O Globo
Está claro que a economia brasileira passará
por forte aumento de carga tributária, já elevada
As compras em sites internacionais de bens
com valor abaixo de US$ 50, hoje isentas, passarão a pagar imposto de
importação no próximo ano. Não há decisão formal do governo, mas está claro que
será assim.
O vice-presidente Geraldo Alckmin disse que o
imposto seria “o próximo passo”, depois da formalização dessas compras e da
cobrança do ICMS, de 17%. Na Receita Federal já há estudos para definir a nova
alíquota, algo entre 15% e 25% sobre o preço “cheio”, incluído o ICMS.
Trata-se de compras feitas em sites de
companhias asiáticas, como Shein, Shopee e AliExpress,
que fazem a festa das classes médias. Saem bem mais baratas que no varejo
local. São as varejistas brasileiras que mais pressionam o governo e o
Congresso para a introdução do imposto sobre bens abaixo de R$ 250,
considerando o dólar a R$ 5.
Têm um bom argumento: a carga tributária sobre a produção e o comércio locais é muito alta. Segundo o Instituto Brasileiro de Planejamento Tributário, varia de 68% (alimentos) a incríveis 143% (eletrônicos). Numa blusinha de R$ 100, comprada em loja brasileira, R$ 50 vão para o governo.
São justamente as roupas femininas que têm
maior demanda nos sites asiáticos. Enquanto essas compras foram limitadas pelo
desconhecimento do consumidor e pela falta de estrutura, o assunto passava meio
batido. Com a popularização dos celulares (na maioria chineses, por sinal) e a
expansão da internet, as classes médias descobriram o paraíso.
E o governo descobriu mais uma possível fonte
de arrecadação. O ministro Fernando
Haddad sempre fala em igualdade de condições — e de competição
— entre importados e nacionais. Acolhe, assim, o argumento dos varejistas
brasileiros. Não se poderia buscar a isonomia pelo outro lado? Pela redução dos
impostos sobre o nacional? Isso deixaria felizes as classes médias e as
varejistas brasileiras. Imposto menor, preço menor, mais consumo, mais
faturamento.
Mas o governo, nas três instâncias, não vê aí
a menor graça. Todas estão em busca de receitas novas para cobrir gastos já
contratados. Estados do Sul e Sudeste anunciaram recentemente um aumento do
ICMS a partir de janeiro. Justificativa: cobrir perdas eventuais com a reforma
tributária, em votação no Congresso, cuja implantação levará uns dez anos.
No nível federal, os cálculos ainda são
incompletos, mas se estima que o governo precisará ter um ganho de arrecadação
em torno de R$ 150 bilhões para equilibrar as contas do ano que vem. É muito
dinheiro, 1,5% do PIB.
Segundo o ministro Haddad, não se trata de
aumento de carga tributária, mas de correção de injustiças fiscais e fechamento
de brechas na legislação que permitem às pessoas ricas e empresas grandonas
pagar menos que os pequenos e mais pobres. Taxar os super-ricos, como diz a
fala oficial.
Não é bem assim, mas vamos supor que a tese
esteja correta. Nesse caso, não seria mais justo ainda promover uma ampla
redução de impostos pagos pelos mais pobres? Por exemplo, no varejo local?
Como vimos, não está no horizonte.
Ao contrário, está claro que a economia
brasileira passará por forte aumento de carga tributária, já elevada. Pode
chamar de correção e fechamento de brechas, mas algo como R$ 150 bilhões, da
economia privada, passarão aos cofres do governo.
O sistema tributário brasileiro é considerado
o pior do mundo entre os países relevantes. O desastre foi armado
cuidadosamente anos a fio. Empresas em geral, indústria, comércio e serviços,
são excessivamente taxadas. Alíquotas efetivas do Imposto de Renda chegam perto
de 50% em alguns casos. Ao mesmo tempo, dada a complexidade do sistema, na
verdade uma enorme confusão irracional, as empresas tiveram de montar custosos
departamentos jurídicos para encontrar as tais brechas legais.
E caímos nisso, uma briga de abre e fecha
brechas. As novas cobranças certamente cairão nessa custosa malha jurídica. Mas
o governo começa ganhando. Conseguindo o que quer, vem aí uma quase derrama
fiscal. Deveria ser uma simplificação geral e alívio para empresas menores e os
mais pobres.
Um comentário:
Derrama senhor,derrama...
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