terça-feira, 2 de abril de 2024

Alvaro Costa e Silva - Caso Marielle altera xadrez eleitoral

Folha de S. Paulo

Eduardo Paes perde o elo com evangélicos

As revelações do caso Marielle fizeram mais estragos na campanha de reeleição de Eduardo Paes do que ele quer admitir. Obrigado a exonerar o substituto e o grupo de Chiquinho Brazão da Secretaria de Ação Comunitária, o prefeito vê o Republicanos, partido da Igreja Universal, indo em direção ao bolsonarista Alexandre Ramagem. O mesmo caminho deverá ser seguido pelo clã Brazão, que domina Jacarepaguá e outros bairros da populosa zona oeste.

Paes tem um plano calculado e arriscado: construir uma plataforma de centro-direita e ao mesmo tempo não perder o voto da esquerda. Sem alarde, aproximou-se do Republicanos, cujo nome forte no Rio é o deputado Marcelo Crivella, com quem rivalizou na disputa do segundo turno em 2020. A aliança foi costurada pelo prefeito de Belford Roxo, Waguinho, que esteve ao lado de Lula nas eleições presidenciais.

O prefeito mantém conversas com o bispo Abner Ferreira, da Assembleia de Deus em Madureira, para aumentar a base eleitoral na região, com o ex-prefeito Cesar Maia e com o ex-governador Garotinho. Até o raivoso pastor Silas Malafaia, amigo de Bolsonaro e inimigo do STF, olha com carinho a candidatura de Eduardo Paes —mesmo estando o delegado Ramagem, preferido do governador Cláudio Castro, na disputa.

O prefeito nega, para não dar munição a adversários, mas trabalha com a possibilidade de, eleito pela quarta vez, concorrer ao governo do estado em 2026. Por isso defende a chapa puro sangue com o deputado Pedro Paulo —que é uma extensão de Paes. Em 2016, o discípulo foi o escolhido para substituir o professor e perdeu, afetado pela revelação de que havia cometido violência doméstica contra a ex-mulher.

A presidente do PT, Gleisi Hoffmann, condiciona o apoio do partido à indicação do candidato a vice. Uma companheira de chapa com o perfil de Anielle Franco, a ministra da Igualdade Racial, é tudo o que Paes não deseja.

 

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