O Estado de S. Paulo
O Copom vai repetir hoje o tom duríssimo do comunicado de sua última reunião?
Com o dólar chegando a ser negociado abaixo
de R$ 5, a inflação corrente em 12 meses desacelerando e a equipe econômica
obtendo vitórias na Justiça para aumentar a arrecadação tributária, uma dúvida
ainda paira no mercado: irá o Copom repetir hoje o tom duríssimo do comunicado
da sua última reunião?
Em março, ao manter os juros em 13,75%, o Copom avisou que iria conduzir a política monetária “necessária para o cumprimento das metas” e que iria perseverar até que se consolidasse não apenas o processo de desinflação, mas também a ancoragem das expectativas em torno de suas metas. E repetiu que “não hesitará em retomar o ciclo de ajuste caso o processo de desinflação não transcorra como esperado”.
Tamanha franqueza causou protestos do PT e
do presidente Lula, além de desconforto na equipe do ministro Fernando Haddad
com a postura do Banco Central. Mas, quando da última decisão do Copom, o dólar
estava ao redor de R$ 5,25 e o arcabouço fiscal ainda estava sob enorme
desconfiança do mercado, pois Haddad só havia apresentado um esboço. A dúvida
era se o governo iria conseguir entregar as metas ambiciosas de resultado
primário, uma vez que isso exigiria um aumento da receita tributária em R$ 150
bilhões.
De lá para cá, foram feitos alguns ajustes
à proposta inicial da regra fiscal que agradaram ao mercado. Também aumentou a
expectativa pela aprovação de um texto mais rígido pelo Congresso, que poderá
até incluir punições pelo não cumprimento das metas fiscais. Por sua vez, o
cenário externo desanuviou, com a aposta de que o aperto monetário nos Estados
Unidos está perto do fim. Com isso, o dólar caiu ante o real.
Então, por que o Copom não poderia fazer
mais um afago ao governo e suavizar a sinalização no comunicado sobre os
próximos passos da política monetária? Porque o controle da inflação está bem
mais longe do que os últimos números podem aparentar. No IPCA-15 de abril, a
alta em 12 meses foi de apenas 4,16%. Mas, quando se leva em conta a média dos
núcleos (que excluem os preços mais voláteis), a taxa está rodando em 7,5%. A
inflação anual de serviços, mais sensível à atividade econômica, está em 7,6%.
Já a meta de inflação para 2024, horizonte relevante para o BC, é de 3%.
Qualquer passo em falso agora poderá
pressionar as projeções de inflação, contaminando os índices de preços
correntes. Se suavizar o comunicado, alterando até mesmo poucas palavras, mas o
mercado julgar isso como prematuro, o Copom poderá sancionar a desancoragem das
expectativas. O BC ainda precisa falar grosso.
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