Folha de S. Paulo
Preços não sobem faz 53 dias, diesel subiu
lá fora e imposto menor não adiantou
Quando a Petrobras
aumentou o preço dos combustíveis, em 11 de março, houve revolta quase
geral, além de faniquitos e azáfamas hipócritas na política. Pouco depois,
seria aprovada uma lei
para mudar a cobrança do ICMS e o governo federal reduziria a zero o
PIS/Cofins sobre o diesel. No dia 28 de março, Jair
Bolsonaro demitiria o general Silva e Luna da presidência. Depois do fiasco
da nomeação de um substituto, José Mauro Coelho assumiu o comando da petroleira
em 14 de abril.
Eram grandes a agitação, a demagogia e a
besteirada.
O que aconteceu com o preço dos combustíveis? Nada. Quer dizer, não baixou. Bidu. Ficaram mais altos. A mexida nos impostos não deu em nada. A convulsão durou tanto quanto tretas de redes sociais.
O que pode acontecer ainda? Em tese, dada a
sua política, a Petrobras estaria para anunciar novo aumento. Talvez não o tenha
feito ainda porque o preço do dólar
tem variado de modo mais biruta do que de costume. Talvez o novo
presidente da petroleira queira estar com a cadeira mais quentinha antes de
começar a levar pauladas de Bolsonaro. Por outro lado, se não houver reajuste,
terá ficado claro que o governo tomou conta da empresa.
Os preços estão em níveis chocantes e, para
piorar o clima, o aumento do diesel tende a ser bem maior que o da gasolina,
outra vez.
Antes do reajuste de março, a Petrobras
manteve seus preços por 57 dias. Desde aquela paulada, está sem anunciar
aumentos faz 53 dias.
Desde então, o preço internacional de referência
do diesel aumentou quase 11% em dólares (da semana encerrada em 7 de março até
a semana encerrada em 2 de maio, segundo dados da Energy Information Agency dos
EUA).
Em reais, a alta foi de uns 8,5% —no caso
da gasolina, queda de quase 1%. Trata-se apenas de uma aproximação baseada na
taxa de câmbio do dólar comercial.
Nas contas de quem calcula a diferença do
preço da Petrobras para sua referência internacional, ora seria preciso
aumentar o diesel em cerca de uns 20% o da gasolina em uns 10%. Haverá revolta
e mais inflação.
Da semana anterior à do aumento da
Petrobras nas refinarias até a semana encerrada em 30 de abril, o preço do
diesel (S10) aumentou em média 19% nos postos brasileiros. O da gasolina, 10,7%
(dados da Agência Nacional do Petróleo, a ANP).
Em termos relativos, o diesel ficou ainda
mais caro do que a gasolina, considerado o reajuste a Petrobras em março, outro
fiasco de Bolsonaro. O aumento do diesel foi equivalente a 76% do reajuste da
Petrobras; o da gasolina, 57,2%.
O governo acusa os estados de fixarem uma
alíquota única nacional muito alta para os combustíveis, de cerca de R$ 1 por
litro (mas os estados ainda estão perdendo dinheiro, dado o que cobravam
antes). Pode ser. Mas quanto aumentou o diesel desde março? R$ 1 por litro, para
em média R$ 6,74 (mas o preço máximo no país estava em R$ 8, até o último
levantamento).
Ou seja, a fim de evitar o aumento do
diesel em apenas dois meses, os estados teriam de abrir mão da receita com o
combustível. Não é possível. Qualquer corte viável de impostos mexeria muito
pouco no preço de diesel e gasolina.
Enfim, discutiu-se alguma política maior a fim de evitar ao menos a variação excessiva do preço? Não. Políticos da esquerda à extrema direita fizeram chacrinha demagógica e incompetente com o assunto, o governo em particular, mas não há debate algum, como não há debate político sério sobre problema algum. O país está largado, à deriva, e as propagandas eleitorais são ainda mais idiotas do que sempre, considerado o desastre em que estamos metidos faz quase uma década.
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