crescimento dos transportes (0,9%), em contraste com o ainda medíocre comportamento da indústria de transformação (0,3%) e do comércio (0,1%). Isso se explica pelo robusto escoamento das safras agrícolas recordes e pela força cada vez maior das entregas de mercadorias compradas via e-commerce.

A queda de 0,9% do setor agropecuário, depois de um esticão de 21% no primeiro trimestre do ano, é um dado sazonal, uma vez que a maior colheita de grãos acontece ao longo do primeiro trimestre.

O salto do setor extrativo, de 1,8%, tem a ver com o crescimento da produção de petróleo e de minério de ferro, resultado que poderá se acentuar nos trimestres seguintes.

Quanto ao futuro imediato, é preciso ver também como se comportará a economia mundial, principalmente as dos maiores destinatários das exportações do Brasil, Estados Unidos e China.

 

 

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