A boa notícia para o governo é que a turbulência com os partidos aliados logo passa. A má é que em breve estará de volta.
Tomemos o exemplo do PR: foi para a oposição no ano passado depois da queda de seu correligionário Alfredo Nascimento do Ministério dos Transportes, voltou a ser governista e há 48 horas é de novo oposicionista.
Por tempo indeterminado. Até que, segundo o senador Blairo Maggi, o Planalto entenda "que o PR é importante para a governabilidade". Ou seja, devolva a pasta dos Transportes ao partido. Providência de resto inevitável mais dia menos dia.
De idas e vindas tem sido marcada a trajetória de Dilma com sua base de apoio, cuja primeira crise de nervos explodiu antes mesmo da eleição: em agosto de 2010, a candidata oficial subindo firme nas pesquisas, o PMDB já reivindicava a divisão "meio a meio" do poder com o PT.
Acalmou-se e voltou à carga logo depois da posse. Mais precisamente na primeira semana de janeiro de 2011. Cobrava participação igualitária nas decisões de governo invocando a condição de "sócio da vitória".
Logo adiante, em maio, desabou de novo o temporal. Resultado de uma conjunção malsã de planetas: derrota na votação do Código Florestal na Câmara, reação às cartilhas anti-homofóbicas do Ministério da Educação, o escândalo que acabou com a saída do ministro Antonio Palocci da Casa Civil e consequente troca de comando no esquema de articulação política. Reclamação geral.
Dada a dimensão da trombada, o ex-presidente Lula baixou em Brasília para organizar a tropa, mas o fez de maneira tão explícita que evidenciou as falhas da presidente no setor.
Em seguida começaram a surgir denúncias sobre a conduta de ministros e a presidente foi obrigada a providenciar uma dita faxina que não resultou em mudança de paradigma no tocante ao loteamento, mas deixou muito clara a diferença entre os critérios aplicados às demissões de uns e preservação de outros.
À falta de arte, aprofundaram-se as contrariedades ao ponto de hoje incluírem boa parte do PT, que já começa a sinalizar disposição de, quando 2014 se aproximar, buscar alternativa a mais quatro anos de convivência com o sobressalto do chicote atrás da porta.
Capatazia. As insatisfações com as maneiras da presidente Dilma Rousseff não se limitam aos partidos. Estendem-se ao empresariado. Principalmente aos empresários integrantes da comitiva em viagens presidenciais. Reclamam que Dilma não conversa. Não troca impressões: simplesmente impõe suas posições não raro com acentuado desdém pelas razões de outrem.
Em família. No momento parece mais fácil o grupo do PMDB preterido por Dilma no Senado atrair o senador Eduardo Braga que o novo líder do governo na Casa conquistar adesões entre os independentes para o "lado" do Planalto.
A liderança é temporária. Como mesmo informou a presidente, agora em sistema de "rodízio" e, portanto, perecível, dependente de humores.
Já a convivência interna no partido é duradoura. Essencial para o exercício do mandato presente e a sobrevivência no futuro.
"Savoir-faire". Sociólogo, Fernando Henrique Cardoso chegou ao poder já compreendendo o funcionamento do ambiente social.
Na Presidência aprendeu a entender a mecânica do mundo político e certa vez resumiu assim uma das lições: "Se você tenta quebrar-lhes o pescoço, eles lhe quebram antes as pernas".
Falava a propósito das relações com o Congresso, dos conflitos permanentes, das dificuldades em mudar meios e modos, das reformas. Referia-se em particular ao embate para profissionalizar a Petrobras.
Queria dizer que não é impossível alterar procedimentos, mas que é preciso ir devagar com a louça para conseguir avançar.
FONTE: O ESTADO DE S. PAULO
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