Cesar Maia
DEU NA FOLHA DE S. PAULO
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OS JORNAIS argentinos -"Clarín" e "La Nación"- publicaram, em dois dias, artigos questionando as relações entre os EUA e a América do Sul, pró-Brasil, e contra a Argentina.
Dia 8 de julho, no "Clarín", ("Brasil, um aliado sui generis"), o professor Fabian Calle diz que a política externa interamericana EUA/ Brasil é apenas o desdobramento da estratégia do general Golbery do Couto e Silva durante o regime militar. Cita o recente informe "A Second Chance. US policy in the Americas" e afirma que os EUA, como potência mundial, têm o Brasil como "primus interpares" sulamericano. Lembra a reunião Obama-Lula em que ficou clara a imagem transmitida de Brasília como um poder brando.
"A visão de Golbery era o destino do Brasil como uma potência ocidental com estreitas ligações com Washington e com graus de manobra para consolidar sua hegemonia sulamericana e garantir aos EUA um status não desestabilizador." "O ponto era reforçar a hegemonia regional do Brasil sobre a Argentina", e conclui afirmando que, "em pleno século 21, a história das grandes potências não parece convalidar visões lineares de delegação".
Dois dias depois, no "La Nación", o professor Carlos Escudé vai mais longe. Diz que o Brasil nasceu com vantagem ao ficar independente sem crise. Mas que nos anos 1890 a Argentina o superou. Um trabalhador argentino trabalhava a metade de um belga ou alemão e um terço do italiano para comprar o mesmo.
Em 1937 o PIB per capita argentino era superior aos de Áustria e Finlândia, o dobro do italiano e o triplo do japonês. Nos dois casos, o Brasil não era sequer listado. No plano militar, em 1920, a Argentina mobilizaria imediatamente 379 mil homens e o Brasil, 136 mil. Isso valeria para toda a década de 30.
Escudé afirma que o ponto de inflexão foi a Segunda Guerra. Os EUA privilegiaram o Brasil. A neutralidade Argentina teria aberto uma política de sanções dos EUA. A Argentina teria sido privada dos insumos necessários a seu desenvolvimento industrial (departamento de Estado 1945: "essencial não permitir a expansão da indústria pesada na Argentina").
Cita Roosevelt em 1944: "Estou totalmente de acordo que deveríamos proceder duramente com a Argentina. Ao mesmo tempo, é essencial fortalecer o Brasil. Isso deve incluir armas e munições. "Por isso o Brasil emergiu como potencia regional." No final do artigo, Escudé alivia e diz que hoje as relações com o Brasil são de cooperação comercial, e não geopolíticas.
Artigos como esses, em meio à crise política argentina, devem prevenir os canais político-diplomáticos de forma a que nossa imprevisível América Latina não acorde surpreendida, mais uma vez.
Cesar Maia escreve aos sábados nesta coluna.
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