terça-feira, 9 de janeiro de 2024

Dora Kramer - Da boca para fora

Folha de S. Paulo

A pacificação não interessa à direita nem à esquerda porque não é eleitoralmente sexy

De verdade a direita nem a esquerda têm interesse na pacificação dos ânimos na política. Pelo simples fato de que a moderação não é eleitoralmente sexy. Políticos se movem ao ritmo da demanda dos que lhes dão votos e estes não se mostram inclinados a aderir à calmaria celebrada na teoria, mas na prática rejeitada.

As pesquisas comprovam. Em dezembro, o Datafolha mostrou que com erros e acertos, derrotas e vitórias de um lado e de outro, 90% dos eleitores de Luiz Inácio da Silva e de Jair Bolsonaro continuam apegados às escolhas de 2022.

Nesse universo, 30% declaram-se petistas convictos, 25% estão com Bolsonaro e não abrem, 10% se dizem mais próximos do petismo e 7% transitam na área de influência do bolsonarismo. Os ditos neutros, os menosprezados "isentões", somam 21%.

Como se vê, sobra pouco espaço à conciliação que, diga-se, não significa o abandono de convicções, mas disposição para ouvir, compreender, tomar decisões racionais e, sobretudo, não fazer do adversário um inimigo a ser dizimado.

Passado um ano da demonstração de unidade nacional no 8 de janeiro de 2023, o ambiente de harmonia democrática se desfez e assim ficou ao longo do período do fim do qual a cisão se expressou nas ausências do ato de ontem.

A intolerância dos oposicionistas foi diretamente proporcional ao sectarismo dos governistas e a intenção de reviver aquela união com caráter de adesão a um projeto político-eleitoral-partidário específico.

Nenhum dos dois lados dá chance ao centro que, desprovido de sex appeal em sua essência, tampouco faz a sua parte no esforço da conquista. Segue como sujeito oculto das vitórias e derrotas eleitorais.

Serve para decidir —Lula não teria vencido sem a ajuda dos chamados neutros, mas não tem tido força para caminhar com as próprias pernas.

Aos chefes das torcidas interessa mantê-las mobilizadas enquanto pregam a união de todos desde que seja em torno de si.

5 comentários:

Mais um amador disse...

Perfeito.

Anônimo disse...

Muito muito bom artigo; consegue ombrear com o artigo de ontem de Eliane Catanhede (quem não leu, podia passar mais lá embaixo e ler).

Então::
Com jornalistas sérios que o Brasil tem, como Dora Kramer, Merval Pereira, Vera Magalhães, Patrícia Campos Mello, Mirian Leitão e, mesmo com os limites ideológicos que muitas vezes complicam a leitura de seus artigos, o Demétrio Magnóli e o imenso preparo de sociólogo e especialista em geografia humana que ele tem...

...E o polo de lá prefere ler coisas como Rodrigo Constantino, Guilherme Fiúza e Augusto Nunes e o polo de cá prefere ler coisas como Kennedy Alencar, Milly Lacombe e Luiz Nacif.

Anônimo disse...

Com estes vieses de retórica extremista de direita de um dos polos e de retórica extremista de esquerda do outro polo, mas que os dois lados não passam de populismos, há preparo e maturidade que dê esperança a uma conciliação?

=■E como os "neutros" -eu, por exemplo- e os populistas do Lula vamos nos reconciliar com alguém que é miliciano, como Bolsonaro, e que bem pode ter sido um dos mandantes do assassinato de Mariele?
=》NÃO DÁ PARA FAZER ESSA CONCILIAÇÃO !

=■Ou como os "neutros" -eu, por exemplo- e os populistas do Bolsonaro vamos nos reconciliar com alguém que é corrupto, como Lula, e roubou $Bilhões de recursos públicos que deveriam ser aplicados em saúde, segurança e educação?
=》NÃO DÁ PARA FAZER ESSA CONCILIAÇÃO !

■■■O apelo à "verdadeira conciliação" que fazem é uma conversa fiada de apelar para que eu e os lulistas aceitemos nos reconciliar com um miliciano::
■Isso é IMPOSSIVEL !

■■■E do outro modo o apelo à "verdadeira conciliação" é fazer apelo para que eu e os bolsonaristas aceitemos nos reconciliar com um corrupto::
■Isso é IMPOSSÍVEL também!

■■■A situação é que hoje o Brasil, se eu for otimista, está dividido em 1/3 de populistas com retórica de direita, 1/3 de populistas com retórica de esquerda e 1/3 de não populistas.

A primeira coisa para a despolarização, para mim, é nós não populistas nos negarmos definitivamente a escolher um lado dos polos contra outro.

Qual diferença existe de fato em apoiar Bolsonaro e não Lula?

Temos que ter nome para disputar o 1° turno. Nem precisa que seja um nome perfeito.
■Se um candidato um pouco melhor não for para o 2° turno, temos que usar o voto branco, que é um voto tão legítimo que tem até uma tecla na urna eletrônica e é uma das maiores teclas.
=》ISSO MESMO:: se no 2° turno os dois candidatos forem de um dos polos, temos que ter coragem de usar a legítima tecla da urna e VOTAR EM BRANCO !

Anônimo disse...

■A verdade é que tudo o que os lulistas esperam é que Bolsonaro seja julgado, punido e vá para a cadeia;
■E do mesmo modo tudo o que os bolsonaristas esperam é que Lula cumpra a pena a que foi condenado por unanimidade, com o processo de condenação tendo tido sua constitucionalidade confirmada inteiramente pelo STF.

Ninguém que não seja bolsonarista consegue compreender o porquê de Bolsonaro não ter sido julgado até hoje; e ninguém que não srja lulista consegue compreender o porquê de Lula ter sido solto e estar impune.

ADEMAR AMANCIO disse...

Carácoles!