Folha de S. Paulo
Petista ajusta localização na arena
eleitoral de temas como regulação da mídia e Lava Jato
No início de seu segundo mandato, Lula
correu para esvaziar uma controvérsia criada no governo. O Ministério da Saúde
havia enfurecido grupos conservadores ao anunciar uma consulta
pública sobre a descriminalização do aborto. O presidente avisou que
não proporia mudanças na legislação e disse que o debate era responsabilidade
do Congresso.
A flexibilização da lei sobre a interrupção da gravidez era uma bandeira aprovada em discussões internas do PT, mas Lula fez uma manobra para evitar que o tema contaminasse a pauta política. Nas últimas semanas, o petista deu início a um movimento semelhante para reduzir o peso de outras bagagens que podem incomodá-lo na campanha de 2022.
Lula indicou que não pretende manter no
centro da arena a discussão da regulação da mídia. Depois de defender mudanças
na área em agosto ("eu vou regular os meios de comunicação"), o
petista agora afirma que essa é uma
tarefa do Congresso ("obviamente, isso não é uma coisa do
presidente da República").
O PT quer reduzir o foco sobre tópicos que
são tradicionais flancos de ataques rivais. A Lava Jato é um exemplo. Em defesa
de Lula, petistas ocuparam parte do debate público nos últimos anos com
críticas à operação. Em entrevista na sexta (8), o ex-presidente preferiu
deixar o assunto em segundo plano e disse que aquelas eram “coisas do passado”.
O ajuste cumpre três funções. A primeira é
deixar de revirar um assunto que desgasta a imagem do partido, mesmo com a
anulação das condenações de Lula. Além disso, o petista trata a Lava Jato como
caso encerrado para dizer que venceu nos tribunais. Ele tenta apontar ainda que
o tema não diz respeito às reais preocupações do povo mais pobre.
Petistas também querem jogar para o
canto a pauta conservadora que amarra segmentos evangélicos a
Jair Bolsonaro. Dirigentes afirmam que a agenda econômica será mais eficaz para
atrair o eleitorado religioso e falam até em limitar contatos com líderes das
igrejas para reduzir sua influência no debate eleitoral.
Nenhum comentário:
Postar um comentário