A confirmação de que a economia demora a reagir obriga o Planalto a só tratar de temas relevantes
Por mais que o presidente Bolsonaro tenha se esforçado para se esquivar de perguntas sobre o baixo desempenho da economia no ano passado, com a evolução do PIB se mantendo no nível decepcionante de 1%, a realidade de uma economia quase estagnada continua a existir e, cada vez mais, pressiona sua gestão.
A atitude que se espera do presidente é reagir à inércia que tomou conta do seu governo com respeito às reformas. Precisa reativá-las, uma resposta adequada à virtual estagnação da economia.
Isso requer o envolvimento direto do Palácio nas articulações com o Congresso, falha recorrente do governo Bolsonaro. O que faz aumentar as preocupações com o alheamento do presidente e as demonstrações de que não entende as suas funções.
Podia não ter encontrado a imprensa na quarta-feira, dia da divulgação do PIB de 1,1%, se não queria falar sobre o assunto.
Mas na porta do Alvorada decidiu ir ao encontro dos repórteres com uma performance debochada e desrespeitosa, em que um humorista com faixa presidencial saiu do carro oficial para oferecer bananas aos jornalistas. Transformou o Palácio em circo.
Bolsonaro constrói com eficiência a imagem de alguém que não está à altura do cargo. Mostra não entender a dimensão da agenda presidencial. Dela consta não apenas apressar as reformas, como também resistir a pressões que devem surgir para abandonar o ajuste fiscal, a fim de supostamente acelerar a retomada da economia com mais gastos públicos.
O presidente deveria fazer uma reflexão profunda sobre as razões para atrairmos tão pouco investimento externo. Concluirá que parte da explicação está na imprevisibilidade do seu comportamento, fator de aumento da percepção de risco pelo investidor. Um país em tensão política constante, devido ao seu presidente, não é atraente a investidores em grandes projetos de longa maturação, como os de que o Brasil necessita, principalmente na infraestrutura.
Em encontro com os movimentos Vem pra Rua e Brasil Livre (MBL), o ministro da Fazenda, Paulo Guedes, disse que o governo tem “15 semanas para salvar o Brasil”. Em referência à proximidade do calendário eleitoral, que paralisará o Congresso no segundo semestre.
Pode ter sido um exagero, mas é essencial de fato que Congresso e governo apressem os trabalhos pelo menos até o fim do semestre. A agenda está posta: além da reforma administrativa, ainda não enviada pelo governo, e a tributária, para a qual também falta a contribuição do Executivo, há PECs a aprovar também com urgência (a Emergencial e a dos Fundos Públicos).
Enquanto Bolsonaro perde tempo em patrocinar atos de desrespeito à imprensa, para animar uma plateia digital, há um expediente no Planalto à sua espera que não está sendo cumprido. O presidente precisa trabalhar, e para isso tem de desmontar o picadeiro eletrônico que armou à frente do Alvorada.
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