- Revista Veja
Partidos da base terão de se dividir para
eleger parlamentares
O Centrão e ex-integrantes do bloco como o
MDB e o DEM estão divididos em relação ao governo. A fragmentação é visível,
por exemplo, na CPI da Pandemia. O relator, Renan Calheiros, prócer do MDB, é
notadamente um oposicionista do presidente Jair Bolsonaro. Já os senadores
Fernando Bezerra e Eduardo Gomes, do mesmo partido, são os líderes do governo,
respectivamente, no Senado e no Congresso. Na Câmara, o MDB tem em Baleia
Rossi, presidente da sigla, um adversário de Bolsonaro.
No DEM, a divisão é semelhante. Marcos
Rogério, senador por Rondônia, é um dos maiores defensores do governo na CPI.
Já ACM Neto, presidente da sigla, alimenta um discurso de independência, ainda
que em seus quadros haja uma importante ministra, Tereza Cristina. O DEM terá
de decidir como e onde deve ser bolsonarista ou não.
No PSD, a situação começa a ficar mais clara. Um dos articuladores do governo, Fábio Faria, é do partido, mas está de saída, já que a legenda caminha para a independência. Como consequência, a sigla deverá, gradualmente, perder espaço no governo. PP, Republicanos e PL continuam firmes no barco bolsonarista. O PSL mantém um pé lá e outro cá nos botes da política.
À medida que a pré-campanha eleitoral for
esquentando, o Centrão deverá se dividir ainda mais. Sem coligação para
eleições legislativas, os partidos precisarão construir campanhas majoritárias
fortes. Legendas como o PSD deverão lançar candidato presidencial
independentemente da união do Centrão. Ou buscar alianças potencialmente
vencedoras nos estados.
“O que importa às legendas é ampliar as
suas bancadas e, a partir daí, negociar a relação com o governo”
A força dos partidos reside no tamanho de
suas bancadas. Assim, o que importa às legendas é ganhar espaço no Congresso e,
a partir daí, negociar a relação com o governo. Fundos eleitorais e partidários
estão relacionados ao tamanho das bancadas. O desempenho nas eleições
legislativas é, portanto, um fator essencial. Mas não só isso.
Alguns partidos do Centrão veem a
potencialidade da campanha “nem nem”: nem Bolsonaro nem Lula. O primeiro devido
às mortes na pandemia; o segundo por causa das questões inconclusas da
Lava-Jato e do ainda expressivo antipetismo. Nesse contexto, arriscar uma
candidatura presidencial pode ser uma boa aposta — vai que dá certo. Partidos
do Centrão e do centro político, como o PSDB, devem pensar seriamente em ter
candidaturas visando a fortalecer as suas estruturas no Congresso.
Outro aspecto é que os caciques jogam nas
fichas pretas e nas vermelhas do cassino eleitoral. Preocupam-se com a questão
nacional, mas se orientam pela manutenção da hegemonia estadual. Daí existir
histórica tendência de coligações majoritárias conflitantes. Tais
circunstâncias vão levar os partidos do Centrão ao mar, em busca da pescaria de
deputados e senadores. Voltarão ao porto — o Congresso — em 2023 com força para
continuar a impor o regime semipresidencialista em vigor no Brasil.
Seja quem for o próximo presidente,
negociar com o Centrão ou com pedaços dele será parte da construção da
governabilidade porque, mesmo com o fim das coligações legislativas e as
barreiras de desempenho, ainda teremos significativa fragmentação partidária.
Publicado em VEJA de 02 de junho de
2021, edição nº 2740
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