O Povo (CE)
A onda crítica atinge o modelo típico da
democracia que são os Estados Unidos. Ela se espalha nos estados nacionais
centrais e periféricos, fazendo brotar o medo de retorno de regimes de exceção
O termo desdemocratização ganha relevo no
debate acadêmico ao apontar para processos de corrosão da política:
enfraquecimento da participação cidadão e aumento da desigualdade social na
base da pirâmide, por um lado, e avanço do corporativismo, do mercantilismo e
do aumento da concentração de renda no topo da pirâmide do poder nacional, por
outro lado. A desdemocratização tem relação com a natureza do neoliberalismo
como padrão de poder que não tolera a participação social.
A onda da desdemocratização atinge o modelo típico da democracia que são os Estados Unidos. Ela se espalha nos estados nacionais centrais e periféricos, fazendo brotar o medo de retorno de regimes de exceção. As reações contra a participação popular são forjadas por forças conservadoras que buscam manter o monopólio da mídia e dos mecanismos de apropriação e distribuição de recursos produtivos.
A novidade trágica é que o avanço do
neoliberalismo como modelo de vida cultural estimula a violência nas esferas
primárias da vida pública como as ruas das cidades e os estádios de
futebol. Logo, as experiências coletivas do bem comum ficam fragilizadas. Em
paralelo, as instituições estatais e públicas são progressivamente invadidas
por esta lógica privatista, gerando fragmentação das solidariedades
institucionais e perda de motivação pela participação política.
A descrença na democracia
"possível" dificulta os movimentos sociais e enfraquece os esforços
de germinação da vida associativa. O mandonismo e o clientelismo se
espalham desde o poder central até o poder local. Há forças agindo para
inviabilizar a governabilidade e a democracia. O "Centrão" avança na
privatização do orçamento público pelas emendas parlamentares, naturalizando a
ilegalidade.
Os grandes empresários se jogam como abutres
na apropriação financeira e especulativa da riqueza nacional. O
excesso de acordos obscuros gerou esta situação anômala. O governo parecer ter
perdido de vista a meta do desenvolvimento com autonomia, aceitando administrar
o assistencialismo público aos mais pobres. Este clima lembra o contexto de
Crônica de uma morte anunciada de G.G. Marques.
*Professor da UFPE
Nenhum comentário:
Postar um comentário