Enquanto o PPS cobra abertura de investigação contra Lula, o DEM e o PSDB
preferem aguardar os próximos passos da Procuradoria Geral da República
Amanda Almeida
O novo depoimento do empresário Marcos Valério Fernandes de Souza, condenado
como o operador do mensalão, à Procuradoria Geral da República dividiu a
oposição. Enquanto o PPS anunciou que entrará com representação no órgão com
cobranças de investigação sobre o possível envolvimento do ex-presidente Luiz
Inácio Lula da Silva (PT) no esquema, o DEM informou que aguardará o
posicionamento da PGR sobre o assunto. Já o PSDB ainda estuda como reagirá às
declarações que teriam sido dadas por Valério. Ele também teria citado o nome
do ex-ministro Antonio Palocci.
O desencontro entre a oposição é tão grande que, depois de o PPS soltar
nota, na tarde de ontem, comunicando que entraria com a representação ao lado
do PSDB e do DEM, líderes das duas legendas negaram a informação. Segundo o
jornal O Estado de S. Paulo, Valério deu um depoimento voluntário ao
procurador-geral da República, Roberto Gurgel, no fim de setembro. O empresário
teria pedido para ser incluído no programa de proteção à testemunha e dito que
poderia fazer revelações sobre o esquema.
"A notícia é robusta e precisa ser investigada. Queremos saber qual é o
real envolvimento do ex-presidente Lula no mensalão", afirmou o presidente
do PPS, deputado federal Roberto Freire (SP). Na representação, o partido alega
que, apesar de a participação do ex-presidente ter sido descartada pela
investigação, as supostas declarações de Valério sobre Lula são fato novo,
sendo o ex-mandatário possível "verdadeiro chefe" do esquema.
O senador José Agripino Maia (RN), presidente do DEM, disse que a legenda
preferiu ser mais cautelosa e aguardará a atuação da PGR. "Para que vamos
entrar com uma representação se o Valério teria falado com um órgão
investigativo? Pressupõe-se que, se houve o depoimento, a Procuradoria Geral da
República irá tomar as providências cabíveis", disse.
Já o líder do PSDB na Câmara, deputado Bruno Araújo (PE), afirmou que não
havia conversado sobre o assunto com integrantes da executiva nacional do
partido, mas que também preferia aguardar. "Creio ser mais sensato esperar
que o procurador-geral da República explique o que irá ocorrer a respeito das
novas declarações", afirmou. Segundo a assessoria da Executiva nacional do
PSDB, a legenda ainda "estuda" o assunto.
Primeira reação
A oposição havia se organizado para encaminhar a representação à PGR no fim de
setembro, quando a revista Veja publicou reportagem sobre supostas declarações
de Valério a amigos, também envolvendo Lula no esquema. Acabou desistindo.
Segundo Freire, na época, a avaliação foi de que novas investigações poderiam
atrapalhar o julgamento do mensalão no Supremo Tribunal Federal. "Poderia
atrasar a análise. Mas, agora, os mensaleiros já estão condenados. Lamento se
os outros partidos desistiram, o PPS vai entrar com a representação."
De acordo com a revista, Lula se empenhava pessoalmente na obtenção de
dinheiro para a engrenagem do esquema e que o operador dos pagamentos não
passava de "boy de luxo". "Lula foi o principal beneficiário do
esquema do mensalão. Teria sido seu mandante também? É uma pergunta que todos
os brasileiros se fazem e que precisa de resposta", cobra Freire.
Fonte: Correio Braziliense
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